“Fizemos papel de bobo. Três meses trabalhando arduamente e não vamos votar o relatório, que já está pronto há 20 dias. O relatório era só 99% do que ele (Eduardo Cunha) queria. Mas ele queria 100%.” Foi assim que o deputado Marcelo Castro (PMDB-PI) definiu a forma como o então presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ), no auge do seu poder, em maio de 2015, decidiu com os líderes ignorar o relatório de Castro na comissão da reforma política, nomear outro relator e votar outro texto direto no plenário.
O embate já vinha de alguns dias. Na semana anterior, Cunha dissera que faltava “inteligência política” a Castro, que, ao revidar, disse que o então presidente da Câmara deveria ter escolhido um relator “mais submisso”. Desde então, ficou marcado como anti-Cunha.
Cinco meses depois, era nomeado pela então presidente Dilma Rousseff ministro da Saúde, após intervenção do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no governo da petista para abrir espaço ao PMDB na Esplanada e tentar evitar seu impeachment, estratégia que se mostrou insuficiente.
No ministério, Castro se viu em meio às epidemias de dengue, zika e chikungunya no País, mas focou sua gestão em fazer política e tentar salvar o mandato da petista. Atendeu mais vereadores, prefeitos, deputados estaduais e federais, além de senadores, do que entidades ligadas à saúde.
Polêmicas
Como titular da Saúde, Castro causou polêmica com declarações sobre o Aedes aegypti e o vírus da zika. “Nós estamos há três décadas com o mosquito aqui no Brasil e estamos perdendo a batalha feio para o mosquito”, afirmou em janeiro deste ano. Pouco antes, ele havia dito que o melhor é “torcer para que as mulheres peguem a zika antes da idade fértil, aí ficariam imunizadas pelo próprio mosquito”.
Deixou o cargo para retomar o mandato de deputado e ser um dos sete dos 67 peemedebistas a votar contra o impeachment. Ao justificar seu voto naquele 17 de abril, disse: “A presidente Dilma não matou, não roubou, não tem contas no exterior, não descumpriu nenhuma lei. É uma pessoa digna, honesta e honrada. Não há crime de responsabilidade. Não há crime nenhum. Todo esse processo é forjado, artificial e falso”. Ficou marcado como anti-Temer.
Mas é no cruzamento desses feitos na atual legislatura, a quinta seguida, que o psiquiatra piauiense de 66 anos chega à eleição para a presidência da Câmara. Ele pretende ter os votos dos que não querem a vitória de um nome ligado a Cunha. Também aposta nos insatisfeitos com a falta de espaço no governo Temer. A rigor, uma candidatura ao estilo do PMDB: a que visa a atrair todas as matizes políticas.
“Minha candidatura é do PMDB e de uma ampla base que tem boa relação comigo, principalmente de quando fui ministro. Vou pedir votos a todos os deputados de todos os partidos”, disse ontem ao Estado. O desafio é afastar a vinculação que adversários têm feito de que se trata de uma candidatura petista. Questionado se conta com esses votos, disse: “Não tenho essa sorte”.
Histórico
Castro entrou no PMDB em 1981, mas teve passagens pelo PSDB e pelo PPR. Voltou ao partido de origem para se eleger deputado federal pela primeira vez em 1998. Apesar da formação em medicina, ele trabalha sua imagem no Estado a partir de sua ligação com o setor de infraestrutura.
Nos seus mandatos, buscou sempre ser a interface entre o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) e órgãos responsáveis por tocar obras no Piauí. A construtora Jurema, de seus irmãos, é a principal executora de obras públicas no Estado. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.