Estadão

Carnaval em SP: megablocos de Maria Rita e Chico César estreiam

São Paulo convive com a expectativa de blocos e foliões pelo retorno do carnaval de rua oficial à cidade, quase três anos depois do início da pandemia. Além da volta de cortejos tradicionais, novas agremiações se preparam para tomar as ruas e avenidas paulistanas a partir de 11 de fevereiro. Como o restante da programação, os estreantes também repetem a diversidade da folia paulistana, com diferentes portes e propostas, daqueles voltados a algumas centenas de pessoas aos organizados para atrair multidões.

Ao menos 507 blocos estão confirmados pela Prefeitura, número que ainda pode sofrer alterações e que inclui 64 estreantes. Entre os novatos, os representantes que devem atrair o maior público são os megablocos Estado de Folia e Bloco da Maria, respectivamente liderados pelos cantores Chico César e Maria Rita.

Ambos os artistas já fizeram participações na folia paulistana, como no Acadêmicos do Baixo Augusta, no Bangalafumenga e no Jegue Elétrico, mas nunca tiveram desfiles próprios. As estreias estão marcadas para o pré-carnaval, nas imediações do Obelisco do Parque do Ibirapuera, na zona sul.

Entre os novos blocos, estão também aqueles que homenageiam grandes nomes da música brasileira. É o caso do Benjores, que prepara um desfile de estreia com 40 releituras de canções gravadas e compostas pelo cantor Jorge Ben Jor. Com bateria, guitarra, baixo e voz, o desfile terá versões para sucessos como País Tropical, A Banda do Zé Pretinho e Todo Dia Era Dia de Índio, conhecida na voz de Baby do Brasil.

"Tem versões nossas, até em pagode baiano", conta o bancário Bruno Carino, de 39 anos, um dos quatro idealizadores da agremiação. O bloco começou a ser organizado no começo da pandemia, logo após o carnaval de 2020, por meio de videoconferências. "A gente tinha a ideia, mas não tirava do papel."

Segundo Bruno, a ideia foi apresentado a Jorge Ben Jor há alguns meses, quando fez um show em São Paulo. "Ele achou curioso por ser em São Paulo", comenta. "Para a gente, foi uma realização, recebemos a benção."

O desfile será no Bairro do Limão, na zona norte paulistana. Pela localização e o dia escolhido, a segunda-feira de carnaval, a estimativa do grupo é de cerca de mil pessoas. "Bloco grande é legal, divertido, mas o pequeno é charmoso, a gente se diverte com os amigos, familiares, vai criança", compara.

Outro estreante é o CarnaVrah, criado por um grupo de amigos ligados a musicais e ao cinema e que começou a ser desenhado também em 2020. "A gente quer contribuir com o carnaval de São Paulo, com um bloco que junte artistas e pessoas que gostam de teatro", explica o ator e produtor Fernando Cabral, de 32 anos, um dos idealizadores. A proposta é tocar "música de carnaval", de axé music a hits da MPB.

Os organizadores têm experiência como foliões, mas pela primeira vez vão desfilar por uma agremiação. "O carnaval de São Paulo é sempre uma festa. Sinto que não só nos blocos, mas para todos os foliões, esteve meio represado. O primeiro depois desse lapso de quase três anos, vai ser muita alegria, é um momento muito esperado, também pelo pessoal da cidade", afirma.

Cabral descreve o CarnaVrah como um bloco inclusivo e LGBTI+. O nome (a parte do "vrah") traz uma referência ao barulho dos leques quando abertos durante performances de drag queens. Além disso, o cortejo será acompanhado por um corpo de baile e bandeiras da comunidade LGBTI+.

Outra característica é a realização de duas homenagens anualmente, para uma atriz e uma cantora. No ano de estreia, serão Gal Costa, pela contribuição à arte e história do Brasil, e Paula Capovilla, "uma artista muito generosa, talentosa e que estará com a gente", aponta Cabral.

O desfile será no Butantã, com expectativa para de mil a 2 mil pessoas. "O bloco é pequeno porque é o nosso primeiro. O tempo vai dizer se o bloco vai crescer. Se for aumentando a cada ano, será uma alegria imensa. Quem sabe, até possa se tornar um bloco tradicional", diz.

Já o Me Viram no Ipiranga vai desfilar em vias do entorno do Parque da Independência. O bloco foi criado há cerca de 10 meses por um grupo de amigos que tocam em outros blocos, incluindo uma moradora do tradicional bairro da zona sul paulistana, a farmacêutica Mirian Noguchi, de 37 anos, uma das idealizadoras.

As referências ao bairro estão não só no título (um trocadilho para o "Ouviram do Ipiranga" do hino nacional) como no símbolo do bloco: uma adaptação da imagem de D. Pedro I no quadro Independência ou Morte, de Pedro Américo, em que segura uma caneca de cerveja em vez de uma espada.

A ideia é que seja um bloco mais de bairro, sem a pretensão que de crescer, com umas 200 pessoas. "A gente resolver sair um pouco desse circuito de Pinheiros, Vila Madalena, e ir para um bairro mais tranquilo."

O desfile terá instrumentos de percussão, metais e corda, além de vocalista. A ideia é tocar sucesso das MPB, que estão sendo ensaiados periodicamente pelo grupo, todos com experiências de anos folia de rua em outros blocos. Somente Miriam, tem outros três desfiles na agenda deste carnaval. "Será um bloco clássico, com Jorge Ben, Tim Maia, Gonzaguinha, Luiz Gonzaga, Tim Maia, marchinhas", descreve.

Também estreante, o Bloco Feminista terá dois desfiles, um no centro expandido e outro no Grajaú, extremo sul paulistano. Esta será a primeira experiência no carnaval oficial, mas não nas ruas, pois a agremiação surgiu durante protestos contra o governo Jair Bolsonaro (PL), ao longo de 2021. "Buscávamos levar para os atos a música e a dança, os nossos corpos como expressão política", explica a assessora Carol Coltro, de 35 anos, uma das fundadoras.

No carnaval, a experiência será um pouco distinta, mas com a mesma essência. A bateria, as cantoras e o corpo de baile vão interpretar canções conhecidas da música brasileira, com temas que envolvem o feminino e a ancestralidade, como Mama África, sucesso na voz de Chico César, e Xibom Bombom, do grupo As Meninas. "São músicas populares. A gente quer que as pessoas curtam e cantem com a gente."

Segundo Carol, a expectativa é que o desfile da região central atrai de duas a três mil pessoas. A bateria tem mais de 100 pessoas, a maioria mulheres. Os homens são nossos aliados, entendem que o protagonismo do bloco é das mulheres."

A programação oficial do carnaval de rua neste ano será concentrada nos fins de semana de pré (11 e 12 de fevereiro) e pós-carnaval (25 e 26) e nos quatros dias da folia (18, 19, 20 e 21). O patrocínio será mais uma vez ligado à Ambev, de R$ 25,6 milhões. Antes dos desfiles, os blocos têm realizado festivais, shows e ensaios abertos.

<b>Veja o dia de desfiles de blocos que estreiam no carnaval de rua de São Paulo:

Estado de Folia (Chico César)
</b>
11 de fevereiro (sábado), às 12h, no entorno do Obelisco do Parque do Ibirapuera, na Avenida Pedro Álvares Cabral, no distrito Moema, na zona sul.

<b>Bloco da Maria
</b>
12 de fevereiro (domingo), às 11h, no entorno do Obelisco do Parque do Ibirapuera, na Avenida Pedro Álvares Cabral, no distrito Moema, na zona sul.

<b>Bloco Feminista
</b>
12 de fevereiro (domingo), às 13h, com saída da Rua Conselheiro Brotero, 590, no distrito Santa Cecília, na região central.

25 de fevereiro (sábado), às 14h, na Rua da União, no distrito Grajaú, na zona sul.

<b>Benjores</b>

20 de fevereiro (segunda-feira), às 13h, com saída da Rua Miguel Nelson Bechara, no Bairro do Limão, na zona norte.

<b>Carnavrah
</b>
18 de fevereiro (sábado), às 9h, com saída da Avenida Vital Brasil, 74, no Butantã, na zona oeste.

<b>Me Viram no Ipiranga
</b>
18 de fevereiro (sábado), às 10h, com saída da esquina das Ruas Bom Pastor e Patriotas, no distrito Ipiranga, na zona sul.

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