No primeiro boom de estreias na Bolsa, em 2006 e 2007, quando mais de cem empresas fizeram suas ofertas de ações, o capital estrangeiro era a principal peça da engrenagem para permitir os IPOs (oferta iniciais de ações, na sigla em inglês). Na média, 70% do volume das emissões ficavam com esse grupo.
No entanto, com o amadurecimento do mercado brasileiro, a proporção se inverteu, com os locais assumindo esse papel, exatamente em um momento em que os estrangeiros estavam mais distantes do Brasil. Agora, a conta deverá novamente ficar mais equilibrada, caso a alta expectativa de retorno do capital internacional para o País se confirme ao longo de 2023.
Quem vem de fora, porém, é mais seletivo em seus investimentos e prefere fazer aportes em ofertas de grandes negócios. Por isso, a aposta é de que haja mais apetite de fora por ofertas que partam de US$ 300 milhões (ou seja, mais de R$ 1,5 bilhão) – montante que se restringe a negócios de grande porte por aqui.
O responsável global pelo banco de investimento do Itaú BBA no Brasil, Roderick Greenlees, afirma que o estrangeiro está com o "dedo no gatilho" para investir no Brasil, algo que ficou bastante evidente na oferta subsequente de ações do Assaí, na qual ficaram com metade da transação.
"A visão é de que o Banco Central brasileiro fez um excelente trabalho na contenção da inflação", diz. Os juros no Brasil subiram muito mais rapidamente do que em outros países para conter a alta dos preços ao consumidor, e a leitura é de que os cairão mais rapidamente do que em outras localidades.
O executivo do Itaú afirma que, depois de um ano sem estreias na B3, há uma demanda reprimida, tanto por emissões quanto por investidores, o que abrirá espaço para novas ofertas. Sua projeção é de que em 2023, diante de uma premissa de que haverá queda de juros no Brasil, haverá de 25 e 35 operações – sendo até 15 IPOs.
<b>CAUTELA</b>
O chefe do banco de investimento do Bradesco BBI, Felipe Thut, comenta que, no evento que a instituição financeira fez em Nova York em novembro, os investidores se mostravam muito mais otimistas com o Brasil após os resultados da eleição do que os próprios empresários locais. Segundo o executivo, o humor mudou mais recentemente diante de preocupações sobre os rumos para frente da economia brasileira.
Segundo ele, a retomada dos IPOs pode demorar mais do que o previsto. Ele liga esse retorno a uma maior visibilidade sobre o início do corte de juros no Brasil. "É difícil fazer projeções sobre volume de ofertas, mas 2023 será melhor do que 2022", comenta o executivo do Bradesco.
Para o corresponsável pelo banco de investimento do Bank of America no Brasil, Bruno Saraiva, os IPOs deverão ganhar espaço no mercado a partir do segundo semestre de 2023, momento em que se espera que os juros voltem a cair no País, algo que afeta diretamente a intenção de se investir em renda variável. Pelas projeções do Bank of America, o juro básico no Brasil, que hoje está em 13,75% ao ano, deverá fechar 2023 em 10,5% ao ano.
Há quem diga que, para que os IPOs de fato voltem a ser realizados por aqui, será preciso mais do que uma conjuntura favorável no Brasil – isso porque bancos centrais de vários países ainda estão em uma trajetória ascendente de juros. Ou seja, para o mercado de capitais ficar mais forte no Brasil, o cenário externo vai precisar ajudar.
"As ofertas devem começar a vir a mercado assim que houver maior visibilidade quanto a queda da taxa de juros nos Estados Unidos", afirma o presidente do Morgan Stanley para o Brasil, Fabio Medeiros.
<b>DÚVIDA</b>
O responsável do banco de investimento do Citi, Eduardo Miras, por outro lado, não está nem um pouco otimista com o retorno dos IPOs. Ao contrário dos demais colegas, Miras diz que não está enxergando investidores estrangeiros com o "dedo no gatilho" diante de incertezas políticas e econômicas no Brasil.
"Alguns meses atrás tínhamos a perspectiva de que o mercado reabriria para IPOs de forma seletiva, mas, pelo que temos visto, será extremamente desafiador."
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>