Mundo das Palavras

Católicos num bom momento

Coluna semanal do jornalista e doutor em Comunicação Oswaldo Coimbra

No início dos anos 60, o papa João XIII estava atento ao que acontecia no mundo, sobretudo ao que ocorrera em Cuba, um país católico em que sua igreja tinha perdido adeptos, pelo modo desastrado com que alguns padres tinham se relacionados com a, na época, ainda promissora revolução social comandada por Fidel Castro e Che Guevara. Os padres pareciam terse colocado em defesa da antiga ordem social cubana viciada pelo governo corrupto do ditador Fulgêncio Batista. Por isto, em 1962, João XXIII dirigiu carta aos bispos brasileiros, recomendando que não permitissem no Brasil a repetição do drama de Cuba, nação católica levada a se afastar da Igreja.

Em abril do ano seguinte, o papa publicou a encíclica Pacem in Terris, na qual incorporou a lição aprendida com os erros cometidos em Cuba. Nela, estimulou os cristãos a sustentarem uma ação que ultrapasse o simples assistencialismo. “Exortamos nossos filhos ao dever de participarem ativamente da vida pública e de contribuírem para a obtenção do bem comum de todo o gênero humano e da própria comunidade política”

Em resposta àquele apelo do papa, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil-CNBB criou um plano de emergência destinado a guiar a sua ação. Na apresentação do plano, a entidade religiosa reconheceu nossa “inércia pastoral não provém apenas da perspectiva teológica deficiente, mas também, da falta de sensibilidade sociológica e consciência histórica”

A CNBB, então, propôs, na Páscoa de 1963, um programa amplo de reformas para o Brasil. Deveriam ser mudados: a estrutura agrária, o sistema de ensino, a administração pública, as empresas, a arrecadação de impostos, entre outros setores. A CNBB justificou: “Ninguém pode pensar que a ordem em que vivemos seja aquela anunciada pela nova Encíclica como o fundamento inabalável da paz. Nossa ordem é, ainda, viciada pela pesada carga de uma tradição capitalista, que dominou o Ocidente nos séculos passados. É uma ordem na qual o poder econômico, o dinheiro, ainda detém a última instância das decisões econômicas, políticas e sociais”.

Essa iniciativa da CNBB foi recebida com entusiasmo pelos jovens que procuravam fazer de seu Catolicismo um instrumento de atuação política em favor de Justiça Social no Brasil, conforme recomendara o papa.

Um destes jovens, Herbert José de Souza, o Betinho, tinha escrito em “Cristianismo de Hoje”: “Não podemos aceitar a tese da religião formalista, estática, voltada para o santo comércio com os santos, na contabilidade das promessas a troco de empregos, favores, notas escolares e recuperações de saúde. Para nós, ser cristão é ser alguém comprometido com a vida, a História, envolvendo o destino de toda a Humanidade”.

Mas, infelizmente, veio o Golpe Militar de 1964. Os católicos que seguiam as recomendações de João foram presos. Enquanto isso as madames dos empresários que tinham preparado a instalação da Ditadura no Brasil, passaram a usar o Catolicismo, para angariar o apoio da classe média ao Golpe Militar, com suas “Marchas da Família, com Deus, pela Liberdade”.

 

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