No debate entre candidatos ao governo do Rio de Janeiro promovido pela Rede Globo na noite desta terça-feira, 27, os dois postulantes mais bem colocados nas pesquisas – Cláudio Castro (PL), que tenta a reeleição, e Marcelo Freixo (PSB) -, seguiram estratégias antagônicas. Enquanto Freixo buscou o embate direto com Castro e associar sua candidatura ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o chefe do Executivo estadual escondeu o presidente Jair Bolsonaro (PL), padrinho de sua candidatura e candidato à reeleição, e evitou críticas diretas ao presidenciável petista ao ser confrontado.
Em ao menos três momentos do debate, Freixo recorreu a Lula para tentar atrair o eleitorado petista. Ao responder uma pergunta do candidato do Novo, Paulo Ganime, o pessebista disse que é necessário votar em Lula para derrotar Bolsonaro e Castro, seu representante no Estado. O atual governador evitou criticar o líder nas pesquisas de intenção de voto na disputa presidencial. Ao ser questionado por Ganime porque evita criticar Lula diretamente, Castro se esquivou.
"O ex-presidente Lula foi condenado em várias instâncias, sim. Mas nós, aqui no Rio de Janeiro, respeitamos as instituições. Eu já falei várias vezes. Aqui, eu não falo sobre decisões judiciais. Eu falo do povo do Rio de Janeiro", respondeu Castro.
No Rio, Lula e Bolsonaro racham o eleitorado, revezando-se na liderança no Estado. Na pesquisa Ipec desta semana, Lula abriu vantagem fora da margem de erro, de dois pontos porcentuais. Agora, o petista tem 42%, contra 36% do presidente.
A campanha de Castro aposta no voto Castro-Lula no interior e na Região Metropolitana do Rio de Janeiro. Para reverter o cenário, que lhe é desfavorável, Freixo citou, em mais uma oportunidade, que o governador representa "a política de Bolsonaro e o bolsonarismo".
Freixo é criticado por mudanças de posições
No primeiro bloco do debate, Rodrigo Neves (PDT), ex-prefeito de Niterói, partiu para o ataque contra Freixo. Os dois disputam o eleitorado da esquerda. O pedetista questionou Freixo sobre doações que ele recebeu de banqueiros, como Armínio Fraga e dos herdeiros do banco Itaú.
"Esse papo de frente ampla, de união, evidentemente, não engana as pessoas. Você mesmo dizia que quem financia campanha cobra a fatura depois da eleição. Armínio Fraga, que é o representante do sistema financeiro internacional, já doou mais de R$ 200 mil para a sua campanha. O sócio do banqueiro Daniel Dantas já doou mais de R$100 mil para a sua campanha. As famílias donas do banco Itaú financiaram a sua campanha com mais de R$ 1 milhão. Essa contradição você precisa explicar para os eleitores. Você sempre discursou em favor dos direitos humanos, mas se calou sobre as chacinas praticadas pelo governador Cláudio Castro", atacou Neves.
Freixo disse que Neves "está se isolando em um sectarismo". Também criticou a postura bélica do pedetista no início do debate.
O governador Cláudio Castro também usou mudanças de posições de Freixo em áreas como a descriminalização das drogas e alianças para questionar contradições do pessebista.
"Eu não tive nenhuma condenação de propaganda nessa campanha. Eu fiz uma campanha limpa. Quem teve 16 condenações Nunca teve isso antes na história do Rio de Janeiro. Sabe o que são as condenações, quando a pessoa tenta te enganar. Da mesma forma que era contra os valores cristãos, e agora vai na igreja. Da mesma forma que era a favor das drogas e agora diz que é contra. Da mesma forma que fez projeto de casa para fazer aborto e agora diz que não vai fazer mais. A gente tem que saber quem é o Freixo", disse.
<b>Corrupção</b>
As denúncias de supostas irregularidades na Fundação Ceperj e as citações a Cláudio Castro em recentes delações marcaram boa parte do debate. Ao longo do programa, Freixo, Neves e Ganime questionaram o governador sobre as acusações apontadas pelo Ministério Público e reveladas pela imprensa.
Freixo afirmou que "há uma possibilidade, da gente ter um governador preso novamente" no Rio de Janeiro. Citou denúncias na área da Saúde que levaram à queda do então governador Wilson Witzel (PMB), que tenta voltar ao Palácio Guanabara.
"Ainda tem um inquérito de fraudes na saúde. O mesmo que tirou Witzel do poder. A corrupção mata", disse Freixo contra Castro.
Ao se defender, Castro citou condenações de Freixo no âmbito eleitoral: "há uma campanha aqui que foi a mais condenada na história do Tribunal Regional Eleitoral por mentir, por enganar, que é a campanha do candidato Marcelo Freixo. Ele teve 16 condenações, ele é condenado pelo TRE. Ele é condenado porque mentiu. O Ceperj não é nada disso, a gente vai explicar. Realmente, delações existem, é aquela indústria de delações que você viu", disse, dirigindo-se aos telespectadores.
Ao ser questionado sobre a prisão de ex-secretários do Estado, Castro não condenou os aliados: "eu sou responsável por aquele que eu nomeio", disse. "Só quem já meteu a mão na massa sabe o que é isso. O que a outra pessoa colocou é responsabilidade dela. Quando aconteceu o problema da Ceperj, eu fui dialogar com Ministério Público. Quem governa pode ter problemas sim".