A Polícia Civil apreendeu mais de uma tonelada de cocaína em uma ação contra o crime organizado no litoral de São Paulo, onde a Operação Verão segue em atividade desde o fim do ano passado. Segundo informações da Secretaria de Segurança Pública do Estado, investigadores do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic) chegaram a uma casa do Jardim Progresso, em Guarujá, onde encontraram pouco mais de 1,2 tonelada de cocaína embalada e separada em 1,3 mil tijolos.
Uma mulher de 25 anos que estava no local foi presa e autuada por tráfico de drogas e associação ao tráfico.
De acordo com o departamento, o imóvel era um dos depósitos usados estrategicamente para viabilizar o transporte das drogas por meio dos canais até o Porto de Santos, onde, provavelmente, seria embarcado em navios.
O <b>Estadão</b> mostrou que o Primeiro Comando da Capital (PCC), maior facção criminosa do continente, tem escondido volume cada vez maior de cocaína em cascos de navios para driblar as autoridades. Os portos são a principal rota de saída do entorpecente rumo a África e Europa.
No último ano, 1,68 tonelada de cocaína foi apreendida em cascos de navios no Porto de Santos por mergulhadores militares, mais do que o triplo do que os 483 quilos interceptados em 2020, segundo balanço da Marinha.
Dados da Alfândega de Santos reunidos pelo Núcleo de Estudos da Violência da USP mostram como o tráfico submarino tem crescido. Em 2020, a proporção de droga achada em cascos de navios era de 2,3% do montante. Em 2023, só até agosto, a fatia saltou para 13,5%.
Segundo estimativas da SSP, nos mercados europeu e asiático, cada quilo da droga apreendida poderia chegar a custar de 80 a 90 mil dólares, com a carga total apreendida podendo chegar a meio bilhão de reais em lucro para os caixas do crime organizado.
O secretário da Segurança Pública, Guilherme Derrite, justificou a continuidade da Operação Verão diante do impacto contra a rede criminosa na região. "Essa é a prova do que estamos enfrentando no litoral de São Paulo: criminosos que, ao longo de décadas, estruturaram uma cadeia ilícita por meio do tráfico internacional de drogas e que, desta vez, estão sendo desarticulados".
<b>Letalidade registrada em operação motiva críticas</b>
A Ouvidoria de Polícia de São Paulo e a Ouvidoria Nacional dos Direitos Humanos, em conjunto com movimentos sociais, pediu à gestão Tarcísio de Freitas (Republicanos), do governo de São Paulo, o fim imediato da Operação Escudo/Verão, além de reparação financeira coletiva por supostas violações de direitos humanos cometidas pela PM na Baixada Santista.
As mortes cometidas por agentes das polícias Militar e Civil dobraram no começo deste ano no Estado de São Paulo. Foram 147 registros em janeiro e fevereiro, ante 74 casos contabilizados nos mesmos meses de 2023, segundo dados da Secretaria da Segurança Pública do Estado (SSP) reunidos pelo Instituto Sou da Paz.
Trata-se do maior patamar desde 2020. A Secretaria da Segurança Pública (SSP) disse, em nota, que as forças de segurança "são instituições legalistas que operam estritamente dentro de seu dever constitucional, seguindo protocolos operacionais rigorosos". A pasta disse ainda que "não tolerados excessos, indisciplina ou desvios de conduta".
As entidades pedem ainda o uso obrigatório de câmeras corporais e a criação de protocolos internos na SSP para prevenir o que chamam de "operações vingança" após a morte de policiais.
As recomendações fazem parte de relatório divulgado em audiência pública na segunda-feira, 25. O relatório foi entregue ao Ministério Público, que vai continuar as investigações sobre as operações. O Estado diz que ao menos 53 pessoas morreram em supostos confrontos com a polícia durante a ação, que também se estende ao longo deste mês e não tem data para acabar
O documento traz denúncias de supostas execução sumária, tortura, obstrução proposital das câmeras corporais, fraude processual com alteração de local de crime, modificação das cenas do crime, ameaças e intimidações em Guarujá, São Vicente, Santos e Cubatão.
"Não viemos falar mal da polícia. Não tem problema a polícia entrar no território. O que não queremos é que a polícia ataque as pessoas e tire o direito à cidadania", afirma Claudio Silva, ouvidor das Polícias do Estado.