O ex-presidente Donald Trump abriu a porta para "a anarquia e corrupção" nos Estados Unidos e deve ser responsabilizado pelo ataque em 6 de janeiro de 2021, segundo o presidente da comissão de investigação do Congresso sobre o ataque ao Capitólio, Bennie Thompson. A comissão realizou a oitava audiência pública nesta quinta-feira, 21, a última prevista até setembro.
O democrata acusou Trump de tentar destruir as instituições democráticas. Ele acrescentou ainda que todos os responsáveis pelo ataque, mesmo na Casa Branca, terão que "prestar contas de suas ações na Justiça". "Isso terá sérias consequências, caso contrário, temo que nossa democracia não se recupere."
De acordo com os membros da comissão, Trump viveu "minuto a minuto" o dia 6 de janeiro de 2021, data em que o Capitólio foi invadido, e não fez nada para impedir os apoiadores de invadir o local. Ao contrário, o ex-presidente foi o responsável por convocar os seus eleitores a irem para Washington na data, dia em que o Congresso certificaria a vitória do rival Joe Biden nas eleições presidenciais.
Segundo as investigações, Trump ficou na sala de jantar privada da Casa Branca acompanhando o ataque pela televisão enquanto "conselheiros próximos e familiares imploravam para que ele interviesse". "O presidente Trump se recusou a agir por causa do desejo egoísta de se apegar ao poder", descreveu a congressista democrata Elaine Luria.
Durante todo o tempo que acompanhou a invasão, "nem uma vez ele pegou o telefone para ordenar que o seu governo" ajudasse a polícia, disse republicana Liz Cheney.
Antes disso, em um comício realizado por volta das 12h (horário de Washington), Trump pediu que os eleitores "lutassem como demônios" contra a suposta "fraude eleitoral". Após o discurso, a multidão seguiu ao Capitólio, e Trump retornou à Casa Branca – segundo outros depoimentos, de maneira forçada.
Os atos de violência no Capitólio duraram cerca de três horas. "Conheço a dor de vocês, mas precisam ir para casa agora", tweetou Trump no dia, encerrando a invasão.
<b>Recusa em agir</b>
Em mais um dia de audiências públicas, a comissão de investigação detalhou o que aconteceu entre o discurso na Casa Branca e o tweet no fim do dia. A transmissão aconteceu em um horário de audiência televisiva alta, na intenção de atingir um grande público.
Em um testemunho gravado, o ex-conselheiro da Casa Branca Pat Cipollone foi questionado sobre as ações de Trump no dia. Em todas relacionadas à possíveis ações que o então presidente poderia ter feito, com ligar para o procurador-geral ou secretário de defesa, Cipollone respondeu "não", indicando que nada foi feito.
As testemunhas ouvidas na sala pelos deputados foram Matthew Pottinger, vice-conselheiro de segurança nacional de Trump, e Sarah Matthews, vice-secretária de imprensa em sua Casa Branca. Ambos renunciaram no dia seguinte à invasão ao Capitólio.
"Se o presidente quisesse fazer uma declaração e se dirigir ao povo americano, ele poderia ter sido filmado quase imediatamente", afirmou Matthews. "Se ele quisesse fazer um discurso no Salão Oval, poderíamos ter reunido a equipe de imprensa da Casa Branca em poucos minutos."
<b>Mensagens apagadas</b>
O Departamento de Segurança Interna (DHS, na sigla em inglês) dos EUA abriu investigação para apurar o sumiço de mensagens de texto sobre a invasão do Capitólio dos arquivos do Serviço Secreto americano. A medida é um desdobramento da carta enviada pelo inspetor-geral do departamento de governo dos EUA, Joseph Cuffari, à comissão da Câmara na semana passada.
Segundo Cuffari, o conteúdo foi apagado durante a substituição de dispositivos eletrônicos, depois de ser solicitado por autoridades. Não se sabe se as mensagens foram deletadas intencionalmente, nem o teor, remetentes e destinatários. Os membros da comissão do Congresso afirmam que o material pode ajudar a esclarecer o papel de figuras públicas e manifestantes no episódio. (Com agências internacionais).