Um duplo homicídio, dois suspeitos presos, cinco anos de investigações – quatro deles aparentemente sem nenhum avanço significativo. E muitas perguntas ainda por responder. O caso do assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL) e do motorista Anderson Gomes, metralhados em um carro no Estácio, bairro da região central carioca, na noite de 14 de março de 2018, desafia os investigadores. O motivo do crime, possivelmente político, e o seu mandante são os principais pontos a esclarecer no caso.
Uma pequena legião de suspeitos e teorias já passaram pelos autos da investigação conduzida pela Polícia Civil e pelo Ministério Público do Rio. Ao entrar em seu sexto ano, as apurações têm pouco a apresentar além dos ex-PMs Ronnie Lessa e Élcio Queiróz. Encarcerados preventivamente, eles negam ter participado do crime. Policiais e promotores, porém, alegam ter, contra ambos, provas suficientes para levá-los a júri popular. Falta responder a duas perguntas: quem e por que mandou eliminar Marielle Franco?
<b>Confira linha do tempo sobre o crime:</b>
<b>Março de 2018: duplo homicídio</b>
A vereadora do Rio de Janeiro Marielle Franco, eleita em 2016 com 40 mil votos, e seu motorista, Anderson Gomes, são executados à tiros por volta das 21h do dia 14 de março de 2018.
<b>Maio de 2018: primeiros suspeitos</b>
O vereador Marcello Siciliano (PHS) e Orlando Oliveira de Araújo, acusado de chefiar uma milícia, são investigados pelo crime. Siciliano chegou a ser preso, mas foi descartado como suspeito.
<b>Agosto de 2018: investigador substituído</b>
O procurador-geral de Justiça do Estado, Eduardo Gussem, informa que o promotor responsável pelo caso Marielle, Homero Freitas, seria substituído. Freitas foi promovido a procurador de Justiça.
<b>Outubro de 2018: primeiras pistas</b>
O Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) identificou o tipo físico do atirador que matou Marielle e Anderson e locais por onde o carro utilizado para o crime teria percorrido até a execução.
<b>Novembro de 2018: investigação investigada</b>
A PF começa a investigar uma organização de "agentes públicos e milicianos" que atuariam para obstruir a investigação. O pedido foi da procuradora-geral da República, Raquel Dodge.
<b>Novembro de 2018: políticos envolvidos</b>
O secretário de Segurança Pública do Rio, general Richard Nunes, afirma que a Polícia identificou envolvidos no crime, inclusive milicianos. O general disse crer na participação de políticos.
<b>Março de 2019: suspeitos presos</b>
A Polícia Civil e o Ministério Público prendem o PM reformado Ronnie Lessa, acusado de fuzilar Marielle e Anderson, e o ex-PM Élcio Queiroz, possível motorista do carro usado no crime.
<b>Março de 2019: armas apreendidas</b>
Policiais civis apreendem 117 fuzis modelo M-16 desmontados na casa de Alexandre Motta Souza, amigo de Ronnie Lessa. Foi a maior apreensão do gênero no Estado.
<b>Setembro de 2019: fraude processual</b>
Raquel Dodge apresenta denúncia de irregularidades na condução das investigações. Ela cita desvio das apurações com inserção de declarações falsas e fraude processual.
<b>Outubro de 2019: operação Submersus</b>
A Operação Submersus cumpre mandados de prisão contra Ronnie Lessa e mais quatro suspeitos. São acusados de obstrução de Justiça, porte de arma e associação criminosa.
<b>Março de 2020: júri popular</b>
Fica decidido que o policial militar reformado Ronnie Lessa e o ex-PM Élcio Queiróz serão levados a júri popular. A decisão é do juiz Gustavo Kalil, da 4ª Vara Criminal do Rio.
<b>Maio de 2020: federalização negada</b>
STJ nega, por unanimidade, a federalização do caso Marielle Franco. O pedido de federalização do caso fora feita pela então procuradora-geral da República, Raquel Dodge.
J<b>unho de 2020: bombeiro preso</b>
O cabo-bombeiro Maxwell Simões Correa é preso por atrapalhar as investigações. Um dia após as prisões de Lesa e Queiroz, Maxwell e outros ajudaram a ocultar armas de fogo de Lessa.
<b>Setembro de 2020: delegado novo</b>
O delegado Moisés Santana assume a Delegacia de Homicídios da capital e o caso no lugar de Daniel Rosa. Quando houve o crime, o titular da Homicídios era o delegado Giniton Lages.
<b>Março de 2021: investigações reestruturadas</b>
O MP do Rio anuncia a reestruturação nos Grupos de Atuação Especializada. Voltam à equipe que investiga o caso as promotoras Simone Sibílio e Letícia Emile.
<b>Julho de 2021: quarto delegado</b>
O delegado Henrique Damasceno é anunciado pela Polícia Civil como o novo titular da Delegacia de Homicídios (DH) da capital fluminense. A investigação chega ao seu quarto delegado.
<b>Julho de 2021: nova condenação</b>
A Justiça condena Ronnie Lessa e outros suspeitos por destruição de provas. Segundo o MPRJ, Lessa e os outros quatro condenados jogaram armas no mar da Barra da Tijuca.
<b>Agosto de 2022: Lessa condenado</b>
Ronnie Lessa é condenado a cinco anos de prisão por tentativa de tráfico internacional de armas. Lessa começaria a cumprir a pena já em regime fechado, se sentença e a preventiva fossem mantidas.
<b>Agosto de 2022: condenação mantida</b>
A condenação de Ronnie Lessa a cinco anos de prisão por tráfico internacional de armas é mantida. Lessa começa a cumprir a pena já em regime fechado e a prisão preventiva desse caso foi mantida.
<b>Janeiro de 2023: procurador reconduzido</b>
O governador do Rio, Cláudio Castro (PL), decide reconduzir Luciano Mattos para novo mandato à frente do MP estadual. Castro escolhe o segundo da lista tríplice votada pela corporação.
<b>Fevereiro de 2023: investigação federal</b>
Após requisição do novo ministro da Justiça, Flávio Dino, a PF abre inquérito para apurar o assassinato de Marielle e Anderson. A nova apuração foi negociada com o MP do Rio.