Cautela com imposto local e exterior impede alta do Ibovespa

Preocupação com questões fiscais norte-americanas e no Brasil devem impedir abertura em alta do Ibovespa, que ontem já fechou em baixa de 0,08%, aos 102.829,96 pontos. Enquanto o mercado monitora as negociações a respeito dos benefícios de auxílio-desemprego e o próximo pacote fiscal de US$ 1 trilhão nos Estados Unidos, aqui segue o debate sobre a criação de um novo imposto para elevar a arrecadação.

As bolsas europeias têm direções mistas, após um dado de inflação acima do esperado, bem como as bolsas em Nova York, também em meio ao aumento de casos de covid-19 ao redor do mundo.

Até agora, observa relatório do Rabobank, os efeitos mais profundos da pandemia de coronavírus foram amplamente ignorados pelos mercados financeiros, diante dos estímulos implementados por bancos centrais. No entanto, a instituição observa que está cada vez mais claro que não haverá recuperação em forma de V ou, nesse caso, uma recuperação completa em qualquer lugar, até que a vacina chegue.

Às 10h51, o Ibovespa cedia 0,59%, aos 102.090,83 pontos.

Conforme o economista-chefe do ModalMais, Álvaro Bandeira, internamente há toda uma confusão em relação à reforma tributária. Segundo ele, a base do Centrão está esfacelada e há dúvidas a respeito da criação de um novo imposto.

"Temos ainda o balanço do Itaú e o dólar avançando acima de R$ 5,35. Tudo isso pesa. Ontem, mesmo com o petróleo revertendo a queda, a forte alta do minério, o Ibovespa caiu, enquanto Europa e Nova York subiu, com o Nasdaq batendo novo recorde. Chega uma hora que as coisas começam a travar, diante dessa indefinição", diz. "O que não pode é perder os 100 mil pontos", completa Bandeira. Segundo ele, é preciso ficar de olho no intervalo do principal índice à vista da B3 entre 100 mil e 105 mil pontos, considerado fundamental para definir a tendência de curto prazo. Na mínima intraday, o Ibovespa atingiu 101.776,24 pontos.

Ontem, o ministro da Economia, Paulo Guedes, apresentou ao presidente Jair Bolsonaro um plano para tentar diminuir as resistências no Congresso à criação de novo imposto sobre transações digitais – no mesmo modelo da extinta CPMF, mas com alcance maior.

O Itaú Unibanco que mostrou queda de 40,2% no lucro líquido recorrente, por conta dos efeitos do aumento das provisões para calotes em meio à pandemia de coronavírus. Ao comentar os dados esta manhã, o presidente do banco, Candido Bracher, disse que há receio de uma segunda onda pela covid-19 e que a economia depende do panorama da saúde. Afirmou ainda que que a piora da inadimplência deve ocorrer com mais intensidade no próximo ano. Ainda assim, não trabalha com um cenário de aumento "explosivo" dos calotes. As ações do banco cediam 2,79%, às 10h54.

A despeito dos indícios de retomada consistente da economia chinesa e que levou hoje a uma nova valorização do minério de ferro no porto chinês de Qingdao, negociado a US$ 117,88 a tonelada, em alta de 1,59%, há algumas notícias em torno da Vale que podem limitar eventual elevação das ações. Além disso, a elevação do petróleo no exterior também pode servir de contraponto a um possível recuo dos papéis da Petrobrás.

Umas das informações é a de que a mineradora teria de pagar R$ 129,5 milhões ao Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) para ressarcir os benefícios previdenciários pagos pelo órgão às vítimas do rompimento da barragem em Brumadinho (MG).

Além disso, há temores quanto à capacidade de produção da empresa diante da retomada chinesa. E, para completar, segue no radar relatos de que o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) pretende vender até US$ 1 bilhão em ações da Vale ainda este mês. O banco de fomento também teria a intenção de se desfazer dos papéis da Petrobras. "Isso pode forçar o papel para baixo, para torná-lo mais barato na oferta", explica Luiz Roberto Monteiro, operador de mesa institucional da Renascença.

Já o ministro Ricardo Lewandowski, do Supremo Tribunal Federal (STF), decidiu que o pedido do Senado para barrar a venda de refinarias da Petrobras deve se tornar uma ação à parte. Os papéis PN da estatal caíam 0,45%, enquanto ON subia 0,54%. Já Vale seguia em leilão até 11 horas.

Apesar da alta de 8,9% na produção industrial de junho ante maio, houve declínio de 9,0% na comparação com o sexto mês de 2019, ficando dentro do esperado por analistas e economistas na pesquisa do Projeções Broadcast.

Diante do cenário fraco da atividade, o mercado aposta em queda de 0,25 ponto porcentual na Selic, para 2,00% no Comitê de Política Monetária (Copom) desta semana. Apesar disso, um eventual recuo do juro já estaria precificado na B3.

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