Mudou o modo de usar as palavras mudou, de inseri-las nas frases. Não só a ortografia. Porém, o que mudou mesmo foi o meio empregado para transmiti-las a um receptor que esteja distante. Antes, folhas de papel, caneta e tinteiro, material necessário à preparação das mensagens. As quais, prontas, eram levadas em viagens demoradas. Agora, pequenos aparelhos de telefonia celular, dotados de tecados, capazes de transmitirem instantaneamente os recados. Mudança espantosa. No entanto, o ato essencial da comunicação – o de usar o código verbal, com o apoio de algum meio, para se expressar – continua o mesmo.
Curioso é que as mensagens antigas, escritas em frágeis folhas de papel, às vezes sobrevivam por muito tempo. Inacreditáveis duzentos e quarenta e quatro anos, no caso da mensagem escrita, em Macapá, pelo engenheiro italiano Henrique Galluzi. No dia 14 de julho de 1768, ele informou o governador do Grão-Pará, Fernando Teive, sobre como evoluía a construção da gigantesca fortaleza de São José. Escreveu: “Apesar das chuvas, está a muralha da cortina da porta principal em um notável adiantamento porquanto se não omitiu meio nem aplicação para se dar princípio a ela, ainda quando o inverno era mais rigoroso. Agora, entra o favorável tempo de verão que convida para o maior progresso desta obra. A dita muralha toda e a metade das paredes dos subterrâneos, à direita da entrada, se acham em altura dos primeiros andaimes interiores – seis palmos por cima da linha horizontal ou terreno da Praça. E hoje dá-se princípio à outra metade. Pelo muito que visivelmente se adianta esta obra em um só dia em que os pedreiros trabalham, conhece-se quão grande é o seu atrasamento pelos mais dias que ficam sem poder trabalhar por falta de pedra. É muito necessário uma particular providência para que se não acabe neste ano a cal porque causaria um prejuízo notabilíssimo na presente ocasião, que requer mais dispêndio deste material”.
Galluzi morreu e teve seu corpo enterrado na própria fortaleza. Tornou-se nome de rua em Macapá. Mas sua mensagem, com ortografia original, ainda hoje qualquer pessoa pode ler, no papel empregado por ele. Basta apresentar um bom motivo ao Arquivo Público do Pará, em Belém, onde ela está guardada.