O "Cingapuragate" voltou a ter destaque 15 anos depois da temporada de 2008 da Fórmula 1. Felipe Massa questiona o acidente envolvendo Nelsinho Piquet no GP de Cingapura, que beneficiou Fernando Alonso, seu colega de escuderia, e impediu o título do brasileiro da Ferrari por um ponto. Lewis Hamilton foi o campeão naquele ano após o quarto lugar na corrida de Interlagos. Entenda o caso em 8 pontos levantados pelo Estadão, de como a história voltou a tona e o que pode acontecer.
<b>1) O que aconteceu?
</b>Na 12ª volta daquela corrida, Fernando Alonso, na época na Renault, entrou nos boxes para a primeira parada. O piloto espanhol havia saído em 15º lugar e parou de modo prematuro. Duas voltas depois, Nelson Piquet Jr., também da Renault, escorregou a traseira do carro na saída de uma curva e chocou-se com a lateral da pista. A batida foi em um ponto em que era necessária a intervenção do safety car para a remoção da Renault de Nelsinho.
Enquanto os rivais faziam seus pit-stops, Alonso, que já havia parado, ganhou a liderança. O espanhol conseguiu uma vitória para a Renault depois de dois anos na seca. Somado a isso, a Ferrari fez uma parada desastrosa com Felipe Massa, que saiu do box com a mangueira de abastecimento ainda no carro. O brasileiro, que havia feito a pole, foi punido por quase atingir Adrian Sutil e ainda teve de parar com um pneu furado, o que lhe deixou em 13º no fim da corrida. Hamilton, campeão daquele ano, ficou em terceiro, somando seis pontos.
<b>2) Quando o caso veio a público?
</b>Somente em agosto de 2009, o caso tornou-se público, de que houve uma armação da Renault para a batida propositadamente para ajudar Alonso. Nelson Piquet, tricampeão do mundo de F-1, fez a denúncia. Nelsinho deixou a Renault e logo admitiu à FIA ter batido de propósito em Cingapura para ajudar Alonso. Ele contou com o apoio do pai para fazer aaqueça denúncia. A Federação Internacional de Automobilismo (FIA) comprovou que a Renault, de Flavio Briatore, ordenou a Nelsinho que ele batesse de forma intencional a fim de beneficiar o companheiro de equipe com a entrada do safety car.
<b>3) Punições do Cingapuragate
</b>Flavio Briatore e Pat Symonds, na época chefe da equipe e diretor de engenharia, respectivamente, foram julgados pela FIA. Briatore chegou a ser banido dos esportes a motor. Já Symonds teve suspensão de cinco anos. Nelson Piquet Jr. não teve punição por ter colaborado com as investigações. Fernando Alonso foi considerado inocente sob argumento de que ele não conhecia o plano.
<b>4) Retorno de Briatore e Symonds
</b>A decisão que baniu Briatore foi revogada em 2010, um ano depois do julgamento. Em 2022, ele chegou a voltar a atuar na Fórmula 1, em uma área comercial. Já retornou em 2011 como consultor de equipe, na época da Marussia Virgin Racing. Atualmente, ele é diretor técnico da categoria. Os dois pilotos deixaram a escuderia. Alonso ainda corre na F-1.
<b>5) Por que o caso voltou à tona?
</b>O caso voltou aos jornais em março deste ano. Bernie Ecclestone, chefão da F-1 por quase 40 anos, fez importantes revelações sobre o "Cingapuragate" em entrevista ao site F1-Insider. Questionado sobre os títulos de Lewis Hamilton, o inglês afirmara que considerava Michael Schumacher o único heptacampeão da história da F-1 porque Hamilton não seria o campeão moral de 2008. O inglês também revelou que ficou sabendo sobre a batida intencional de Nelsinho Piquet ainda durante 2008.
Essa informação é o grande fundamento das ações judiciais de Massa. O motivo é que, pelas regras da FIA, um campeonato não pode ter seus resultados alterados após finalizado. Desta forma, mesmo com Piquet confirmando que o acidente em Cingapura foi planejado apenas em 2009, a declaração não pode ser usada pela defesa de Massa como argumento para buscar justiça. Se Ecclestone tivesse revelado o que sabia, aquela prova teria sido anulada, juntamente com os resultados dos pilotos.
<b>6) O que diz Massa?
</b>O brasileiro já chamou o caso de "roubalheira" e cobrou a falta de punição severa contra os atores do episódio. Os advogados de Massa enviaram a Stefano Domenicali, CEO da F-1 e ex-chefe de Massa na Ferrari, e a Mohammed Ben Sulayem, presidente da FIA, uma carta de aviso legal sobre o caso. Tal procedimento é obrigatório para dar sequência a processos judiciais na Inglaterra, onde a ação foi protocolada.
A resposta esperada pelo piloto e sua equipe de advogados é o reconhecimento de que, se não fosse pela batida, ele teria sido considerado o campeão de 2008. Atualmente, Massa corre na Stock Car, pela Lubrax Podium. Na última etapa, em Goiânia, o piloto recebeu a visita do o ex-presidente da FIA e ex-chefe da Ferrari, Jean Todt. A FIA recomendou de Massa não aparecesse ao GP de Monza, casa da Ferrari, por causa da ação. Ele não foi. Massa chegou a dizer que aceitaria dividir o título com Hamilton, o campeão daquele ano. Sua ação indenizatória pode chegar a US$ 150 milhões.
<b>7) O que diz Nelsinho?
</b>Nelson Piquet Jr., assim como Massa, também está na Stock Car, pela Crown Racing. Ele tenta manter-se mais afastado do tema e já afirmou "não julgar" pleito do colega pelo troféu ou indenização nos tribunais. O piloto não entra no mérito do caso, mas sustenta que não há como opinar, já que não esteve no lugar de Massa. Nunca explicou por que aceitou bater seu carro propositadamente.
<b>8) Qual o próximo passo?
</b>Ainda não há uma ação correndo na Justiça. A FIA e a F-1 pediram um prazo maior para responderem a ação de Massa, o que foi aceito pela equipe do piloto brasileiro. O retorno deve acontecer em outubro. Um acordo não está descartado entre as partes. Historicamente, tanto a federação quanto a própria F-1 evitam batalhas desgastantes nos tribunais e optam por acordos, geralmente sigilosos. Se a FIA e a F-1 não derem um retorno no novo prazo, ou não sugerirem um acordo, a equipe de Massa iniciará a ação na Justiça.