A volta das chuvas próximas à média histórica nos últimos meses fez o Sistema Cantareira receber neste ano o dobro do volume de água de 2014. Entraram cerca de 714 bilhões de litros nos reservatórios que formam o principal manancial paulista ao longo de 2015, o equivalente a 72% da capacidade do sistema, enquanto que o volume registrado no primeiro ano da crise hídrica foi de apenas 357 bilhões de litros.
Embora ainda seja metade do que é esperado anualmente nas represas (1,4 trilhão de litros), essa quantidade contribuiu para que o Cantareira conseguisse recuperar o volume morto do manancial, em uso há um ano e meio. A estimativa do governo Geraldo Alckmin (PSDB) é de que o sistema passe a operar no azul até o dia 30. Ontem, o manancial ainda operava com 21 bilhões de litros abaixo do nível zero operacional, quando a captação de água não pode mais ser feita por gravidade e necessita de bombas.
Somente neste mês, o Cantareira deve receber cerca de 141 bilhões de litros, volume equivalente ao que entrou nas represas durante seis meses (julho a dezembro) de 2014. Na média, tem chegado 52,7 mil litros por segundo aos reservatórios, a maior vazão desde março de 2013, quando entraram 53,5 mil l/s. Também é a primeira vez desde julho de 2012 que esse volume de entrada de água fica acima do esperado para o mês.
“Tudo indica que estamos voltando para uma normalidade climatológica”, disse nesta quarta-feira (23) o secretário paulista de Saneamento e Recursos Hídricos, Benedito Braga, ao anunciar regras mais rígidas para a concessão de descontos na conta dos clientes da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) que economizarem água.
Segundo climatologistas, as chuvas acima da média ocorrida nos últimos meses em São Paulo têm sido resultado de um fenômeno El Niño (aquecimento das águas do Oceano Pacífico) de alta intensidade. “Se tivermos uma situação de El Niño como em 1983, que foi atípico, onde tivemos as maiores enchentes no Sudeste em julho (mês tradicionalmente seco na região), os reservatórios voltam à normalidade no ano que vem”, disse o secretário.
Essa “normalidade climatológica” foi o principal argumento utilizado pela Agência Nacional de Águas (ANA), do governo federal, e pelo Departamento de Águas e Energia Elétrica (Daee), estadual, para liberar uma captação de água maior do Cantareira pela Sabesp neste mês. O limite máximo de retirada subiu de 13,5 mil l/s para 15 mil l/s. Caso o cenário continue favorável, a tendência é de que esse aumento da retirada de água seja prorrogado em 2016.
Segundo a Sabesp, o aumento da produção no Cantareira deve amenizar o racionamento de água feito para uma parcela das 5,2 milhões de pessoas abastecidas por esse sistema na Grande São Paulo por meio da redução da pressão e do fechamento manual da rede.
Essa prática, que ajuda a reduzir a perda de água por vazamentos na tubulação, é utilizada pela Sabesp desde 1997, mas foi intensificada no início da crise, em fevereiro de 2014. Em janeiro deste ano, quando o manancial beirava o colapso, com apenas 5% do estoque, incluindo as duas cotas do volume morto, o racionamento ficou ainda mais severo, deixando residências com água durante apenas quatro horas por dia.
Antes da crise, o Cantareira produzia mais de 31 mil l/s para atender cerca de 8,8 milhões de pessoas só na Grande São Paulo. Em Campinas, outras 5,5 milhões de pessoas dependem do manancial. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.