Algumas empresas brasileiras devem tentar colocar na rua novas operações de captação no mercado externo, após uma bem-sucedida emissão de US$ 2,25 bilhões pelo Tesouro brasileiro em títulos de dívida (bonds) de 10 anos, em operação concluída na quarta-feira. Há expectativas até de que uma oferta possa acontecer já a partir da semana que vem, apesar de variadas incertezas que ainda rondam o mercado.
A probabilidade está entre as companhias que costumam acessar esse mercado, têm risco de crédito mais baixo e alguns bancos que precisam renovar bonds que perderam eficiência na composição do índice de Basileia (regra que determina indicadores mínimos de capital que as instituições precisam manter em relação aos seus ativos).
"Há companhias que esperavam um sinal positivo neste mercado desde fevereiro, após a emissão da Braskem", disse o responsável pela área de dívida do Bradesco BBI, Rafael Garcia. Para ele, o sinal foi dado com a emissão do Tesouro, que teve demanda de até US$ 8,5 bilhões durante o processo de recolhimento de ordens. A alta demanda permitiu a redução no custo da operação e incentivou o Tesouro a elevar o volume da operação, originalmente prevista em US$ 1,5 bilhão. A taxa de remuneração ficou em 6,15%, bem abaixo da ideia proposta inicialmente, entre 6,50% a 6,625%.
Garcia lembrou que a captação de US$ 1 bilhão da Braskem chamou atenção de outras empresas brasileiras, mas as conversas logo cessaram por conta das incertezas quanto à intensidade de alta no juro norte-americano e possibilidade de recessão.
Um executivo que acompanhou a emissão do Tesouro de perto disse que há uma demanda reprimida para o Brasil e que a operação recebeu centenas de ordens, vindas de fundos especializados em mercados emergentes e fundos que investem em diversas regiões do mundo. O desempenho do novo bond brasileiro no mercado secundário deve ser um bom indicativo do tamanho desse apetite, na sua opinião.
<b>Fim do jejum</b>
O governo quebrou um jejum de quase dois anos sem qualquer oferta soberana de bonds e mostrou que há investidores dispostos a colocar recursos no Brasil, mesmo sem estar ainda claro o ciclo de aperto do juro nos EUA. Ou seja, parece haver um canal de irrigação para empresas brasileiras, em momento em que o custo de captação local está elevado demais.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que os estrangeiros estão mais otimistas sobre o Brasil do que os brasileiros. "O BC tem feito várias sinalizações de que as medidas divulgadas são consistentes. Depois do arcabouço divulgado, tivemos uma emissão de títulos em dólares para verificar o apetite estrangeiro sobre o Brasil. Pega os dados do que aconteceu e você vai ver que o spread caiu e que tivemos demanda três vezes superior à esperada", disse, em entrevista à BandNews. (COLABORARAM EDUARDO RODRIGUES e MARIANNA GUALTER)
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>