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Casa interditada em chuva anterior desaba e mata 3 em Petrópolis

A sentença que volta e meia teima em aparecer, a que diz que "essa era uma tragédia anunciada", encaixa-se bem para o deslizamento da casa que deixou pelo menos três dos cinco mortos das chuvas de domingo em Petrópolis, na região serrana do Rio de Janeiro. Localizada numa encosta na Rua Washington Luís, a residência de três andares já havia sido interditada pela Defesa Civil e ficava a pouco mais de cem metros do local onde um ônibus foi arrastado para dentro de um rio na enxurrada de fevereiro, que deixou 233 mortos e quatro desaparecidos.

A cidade ainda se recuperava da tempestade do mês passado, considerada a pior já registrada por lá, quando foi atingida por outra chuva intensa na tarde de domingo. Em fevereiro choveu 260 mm (o que era previsto para todo o mês) em quatro horas ininterruptas. No último domingo, foram 365 mm em dois episódios espaçados, às 15h e às 20h, o que ajudou a escoar parte da água. Ainda assim, muitas ruas do centro ficaram alagadas. A previsão é de que a chuva continue até amanhã.

<b>DESABAMENTO</b>

O imóvel que desabou tinha três andares, era pintado de amarelo e ocupado por seis pessoas, mas, segundo um vizinho, havia oito no local no início da noite de domingo, quando a chuva voltou forte. "Falei com o Antônio na hora que começou a chover. Perguntei: Antônio, como está aí em cima, você está monitorando?. Ele disse: Tô, tô, tá caindo água para caramba. Eu falei: tem de sair, bicho, está ficando muito estranho isso!", narrou o funcionário público Marcelo Barros, de 53 anos, ao <b>Estadão</b>.

Marcelo morava na casa imediatamente abaixo e deixou o imóvel no fim da tarde. Antônio, cujo sobrenome o vizinho não recorda, morava no 3º andar do imóvel que desabou.

Marcelo retornou à casa por volta das 21h, após receber uma imagem no celular que mostrava seu imóvel atingido pela residência do vizinho. "O Antônio foi resgatado com vida. Nós voltamos para cá, e logo em seguida chegaram os bombeiros. Ouvimos os gritos de socorro, eles correram para lá e conseguiram resgatá-lo. Parece que ele só quebrou a mão, mas estava em total estado de choque, gritando pela esposa", contou Marcelo.

Quem também estava na casa que foi soterrada era o professor de Filosofia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Mário Carvalho. "Ele veio ajudar a família que morava nesta casa", contou ontem a irmã, Isabel. "Ele veio visitar um amigo, e veio ajudar porque a mãe desse amigo tinha um problema de saúde, não conseguia se locomover. Quando veio essa chuva ele veio ajudar, para carregá-la."

Além de atuarem no deslizamento da casa na Rua Washington Luiz, os bombeiros retiraram duas vítimas no Alto da Serra, região mais atingida pelas chuvas de fevereiro. O casal estava em uma casa já condenada pela Defesa Civil. A morte da quinta vítima foi registrada na Rua Pinto Ferreira, no bairro de Valparaíso.

De acordo com Marcelo Barros, chuvas fortes com cheias do Rio Quitandinha têm sido comuns. "É muito comum chover, e é comum que o rio encha. Não é comum encher a ponto de você ficar intransitável neste trecho, e é muito raro acontecer isto que aconteceu. Em 12 anos, não tinha visto", afirmou o morador de Petrópolis. "Falta a presença da esfera pública na fiscalização, falta de manutenção no rio, na permissividade de você construir casa em alta inclinação, como era o caso da casa amarela, e o aquecimento global, que faz cada vez mais você ter essas chuvas torrenciais", opina o funcionário público.

<b>SIRENES</b>

Desde domingo, as sirenes que alertam para chuvas fortes têm tocado com insistência em diversos pontos de Petrópolis. Ao todo, a Defesa Civil atendeu 126 ocorrências até a tarde de ontem. Vinte carros que foram arrastados pelas chuvas foram recolhidos. Parte do comércio, em especial na região central e na Rua Teresa, foi mais uma vez invadida pelas águas.

O governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro, se reuniu com o prefeito Rubens Bomtempo para discutir formas de auxílio ao município. O governador afirmou que já liberou R$ 200 milhões para obras emergenciais na cidade. Segundo Castro, desde a noite de domingo 150 bombeiros já estão trabalhando em Petrópolis.

As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>

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