Estadão

Cautela com eleição sustenta taxas de juros em alta, na contramão do exterior

Os juros futuros fecharam a quarta-feira de Copom em alta, mais relacionada à piora na percepção de risco do processo eleitoral do que propriamente à reunião de política monetária do Banco Central, uma vez consolidadas as apostas de manutenção da Selic em 13,75% e baixa expectativa em relação ao comunicado.

O mercado já estava incomodado com o fato de o desempenho do presidente e candidato à reeleição Jair Bolsonaro (PL), que vinha melhorando, ter estagnado nas pesquisas de intenção de voto recentes e nesta quarta aumentaram os ruídos em torno de uma eventual contestação de resultado, caso vença o candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva e até crise institucional. O estopim foi a exoneração de um servidor do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), responsável pelas inserções de propaganda eleitoral, após o governo acusar a corte de suposto favorecimento de rádios à campanha de Lula.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2024 fechou em 12,985%, de 12,938% no ajuste anterior, e a do DI para janeiro de 2025 subiu de 11,83% para 11,92%. A do DI para janeiro de 2027 encerrou em 11,80%, de 11,67%. Ainda que com liquidez mais restrita, a taxa do DI para janeiro de 2033 já voltou para 12%, fechando em 12,01%, de 11,939% na terça.

Com as taxas longas subindo mais do que as curtas, a curva ganhou inclinação, refletindo basicamente a cautela com o cenário eleitoral, na contramão do exterior, onde as taxas caíram.

As máximas foram atingidas na sessão vespertina, a partir da última hora de negócios, com o temor de escalada das tensões eleitorais após a exoneração do servidor do TSE Alexandre Gomes Machado. Ele foi afastado após ação do ministro das Comunicações, Fábio Faria, enviada ao TSE sobre suposto favorecimento de rádios à campanha de Lula. À Polícia Federal, Machado alega ter sido demitido após relatar problemas na fiscalização das inserções. Em nota, o TSE afirmou que ele nunca informou nenhuma irregularidade na fiscalização.

"É um evento que pode ser explorado e o mercado está atento a isso, mas sem grandes conclusões por enquanto", disse o gestor de renda fixa do Sicredi Asset, Cassio Andrade Xavier, que vê a devolução dos ganhos das estatais na B3 como sinal de que o mercado já está trabalhando com a eventual vitória de Lula, que reverteria as expectativas de privatizações. Pesquisa da Genial/Qaest mostrou hoje que Lula soma 53% das intenções de votos, considerando os válidos, enquanto o candidato à reeleição tem 47%.

Já para a equipe da Warren Renascença, o episódio não tem potencial para reverter ou invalidar o resultado das eleições. Os profissionais explicam que ainda não está claro o motivo do afastamento do servidor, que atuava na área de comunicação do TSE. "Era coordenador do pool de emissoras de rádio e televisão para o recebimento de mídias da propaganda eleitoral. Não tinha nenhum acesso ao sistema de urnas ou à dinâmica de apuração dos votos", disseram, destacando que a nota do TSE lembra que não cabe ao tribunal distribuir o material a ser veiculado no horário gratuito.

Com o "caso TSE" ampliando o foco na eleição, a expectativa sobre o Copom da noite de quarta-feira ficou ainda mais em segundo plano, até pelo consenso das apostas na Selic inalterada em 13,75%. Xavier afirma que o mercado trabalha com um tom neutro para o comunicado, mas, se houver algum tipo de surpresa, na sua avaliação, tende a ser para o lado altista do balanço de riscos. "O cenário de inflação é desafiador, assim como lá fora", disse.

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