A Polícia Federal (PF) prendeu na quinta-feira, 9, dois novos suspeitos de envolvimento no assassinato da vereadora Marielle Franco. Robson Calixto da Fonseca, conhecido como "Peixe", é ex-assessor do Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro (TCE-RJ) e trabalhava no gabinete do conselheiro Domingos Brazão. O segundo suspeito é o policial militar Ronald Alves de Paula, o "Major Ronald", apontado como ex-chefe da milícia da Muzema, na zona oeste do Rio. Ele já cumpria pena por homicídio e ocultação de cadáver em presídio federal em Campo Grande (MS).
A investigação da morte da vereadora do Rio de Janeiro revelou detalhes do funcionamento de uma rede de autoridades públicas por trás do crime praticado em 2018. Os envolvidos são integrantes da Câmara dos Deputados, da Polícia Civil, da Polícia Militar e do Tribunal de Contas.
Desde que o caso começou a ser apurado, sete pessoas foram presas por envolvimento no planejamento, execução e auxílio operacional para a execução de Marielle, além de Robson e Ronald. O conselheiro do TCE Domingos Brazão e o irmão dele, o deputado Chiquinho Brazão, o delegado Rivaldo Barbosa, os ex-policiais militares Ronnie Lessa e Élcio Queiroz, o ex-bombeiro Maxwell Simões Correa, conhecido como "Suel", e o mecânico Edilson Barbosa dos Santos, conhecido como "Orelha", aguardam uma sentença na prisão.
A PF concluiu, em 24 de março deste ano, a principal etapa da investigação sobre o assassinato de Marielle e do motorista Anderson Gomes. A Procuradoria-Geral da República (PGR) denunciou os irmãos Brazão e o ex-chefe da Polícia Civil do Rio, Rivaldo Barbosa, pelo assassinato de Marielle. Todos estão presos preventivamente desde março.
A execução da vereadora teria sido motivada pela exploração imobiliária em áreas dominadas pela milícia, especialmente em comunidades em Jacarepaguá, na zona oeste do Rio.
A denúncia foi apresentada na terça-feira, 7, ao Supremo Tribunal Federal (STF), pouco mais de um mês após a Polícia Federal entregar o relatório final da investigação. O relator do caso é o ministro Alexandre de Moraes, que agora precisa analisar as acusações e decidir se abre uma ação penal.
Veja quem foi preso por envolvimento no crime e quais as acusações contra eles:
<b>Robson Calixto, o Peixe</b>
Foi assessor de Domingos Brazão na Assembleia Legislativa do Rio e atuava como auxiliar dele no Tribunal de Contas. A investigação aponta que ele "funcionou como intermediário das conexões entre os executores dos delitos e os respectivos mandantes". Ele já havia sido alvo de medidas cautelares, como a proibição de manter contato com investigados e a obrigação de usar tornozeleira eletrônica.
<b>Ronald Alves de Paula, o Major Ronald</b>
Apontado como ex-chefe da milícia da Muzema, na zona oeste do Rio, Ronald Alves já cumpria pena por homicídio e ocultação de cadáver em presídio federal em Campo Grande (MS). O major da Polícia Militar foi condenado por organização criminosa, no dia 22 de outubro de 2021, a 17 anos e seis meses de prisão e 875 dias-multa.
Ronald foi preso durante a operação "Intocáveis" em janeiro de 2019. O major foi denunciado pelo Grupo de Atuação Especial no Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público do Rio de Janeiro.
<b>Ronnie Lessa</b>
Ex-sargento da PM do Rio de Janeiro, está preso desde março de 2019 por ser o principal suspeito de executar o crime. Ele fez acordo de colaboração premiada e confessou ter puxado o gatilho. A delação foi homologada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) no dia 19 de março deste ano. Ele morava no condomínio Vivendas da Barra, na Barra da Tijuca. Considerado um exímio atirador, ele se envolveu com a contravenção do Rio, atuava como segurança de bicheiros e prestava serviços como matador de aluguel, segundo a polícia.
<b>Élcio de Queiroz</b>
Ex-PM do Rio, foi o primeiro envolvido no duplo homicídio a assumir a coparticipação no crime. Ele foi expulso da polícia nos idos de 2015 por fazer a segurança ilegal em uma casa de jogos de azar e depois se dedicou a tarefas à margem da lei. Depois de quatro anos preso, Queiroz decidiu falar. Em delação, confessou ter participado de todo o planejamento do crime e de ter dirigido o carro para Ronnie Lessa fazer os disparos.
<b>Chiquinho Brazão</b>
Foi vereador do Rio de Janeiro por quatro mandatos. No último, dividia o plenário da Câmara Municipal com Marielle Franco. Foi eleito deputado federal em 2018 e reeleito em 2022. Em outubro de 2023, licenciou-se para tomar posse como secretário especial de Ação Comunitária da prefeitura do Rio, na gestão do prefeito Eduardo Paes. A nomeação dele foi consequência de um acordo partidário. A passagem foi curta e terminou em fevereiro deste ano.
Segundo a PF, Chiquinho é um dos mandantes do crime e tinha vínculo com milicianos da zona oeste do Rio que tinham interesse na grilagem de terras para fins comerciais. O grupo da vereadora Marielle Franco se opunha à proposta e buscava dar finalidade social às áreas em disputa. No mesmo dia da prisão, em 24 de março, foi expulso do União Brasil.
<b>Domingos Brazão</b>
Irmão de Chiquinho Brazão, atualmente é conselheiro do Tribunal de Contas do Rio de Janeiro. Tem uma longa trajetória na política fluminense, sempre com forte influência na zona oeste do Rio.
Domingos e Chiquinho são apontados como mentores do crime, ao lado do delegado Rivaldo Barbosa. As investigações que resultaram na prisão do conselheiro apontaram "diversos indícios" do envolvimento dos dois irmãos, "em especial de Domingos", com "atividades criminosas, incluindo-se nesse diapasão as relacionadas com milícias e grilagem de terras".
No decorrer do inquérito, a polícia apontou que ações no sentido de "criar obstáculos à regular tramitação da elucidação dos fatos".
Domingos Brazão conseguiu o primeiro mandato de vereador em 1996. Em 1999, foi eleito deputado estadual pela primeira vez e acumulou mandatos até 2015, quando foi escolhido pelos demais deputados para a cadeira de conselheiro do TCE, um cargo vitalício. A nomeação dele foi feita pelo então governador Luiz Fernando Pezão.
<b>Rivaldo Barbosa</b>
Delegado, assumiu a chefia da Polícia Civil do Rio na véspera do crime. No dia seguinte, recebeu as famílias das vítimas, solidarizou-se com elas e afirmou que solucionar o caso seria "questão de honra".
Segundo o inquérito, ele planejou o crime e depois atuou para atrapalhar as investigações. "O crime foi idealizado pelos dois irmãos (Chiquinho e Domingos) e meticulosamente planejado por Rivaldo", diz o relatório. "Apesar de não ter o idealizado, ele foi o responsável por ter o controle do domínio final do fato, ao ter total ingerência sobre as mazelas inerentes à marcha da execução, sobretudo, com a imposição de condições e exigências."
A investigação também apontou relação direta do delegado com o crime organizado. Ele recebia "vantagens indevidas da contravenção para não investigar e não deixar investigar os homicídios por eles praticados" quando chefiava a Delegacia de Homicídios, segundo a polícia. Com os pagamentos feitos por bicheiros, conforme a PF, ele aumentou o patrimônio e comprou imóveis.
<b>Maxwell Simões Corrêa, o Suel</b>
Ex-bombeiro, Maxwell Simões Correa, conhecido como Suel, foi preso, em julho de 2023, acusado de participar do monitoramento de Marielle Franco, com "apoio logístico" aos executores do crime. De acordo com a PF, Maxwell teria encaminhado o veículo utilizado no crime a um desmanche na zona norte do Rio e ajudado a ocultar armas de fogo de uso restrito e acessórios pertencentes a Ronnie Lessa.
Edilson Barbosa dos Santos, o Orelha
Edilson Barbosa dos Santos, conhecido como Orelha, foi o mecânico acionado por Suel para se livrar do veículo usado no assassinato de Marielle e Anderson. De acordo com Élcio Queiroz, Orelha tinha uma agência de automóveis e já tinha sido dono de um ferro velho, logo saberia como se livrar do Cobalt prata. Ele foi preso em fevereiro deste ano