Essa busca por votos dos evangélicos é explicada em parte pelo crescimento desse segmento ante as demais religiões. "A relação entre política e religião não é um fenômeno novo. Antigamente tínhamos a forte influência da Igreja Católica nas decisões políticas. Hoje em dia, os padres não têm o mesmo poder que tinham no passado e os grandes líderes evangélicos, desde Lutero, assumem esse poder", apontou o cientista político e docente do curso de Direito da Universidade Guarulhos (UnG), Marcos Antonio Silva.
Essa influência pode ser observada durante as eleições presidenciais em 2010, quando parte dos eleitores evangélicos que apoiavam a candidatura de Dilma Rousseff (PT) ficaram contra ela, devido às declarações favoráveis ao aborto pela então candidata a presidência, o que foi fator decisivo para levar a disputa para o segundo turno.
"Muitas vezes os candidatos usam a estrutura de convencimento dos líderes religiosos para fazerem com que os fiéis apóiem. É como se aquele candidato apoiasse os interesses da igreja e fosse o melhor para eles", ressaltou Silva.
Segundo o Censo, em uma década, entre 2000 e 2010, o total de católicos caiu de 73,6% para 64,6% em relação à população, ao mesmo tempo em que os evangélicos cresceram de 15,4% para 22,2%.
"Além disso, é importante lembrar que a bancada evangélica não se concentra em um só partido, mas sim em diversas legendas. Caberá avaliar como isso pode influenciar nas decisões políticas", ressaltou Silva.
Uma das formas encontradas por muitos vereadores em Guarulhos para se aproximar dos religiosos tem sido a concessão de título honorífico de cidadão guarulhense para os grandes líderes como foi o caso do projeto, de autoria do vereador Edmilson Souza (PT), que concedeu o beneficio ao líder da igreja Renascer em Cristo, Estevam Hernandes Filho alegando que os trabalhos da instituição são necessários e benéficos para Guarulhos.
Outro projeto, desta vez de autoria do presidente do Legislativo, Eduardo Soltur (PSD), tramita na Casa de Leis para conceder o título ao líder da Igreja Mundial do Poder de Deus, Valdemiro Santiago. No entanto, outros parlamentares já concederam a menção honrosa para religiosos como o padre Lázaro Nunes, através do projeto do vereador Jonas Dias (PT) e do padre Antonio Bosco da Silva, de autoria do ex-vereador Toninho Raimundo.
No entanto, para o vereador Novinho Brasil (PTN), muitos candidatos aproveitam esse período para usarem as religiões. "A palavra certa é usar. Muitos políticos quando chega o período eleitoral usam as igrejas para conseguir votos. Nessa época todo mundo quer ser amigo do pastor, do padre, do pai de santo, e procuram de alguma forma se identificar com algum segmento religioso", explica o vereador evangélico.
Segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), neste ano na disputa por uma cadeira no Legislativo municipal encontram-se 28 candidatos – entre presbíteros, pastores, irmãos, bispos e obreiros – que se utilizam do título religioso como forma de serem conhecidos pelo eleitorado. No entanto, o número é maior se pensarmos nos candidatos que buscam esse apoio mesmo não frequentando o local.
"Deve-se apoiar um candidato que tenha a identidade com a religião, mas lembrar-se que o vereador é para cidade e deve governar para todo mundo e não só para um segmento religioso", Novinho Brasil.