Cidades

Candidatos abusam de jingles e correm o risco de afugentar os eleitores

Para convencer os eleitores, os candidatos têm como ferramentas de campanhas os carros de som, que percorrem a cidade, divulgando seus jingles. Porém, alguns exageram na dose e acabam irritando mais do que deveriam. Quem trabalha ou mora em vias de maior fluxo não escapa da overdose. Há casos em que o carro de um candidato passa no mesmo local mais de dez vezes em uma hora. Como são muitos postulantes, o ouvido do eleitor e a paciência se enchem rapidamente. 
 
“Essas músicas são perturbadores, principalmente a letra, o som e o volume. Acredito que essa não seja a melhor alternativa para conquistar o eleitor. No meu ponto de vista a pior delas é a do Eduardo Soltur. Ela é insuportável”, declarou a jovem eleitora e atendente Geovana Silva, 16 anos, moradora do Jardim Santa Clara.
 
“Existem algumas músicas que são interessantes e até boas de serem ouvidas, mas outras nem de longe. Gosto do jingle do Jorge Wilson, tem a do Alan Neto que já é tradicional e a pior delas sem dúvida é a da Adriana Afonso. No meu entender elas acabam influenciando o eleitor porque ele fica com o número e o nome do candidato memorizados”, ressaltou o empresário Lima Sobrinho, 57, que reside no Jardim Maia.
A aposentada do bairro da Vila Galvão, Alice Lima, 63, afirmou que em nenhum momento este artifício foi instrumento de persuasão na definição de seu voto. “Não gosto das músicas de campanha e também acredito que não influenciam em nada. No meu entender isso nunca foi mecanismo capaz de conquistar o eleitor”.
 
“Música foi criada a partir da minha história”
 
Os candidatos defendem suas músicas como uma forma de se apresentar aos eleitores. Jorge Wilson, que disputa para deputado estadual pelo PRB, afirma que a composição foi criada com o objetivo de apresentar seus projetos e propostas de trabalho junto ao consumidor, enfatizada no refrão de seu jingle “É o xerife, é o xerife que Guarulhos vai votar”, uma alusão ao período em que atuou como diretor do Procon na cidade e apresentou programa de defesa do consumidor na TV Record. “A música foi produzida em cima da minha história como protetor do consumidor, principalmente pelos trabalhos realizados. E também formatado para facilitar a lembrança do eleitor quanto ao número e o cargo em disputa”, revelou o candidato.
 
Já o candidato a deputado federal pelo PV, Guti, preferiu adaptar em forma de paródia a canção I Feel Good, interpretada por James Brown, que na versão criada por ele próprio passou a ser consumida pelos eleitores da seguinte forma: “Vote no Guti, Sou Guti, Sou Guti…”. Para ele, o principal objetivo é sua apresentação como candidato. 
 
Mesma canção se repete em eleições diferentes
 
Há candidatos que repetem o mesmo jingles em diferentes campanhas, como ocorre com Alan Neto, que tenta para deputado estadual pelo DEM, mantém a mesma música desde 2000 e hoje é uma das mais conhecidas em Guarulhos, já que dá ênfase ao número que ele disputa. A canção foi criada pelo pai de Alan, Elízio Carlos. Segundo conta o autor, “já fez tanto sucesso” que já foi alvo de paródias e até plágio. Ele até fez questão de cantar um dos trechos mais significativos da música que diz assim: “Vote certo no Alan Neto, ele é o amigo certo para as horas certas. Vote certo no Alan Neto, honestidade e experiência, ele aprendeu com seu avô”.
 
“Foi uma composição construída a partir de um sonho que tive com o avô dele, tanto que no dia seguinte não pensei muito e fui até um estúdio para gravar e na ausência de um cantor coube a mim fazer a interpretação. O intuito é o de fixar os dados sem que tenha a mínima possibilidade de serem esquecidos”, destacou o aposentado, que durante várias campanhas fazia questão de percorrer a cidade em seu
próprio carro divulgando o jingle. 
 
O atual presidente da Câmara, Eduardo Soltur, também utiliza o mesmo jingle de campanhas passadas. “Eduardo Soltur é o ideal, quem trabalha Deus ajuda, Eduardo é federal”. Com a repetição, espera conquistar em primeiro lugar a confiança dos eleitores e consequentemente uma das cadeiras disponíveis no Congresso Nacional. Ele revelou que o jingle foi composto para sua 1ª campanha eleitoral em 1992 e que apenas faz adaptações para as demais.
 
Cientista político diz que músicas não são a melhor forma de atrair o eleitor
 
No entendimento do cientista político, professor Marcos Silva, a utilização de jingles não é a melhor alternativa para atrair o eleitor e conquistar votos. “A melhor forma é respeitar a lei para depois se firmarem como candidatos. São sempre os mesmos e por isso precisa de maior atuação partidária da juventude para que possamos ter mais rigor nos critérios”, afirmou.
 
A relação da música com a política, que tem como objetivo  facilitar a compreensão das informações  pela grande massa, foi registrada em 1789 durante a Revolução Francesa com o canto entoado da Marserllese. No Brasil teve papel importante durante o regime militar como uma das poucas formas de retratar o contexto social daquela época.
 
Mas os primeiros registros no país são datados do século 18. Começou em 1890 com a composição do primeiro hino nacional, atualmente Hino da Independência. Quando os políticos começaram a utilizar em campanhas, os jingles tinham entre 30 e 60 segundos de produção musical. Atualmente são aproximadamente 2 minutos de composições que procuraram retratar o objetivo do candidato em relação ao processo eleitoral.
 

 

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