Variedades

Cantora americana China Moses se apresenta pela primeira vez no Brasil

China Moses, CANTORA E COMPOSITORA

China Moses já é conhecida como uma das estrelas do jazz contemporâneo. E cresceu ouvindo as divas – entre elas, a própria mãe, a icônica Dee Dee Bridgewater. A cantora e compositora norte-americana, de 38 anos, homenageou ainda tantas outras que fizeram parte de sua formação no soul, no jazz e no blues, nos discos This One Is For Dinah, dedicado à cantora Dinah Washington, em 2009, e Crazy Blues, em 2012, em tributo a grandes damas do blues e do soul, como Etta James, Nina Simone e Donna Summer. Para China, elas são mulheres fortes. “Não se privam por aquilo que a sociedade ditou a elas como mulher”, define a cantora, em entrevista, por e-mail, ao jornal O Estado de S. Paulo.

Também apresentadora de TV, China é filha ainda de outro nome de peso, o diretor de teatro, cinema e TV, Gilbert Moses, morto em 1995, um dos fundadores da companhia Free Southern Theater, pioneira no teatro afro-americano. Pai e mãe são duas referências artísticas fortes na vida da cantora. Nascida em Los Angeles, ela se criou em Paris, onde vive até hoje, e iniciou sua carreira na música muito jovem. Ela vem pela primeira vez ao Brasil, onde se apresenta nesta terça-feira, 9, no Bourbon Street.

Como sua mãe, Dee Dee, inspirou sua carreira?

Minha mãe me deu à luz, me criou, levou eu e minha irmã para outro país, quando éramos crianças. Ela me guiou, me mostrou a verdadeira vida de uma artista, uma mulher em um mundo de homens. Ela e meu pai perceberam meu talento criativo antes mesmo que fosse uma parte necessária da minha vida. Suas escolhas como mulher e mãe me mostraram a importância da força, fraqueza e convicção. Tenho orgulho de ser sua filha. É uma honra seguir seus passos, apesar que eu tive de encontrar meu próprio caminho.

É possível encontrar no YouTube uma apresentação de vocês duas em Viena. É um grande momento. Como você se sente quando se junta com sua mãe no palco para cantar?

A mesma como uma estudante com seu mestre. Mas, ao mesmo tempo, é estimulante ser capaz de compartilhar a paixão com seus pais. É uma ligação que ninguém pode tirar de nós. É uma emoção muito forte, muito comovente. Aprendo algo novo e ela me respeita como artista, compositora e mulher.

E qual a importância de seu pai em sua carreira?

Meu pai é (ela escreve assim, no presente) o único que disse que eu assinaria com a Virgin Records. Ele é o único que acreditava profundamente que sua menina era uma estrela. Ele me ensinou a importância da independência como uma mulher, como uma artista. Ele me mostrou que o processo criativo não é uma corrida, é um desafio de vontades, um teste de perseverança. E que você vai perder muitas vezes ao longo do caminho.

No início, você sentiu receio de começar a carreira de cantora por ser filha de Dee Dee e Gilbert Moses?

Não. Sou filha dos meus pais e também criança de muitos ancestrais musicais, influências misturadas junto com minha jornada pessoal. Por que eu deveria ter medo?

Como foi crescer nessa família de artistas? Você acompanhou sua mãe ou seu pai quando você era criança, nos bastidores?

Sim, e é um mundo maravilhoso… O mundo do backstage; cheio de normalidade e excentricidade constantemente colidindo. A disciplina e a insubmissa mente artística vivem juntas em uma harmonia fascinante. Era normal para mim. Trabalhar em um escritório é o mundo estranho para mim. Só sei arte. Viver por ela e morrer por ela. Tenho o privilégio…

Você assinou seu primeiro contrato com a Virgin Records France tão jovem, aos 15 anos. Como se sentiu naquele momento?

Como uma adolescente com medo, confusa, mas, ao mesmo tempo, eu achava que sabia tudo.

Como é o repertório de sua nova turnê, Breaking Point, que você trará ao Brasil?

Todas composições originais que escrevi e compus com um produtor britânico chamado Anthony Marshall (Craig David, Nelly Furtado). É meu testemunho. Em algum lugar entre jazz, soul, blues e gospel, com um pouco de funk. Cada música tem sua própria história. Criamos o projeto em 5 dias no meu apartamentos em Paris. Onze músicas em 5 dias! Gravamos com um trio maravilhoso em Londres em 6 dias (Luke Smith, piano; Jerry Brown, bateria; “Level” Nevel Malcolm, baixo elétrico). É a minha maneira de manter a tradição em 2016. E, depois de cantar standards por 7 anos, encontrei uma maneira de criar o meu som finalmente… Um EP já está disponível, Whatever.

Você ainda vive em Paris, certo? Após a série de ataques terroristas coordenados, em 2015, você teve medo de continuar vivendo em Paris?

O engenheiro de som e produtor da minha banda, Alarash, Pierre-Yves Guyomard, e sua mulher foram algumas das muitas vidas perdidas no Bataclan. Os ataques mudaram para sempre meu sentimento de humanidade. Como sempre, quando você testemunha o horror, a sua realidade é alterada para sempre. Mas isso me deu esperança e desejo de viver e criar mais. A humanidade é capaz de tamanha beleza. Eu escolho seguir isso… Nenhum lugar é seguro, na verdade. Este é o mundo que criamos. Temos de viver com isso. E há pessoas que fazem o bem em todos os lugares. Depende de onde você coloca o seu foco. Nossa diversidade é a nossa força, o nosso pote de ouro, devemos aprender a respeitá-la. Mas uma coisa é certa, nos meus olhos, não há diretrizes de estado ou crenças que devem ser usadas como desculpas para cometer o inimaginável.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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