Mundo das Palavras

Carta para um pai roqueiro

Brenno Tardelli, editor de Justiça, na Carta Capital escreveu, em inglês, esta carta para Mick Jagger, traduzida pela própria revista:
"Caro Mick, vamos conversar. Luciana Gimenez está em campanha pela reforma da previdência social, que acabará com benefícios para milhões de brasileiros pobres. Ela é também apoiadora de Bolsonaro, um presidente com muitos episódios de racismo, machismo e homofobia.
 
O que você tem a ver com isso? Deixe-me responder com outra pergunta: você é um pai presente, Mick Jagger? Não preocupa sua mente que seu pequeno filho esteja sendo educado por uma perspectiva política machista? Eu prefiro acreditar que você não seria a favor disso. Então, por que você permite, sem oposição, que a família de seu garoto, no Brasil, passe uma mensagem contra trabalhadores, dirigida a milhões de pessoas, na televisão? Eu só posso imaginar que seja porque você não tenha conhecimento dessa situação. Pois não combina com a filosofia do rock, em minha humilde opinião. Eu não escrevo a você reforçando uma lógica machista. Ao contrário. Milhões de mulheres cuidam de seus filhos sozinhas nesse país. O que não é o caso da mãe do seu filho. Cujos apoios vão precarizar a vida de milhões de mulheres pobres. Penso que os homens também devem assumir a responsabilidade pela educação de seus filhos.
 
Em segundo lugar, você é muito amado no Brasil, há décadas. Os fãs brasileiros precisam de apoio, depois de darem tanto a você. Você se lembra dos shows do Rolling Stones no Brasil? Lembra da energia? O povo – que cantou suas músicas, com você -, agora, está na pior, com seus direitos sendo arrancados.
 
Eu sei que você é uma pessoa muito ocupada. Então, deixe-me ser breve: você já assistiu “Eu, Daniel Blake”? É um filme britânico, sobre a luta da população pobre, para conseguir Previdência Social, no Reino Unido. Mick, esse filme é um bom retrato para entender o que Bolsonaro está fazendo no Brasil, mas numa escala maior. Na presente reforma social, professores, trabalhadores rurais e mulheres vão sofrer sérios danos em seus direitos, enquanto os militares, não. Deixe-me dizer a você, Mick, que os militares no Brasil têm privilégios impensáveis para outras carreiras. Como pensão por toda a vida, correspondente à totalidade do salário antes recebido pelo pai, garantido a filhas órfãs, sem maridos.
 
Deixe-me explicar a você, também, que o Brasil teve uma horrível ditadura militar, por vinte anos, com tortura, morte e sequestro. Esse regime é honrado, até hoje, por Bolsonaro, um antigo capitão.
 
Se você for realmente rock, Mick Jagger, você, certamente, lutará contra isto. Sinto muito pelo meu inglês. Não é minha língua nativa. Melhores lembranças, Brenno".
 
(Ilustração: Mick Jagger, pintado pelo espanhol Alex Alemany, ligado ao movimento Realismo Mágico)

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