Se em uma exposição imersiva ou um museu o visitante passeia entre projeções e quadros, na Casacor a arte toma a forma de decoração. Quadros, sofás, tapetes e diversos estilos decorativos são elaborados por 99 arquitetos, paisagistas e designers de interiores que participam da 36.ª edição do evento.
Neste ano, a mostra leva o tema Corpo & Morada, exaltando o autocuidado e a introspecção da casa, uma consequência da pandemia, que soou o alerta para o fato de que o mundo continua clamando por cura, afeto, cuidado e atenção.
"Quando falamos de corpo, não estamos apenas nos referindo ao corpo físico, mas a algo no sentido de sermos todos um, de sermos todos humanos e, a partir disso, temos de olhar para os problemas delicados que dividimos: a cidade, a vida comunitária, a casa, o corpo, a alma e o espírito", esclarece Lívia Pedreira, que assina a curadoria da Casacor ao lado de Pedro Ariel Santana e Cristina Ferraz.
Esta edição, que ocupa 11 mil m² da parte superior do Conjunto Nacional, na Paulista, conta com 74 ambientes, divididos entre banheiros, quartos, lofts, lounges, salas e escritórios. Em cada um deles, um convite para o visitante viver mais no estilo Slow Living, uma proposta de vida mais leve.
O intuito, segundo os curadores, é criar a fusão entre o corpo do sujeito e a própria morada. "Eu me inspirei muito no abraço e como ele fez falta durante a reclusão social. Ele me remete a essas curvas, à fluidez das formas orgânicas do corpo e da casa. É algo que vai te abraçando e envolvendo", conta a arquiteta Cilene Lupi. Assim, vemos muitas curvas, formas orgânicas e integração de ambientes, agora mais aconchegantes com tapetes e almofadas.
Os tons terrosos também ganham espaço na decoração da casa pela referência à terra e à natureza, assim como os objetos de afeto pessoal, seja uma antiga máquina de escrever, quinquilharias que remetem a uma época boa ou simplesmente algo vintage. "A tendência é deixar cada vez mais perto essas memórias de família, do lugar de onde a gente veio. Um cobogó, um relógio, um piano, tudo isso tem um significado afetivo grande", explica Lívia.
<b>DIVERSIDADE</b>
Por isso, é indicado fazer o passeio com tempo. Não só pela quantidade de ambientes, mas também pela diversidade que há em cada um deles.
Muito além da estética da casa, o que transforma um espaço em moradia são os chamados "alimentos da alma". Arte, cultura, vivência. De acordo com o manifesto do tema escolhido, a casa passa a ser vista como lugar de subjetividade, permanência e conhecimento. Para isso nada melhor do que elementos que levem à introspecção.
Pela primeira vez, a Casacor tem uma galeria de arte, com curadoria de Cesar Prestes que, além das obras, traz também uma higienização mental para o visitante depois de tantas decorações. Outro espaço para essa pausa é a Floresta de Bolso, de Ricardo Cardim. Nela, o visitante entra em um bosque, mesmo estando no Conjunto Nacional.
<b>TOQUE</b>
Ao chegar a cada ambiente, logo surge o desejo de tocar no tecido da cortina, dos tapetes e até de descobrir do que é feito um objeto de arte. Muitos desses materiais são conhecidos: trapos reaproveitados, papelão, palha. O que também leva o visitante a perceber a importância da sustentabilidade. Um tijolo pode dar um ótimo artefato na parede ou uma antiga garrafa de azeite se transformar em um vaso.
Essa foi a premissa seguida pela arquiteta e ativista Ester Carro para o ambiente Motirõ. "Temos de pensar de que forma ajudar, contribuir, como reutilizar materiais", observa ela, que usa uma espécie de lona para fazer o jardim vertical e borras de café como tinta. O seu espaço, que alude ao trabalho em conjunto na língua tupi-guarani, é o primeiro voltado para moradia social na Casacor. "Fiz a releitura de soluções que os moradores de favelas encontram, como reaproveitamento de água, e também do uso de espaços pequenos. Ter um ambiente na Casacor é trazer um olhar educativo, com novas possibilidades. É mostrar como um layout bem pensado pode mudar a estrutura de uma casa", diz.
Outro ambiente com uma nova visão de casa é o espaço Casa do Ser, assinado pelo escritório ARQTAB e do arquiteto Maycon Fogliene. Com tecnologia, automatização e seguindo a premissa do Design Universal, que sustenta a ideia de projetos que possam ser usados pelo maior número de pessoas possível, montaram uma casa segura para pessoas com deficiência visual, auditiva e física.
"A ideia é promover a casa como um espaço em que a pessoa possa ser quem ela é, com suas limitações e possibilidades", conta a arquiteta Audrey Carolini. "Falar sobre diversidade na arquitetura é pensar a democratização dos espaços, é ter o ser humano como figura central do processo de criação do ambiente e planejar de pessoa para pessoa", complementa a arquiteta Thamires Mendes.
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>