O Brasil vem atraindo volumes expressivos de capital externo nos últimos meses, mas parte importante dos recursos é basicamente para aplicações de curto prazo no mercado financeiro. Mesmo com a sensível melhora do cenário doméstico, diante do andamento do ajuste fiscal, analistas ouvidos pela Agência Estado ressaltam que a falta da classificação de grau de investimento pelas agências de rating barra a entrada de mais recursos com perfil de longo prazo.
Com a classificação no grau especulativo pelas três principais agências, investidores mais conservadores, como grandes fundos de pensão e seguradoras, ficam impedidos em seus estatutos de aplicar no Brasil. As estatísticas retratam queda na participação de estrangeiros na renda fixa. Depois de atingir 20,8% do total em maio de 2015 – antes de o Brasil ser rebaixado pela Standard & Poors (S&P), em setembro de 2015 -, a fatia caiu para 14,22% em janeiro, mostra relatório do Bank of America Merrill Lynch. Na Bovespa, também houve uma queda, mas em ritmo menos intenso. A participação de estrangeiros, que era de 54% no início de 2016, está em 49% neste ano.
Cenário. “Se o Brasil recuperar o grau de investimento, terá condições de receber muito mais capital”, diz o economista para a América Latina da consultoria Pantheon Macroeconomics, Andres Abadia. Alguns investidores estão dispostos a aplicar no País, diz, mas são impedidos pela falta da classificação.
A recuperação do selo de bom pagador, porém, diz Abadia, vai levar algum tempo, porque é preciso avançar na agenda de reformas, fazer o Produto Interno Bruto (PIB) voltar a crescer de forma mais consistente e reduzir a incerteza política.
“Na nossa visão, deve demorar vários anos para o Brasil recuperar o grau de investimento”, afirmam os analistas do BofA, David Beker e Ana Madeira, em relatório. Mesmo com o ajuste fiscal em curso, a relação entre a dívida bruta e o PIB do Brasil, indicador de solvência de um país e um dos números mais importantes para as agências de risco, deve seguir em crescimento até 2022 ou 2023.
“A percepção sobre o risco Brasil teve melhora material”, diz Pablo Bréard, estrategista do Scotiabank. Por causa disso, o Credit Default Swap (CDS), uma espécie de seguro contra calotes, do Brasil caiu de 500 pontos para perto de 200 em 12 meses. Mesmo assim, o CDS brasileiro segue acima do de países classificados como grau de investimento, como México (135 pontos), Peru (100 pontos) e Colômbia (136 pontos).
Curto prazo. Os portfólios que traduzem o movimento de curto prazo mostram que o Brasil foi um dos mercados emergentes que mais receberam esse tipo de capital privado em 2016 para aplicações em renda fixa e na Bolsa. De acordo com dados do Instituto Internacional de Finanças (IIF), foram US$ 33 bilhões no ano passado.
A busca recente por retorno rápido no Brasil também faz da Bovespa uma das bolsas que mais sobem no mundo nos últimos 12 meses – alta de 47%.