O técnico do Guarani, Ricardo Catalá é mais um que engrossa o coro sobre as dificuldades e os riscos de se jogar no Brasil pela manhã, debaixo de forte calor. A reclamação é antiga, mas a situação ficou pior com a forte onda de calor que assola o País. "Continuo achando que é desumano jogar futebol assim. No Brasil, a gente só aprende quando erra. Foi assim com Serginho, no São Caetano. Um dia quando um jogador cair duro, daí eles vão decidir não fazer mais jogo às 11 horas da manhã", disse o técnico antes mesmo do jogo em que o Guarani empatou sem gols com o América-MG, na Arena Independência, pela 13.ª rodada do Campeonato Brasileiro da Série B.
Disputado debaixo de um calor em torno de 30 graus, o time mineiro foi melhor no primeiro tempo, porém, caiu demais na etapa final, justamente, sentindo o calor e o desgaste físico.
CLÁSSICO – No domingo, o clássico carioca entre Botafogo e Fluminense, pela 13.ª rodada do Brasileirão, vai ser disputado também neste mesmo horário. Este novo horário foi adotado pela CBF em 2015 para atender interesses das empresas que transmitem os jogos para o exterior.
Para Rinaldo Martorelli, presidente da SAFESP, Sindicato dos Atletas de Futebol do Estado de São Paulo, o técnico bugrino tem total razão em suas palavras. "Nós estamos há anos brigando contra esta insensatez dos dirigentes. Realmente os jogadores estão expostos a condições agressivas para quem desenvolve uma atividade esportiva intensa."
CASO SERGINHO – Quando Ricardo Catalá se referiu a Serginho, ele lembrou a morte do zagueiro do São Caetano que aconteceu em pleno Morumbi, no dia 24 de outubro de 2004, vítima de morte súbita há quase 16 anos.
Ele caiu em campo, foi socorrido pelos médicos e morreu no Hospital São Luiz. Os especialistas chegaram à conclusão de que ele poderia ter sido salvo, caso a ambulância tivesse à sua disposição um desfibrilador, equipamento que estimula os batimentos cardíacos.
Constatou-se depois que Serginho, morto aos 30 anos, tinha um problema grave de coração chamado hipertrofia miocárdica. Nada mais é do que o coração aumentado, um diagnóstico comum para atletas de alto rendimento.
Outras mortes semelhantes aconteceram no mundo o que gerou uma medida das autoridades esportivas obrigando o uso de desfibriladores em jogos oficiais. Além disso, os exames cardiológicos se tornaram muito mais específicos, reduzindo o número de ocorrências.
A morte de Serginho resultou num processo criminal que anos depois acabou arquivado por falta de provas sobre os eventuais culpados. Mas, na esfera esportiva, o clube perdeu 24 pontos no Brasileiro da Série A, mesmo assim não foi rebaixado por sua grande campanha, o presidente da época, Nairo Ferreira de Souza, pegou quatro anos de suspensão, pena abrandada depois pela metade, e o mesmo se aplicou ao médico do clube, Paulo Forte, suspenso quatro anos e com pena reduzida pela metade.