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Cara nova da Guarupass completa 4 anos com foco na desoneração do transporte

Neste mês de abril, o administrador de empresas Marcio Pacheco, de 43 anos, completa quatro anos à frente da diretoria da Guarupass. Pós-graduado em marketing e relação do trabalho, ele simboliza uma mudança na imagem da empresa, que nasceu em 1994 para unificar a venda de passes escolares e vales-transportes e que, até 2014, nunca pareceu se preocupar com a maneira com a qual era vista pela sociedade.
 
“O desejo de fazer essa mudança partiu do presidente [José Roberto Iasbek Felício], que é um dos empresários no transporte da cidade. Fazer a Guarupass ser enxergada como uma entidade em prol da população, dos interesses da mobilidade. E não apenas a representante das empresas de ônibus”, explicou Pacheco. “É um projeto de reestruturação da empresa que visa uma gestão de governança, compliance, entrega de soluções e modernização baseada na tecnologia”.
 
Nesta entrevista exclusiva, Pacheco defende um trabalho conjunto entre as empresas concessionárias e o poder público para que os investimentos baixem os custos do transporte. “Quanto mais caro for o sistema, menos poder de investimento teremos nós e o órgão gestor. Isso se reflete em tarifa mais cara. E tarifa cara não interessa a ninguém. Menos ainda ao usuário. Quanto mais acessível a tarifa, mais passageiros nós teremos”, aponta. Confira:
 
Por que a Guarupass, antes de sua chegada, tinha uma imagem tão diferente da atual?
É uma evolução natural. A Guarupass tem 23 anos. Ela tem uma história de sucesso na cidade. Nesse tempo todo ela se desenvolveu por vários caminhos. Quando ela foi criada, tinha o propósito de unir os interesses das companhias. Na época, cada uma comercializava individualmente seu próprio passe. Os passageiros tinham que comprar suas passagens em apenas três garagens, sendo passagens diferentes para cada empresa de ônibus. Não tinha praticidade alguma. E, em setembro de 1994, surgiu a Guarupass. Para deixar tudo mais prático com apenas um bilhete aceito em qualquer ônibus da cidade. Naquela época o passe era de papel. De lá prá cá foram aplicadas várias tecnologias, várias mudanças. Em 2002 iniciou-se o uso do cartão eletrônico. A Guarupass é pioneira neste tipo de solução. E foi uma das primeiras também ao implementar a venda do crédito pela internet.
 
Faz parte dessa mudança a separação do sindicato patronal da empresa. O Guaruset (Sindicato das Empresas de Transportes Urbanos e Metropolitanos de Passageiros de Guarulhos e Arujá) foi homologado em 2016. Agora, temos papeis bem claros aqui: a Guarupass é a gestora de crédito que serve de elo entre usuário, empresas e poder público; o Guaruset é o sindicato e cuida dessa parte ligada às empresas, funcionários, a questão laboral.
 
Qual foi o motivo principal para essa virada?
Eu trabalho no setor de transporte desde 1996, primeiro em um grupo específico por 10 anos. Depois, em Guarulhos, dentro das empresas operadoras, por quase 8. E, desde então, na Guarupass. O desejo de fazer essa mudança partiu do presidente, que é um dos empresários no transporte da cidade. Fazer a Guarupass ser enxergada como uma entidade em prol da população, dos interesses da mobilidade. E não apenas a representante das empresas de ônibus.
 
O nosso negócio é a mobilidade. Neste sentido, queremos que a Guarupass seja vista como uma empresa que se preocupa com a sociedade aonde está inserida. Nenhuma empresa de sucesso chega neste patamar deixando de se preocupar com o lado social.
 
O ônibus precisa ser visto como um agente transformador da sociedade, que clama por maior e melhor mobilidade. O ônibus precisa ser o propulsor dessa mudança. Não é só em Guarulhos. É no mundo todo. As pessoas precisam se locomover melhor nas cidades e quem priorizar a qualidade do transporte público sairá na frente. Guarulhos precisa de mobilidade e a Guarupass mudou para ser o agente que vai agir para que essa mobilidade aconteça da melhor forma. E nossa mudança foi pautada nesses princípios: gestão, transparência e comunicação bem feita. A Guarupass não quer se esconder. Muito pelo contrário. Ela quer mostrar o seu rosto. Nós fizemos uma mudança de identidade visual, da nossa logomarca, do nosso posicionamento. Nós falamos hoje com todas as mídias. Se somos questionados nós respondemos. Nós temos voz. Esse é o objetivo da Guarupass: falar abertamente com a sociedade e com o órgão gestor.
 
Qual é a avaliação que você faz dessa mudança de atitude?
É bastante positiva, mas nós temos muito o que fazer ainda. Estamos embrionários em muitas questões. Mas muitas delas não dependem apenas da Guarupass e das empresas de ônibus. Hoje temos na cidade cerca de 584 veículos operacionais, com uma média de 5 a 6 anos de utilização. São veículos novos. Em 2016 foram entregues 116 veículos 0km para a cidade. Entre eles, 20 articulados. E a cidade não tinha a menor condição de receber esse tipo de veículo. Foi necessário rever vários desníveis nas ruas para acomodar esses veículos. Mesmo assim, com muitas dificuldades. Os articulados deveriam ter faixas exclusivas, priorização de semáforos para agilizar as viagens. Essa situação precisa ser melhorada. Guarulhos depende de investimentos em infraestrutura. A melhora no sistema como um todo não é benéfica apenas para a população. É favorável também ao empresário e ao governo. Porque quanto maior for o trânsito, quanto mais demoradas forem as linhas, maiores são os custos do transporte. Nós pagamos hora extra, combustível. Então, se fizermos uma priorização do transporte, todos ganham. Hoje a nossa velocidade comercial é, em média, de aproximadamente 13 km/h. Em cidades que investem pesado em corredores e outras ferramentas de priorização do transporte público, essa velocidade média é de aproximadamente 25 km/h.
 
Então, não passa apenas pelo acesso ao crédito. Nem apenas pelas facilidades que a gente entrega com as novas tecnologias. Mas passa muito pela velocidade comercial. O passageiro quer ir e vir no tempo mais curto possível. E é isso que a gente não consegue entregar ao guarulhense hoje. Por conta do compartilhamento das vias com outros modais de transporte. Hoje temos dois terminais municipais e três metropolitanos na cidade. Sem um viário que priorize o transporte público, a ligação entre eles fica lenta. A qualidade no serviço depende de todos os atores envolvidos. Só assim faremos com que a imagem do transporte público perante a opinião pública seja de satisfação.
 
O poder público precisa agir junto?
Sem dúvida. Temos papeis muito bem definidos. Terminais, abrigos, viário, corredores, sinalização. Tudo isso é de responsabilidade do órgão gestor. Colocar nas ruas ônibus novos, limpos, seguros, com a manutenção em dia, colocar os operadores para trabalhar, entregar os créditos com tecnologia. Isso é 100% de responsabilidade das empresas. Trabalhar por um transporte público saudável tanto para o concessionário (que opera) quanto para o gestor público (que paga) é algo que precisa ser feito a quatro mãos.
 
Um exemplo de entrega de tecnologia que ajuda a todos é a biometria facial. Há dois anos entregamos essa solução em 100% da frota. É uma segurança para o usuário do cartão, para que ele não tenha seu cartão sendo usado de forma indevida por terceiros e, também, para que não onere os cofres públicos. É segurança para a Secretaria de Transportes e Trânsito ter certeza de que o que ela paga como subsídio às gratuidades e integrações está efetivamente sendo utilizado por quem de direito. Uma câmera instalada sob o validador fotografa os beneficiários de meia gratuidade e gratuidade integral, cartão escolar, cartão do professor, cartão especial, o bilhetinho, o idoso, sênior, pensionista. A central monitora quando há conflito e, neste momento, o cartão é bloqueado. Na primeira ocorrência o usuário tem um tempo para vir até aqui e desbloquear. No segundo bloqueio, o cartão fica suspenso por 30 dias. Na reincidência, a suspensão é de 60, 90 dias e perda definitiva.
 
Nós temos uma equipe especializada na questão das fraudes. Esse é mais um benefício direto para o gestor público, que é quem remunera os operadores. E, volto a dizer, onerar o sistema faz com que todos percam: gestor, empresas e usuários. Quanto mais caro for o sistema, menos poder de investimento teremos nós e o órgão gestor. Isso se reflete em tarifa mais cara. E tarifa cara não interessa a ninguém. Menos ainda ao usuário. Quanto mais acessível a tarifa, mais passageiros nós teremos.
 
Essas tecnologias foram entregues sem custos para o poder público?
Foram custeadas 100% pelas concessionárias do transporte público. Nós investimos muito na modernização dos veículos. Entregamos o aplicativo Citamob, há quase 3 anos, para pontuar o tempo de espera nos pontos de ônibus, nos terminais. Isso deu mais conforto aos usuários. Colocamos sinal de Wi-Fi. Hoje temos 64 veículos com essa tecnologia, além dos cinco terminais da cidade e aqui, na loja da Guarupass. O usuário faz um cadastro simples e gratuito e tem direito a usar durante uma hora em cada viagem (ida e volta). No dia 8 de março lançamos o botão do pânico, para combater a violência.
 
Fora isso, no ano passado nós reestruturamos toda a nossa loja. Era um desejo antigo dar condições melhores ao usuário que chega aqui e vai iniciar o relacionamento conosco. Hoje o usuário tem acesso a uma loja mais funcional e confortável. Mais acessível e agradável. Com colaboradores bem treinados para entender a necessidade de cada passageiro.
 
Nós também aumentamos nossos postos de venda. São mais de 100 espalhados pela cidade. Temos 24 ATMs (máquinas de autoatendimento) e estamos ampliando constantemente, buscando parcerias com shoppings, universidades, supermercados, redes de farmácia para entregar o acesso ao crédito eletrônico de forma mais ágil a todos os guarulhenses.
 
Além disso, temos feito também várias campanhas educacionais, sociais, no sentido de conscientizar os usuários sobre a importância do uso correto e cuidadoso do transporte e da consequência disso para a mobilidade urbana como um todo. Temos o projeto Escola na Garagem, que tanto nos orgulha. Estamos indo para o 7º ano. São mais de 30 mil crianças atendidas.
 

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