Estadão

Cautela com sinais de recessão mundial e fiscal local impede recuperação da Bolsa

Novos sinais de enfraquecimento mundial e de inflação alta por mais tempo entram como limitadores da tentativa de recuperação das bolsas americanas e no Brasil. Por aqui, além do externo, o temor fiscal ganha mais um ingrediente após a apresentação da A Proposta de Emenda à Constituição (PEC) dos Combustíveis. Ao detalhar a proposta, o relator, o senador Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE), afirmou que haverá estado de calamidade para permitir a adoção das medidas sociais. Porém, adiantou ele: "estado de emergência não é um cheque em branco."

No entanto, a indicação de que a PEC reconhecerá estado de emergência eleva a desconfiança do mercado em relação à gestão das contas públicas do País. "Se tiver calamidade, o governo vai ter cheque branco para fazer tudo isso. Com sinais de um fiscal pior, o mercado pode ajustar a curva de juros, principalmente nos vértices intermediários", avalia Bruno Takeo, analista da Ouro Preto Investimentos.

Bezerra confirmou que a PEC terá aumento do Auxílio Brasil para R$ 600,00, que haverá voucher para caminhoneiro de R$ 1 mil e que vai subsidiar um botijão de gás e o custo é de R$ 1,05 bilhão.

Após reação negativa à leitura final do Produto Interno Bruto (PIB) dos Estados Unidos, as bolsas americanas tentam alta, o que também beneficia o Ibovespa. O PIB dos EUA teve queda anualizada de 1,6% no primeiro trimestre, superando a estimativa de declínio de 1,5%.

Dado o contexto atual, Enrico Cozzolino head de análise e sócio da Levante Investimentos, avalia que o resultado do PIB americano não deveria causar surpresa. "Não é uma grande novidade pois tem toda a questão da Rússia guerra contra Ucrânia afetando as cadeias globais de suprimento, tem as influências da covid-19, com aumento nos preços de comida e de energia. A inflação continua alta, e a questão é que ela não está vindo como o Powell imaginava transitória", avalia, ao referir-se ao presidente do Fed, Jerome Powell.

O recuo mais intenso do PIB dos EUA aumenta o receio de uma recessão nos Estados Unidos. "Temos de acompanhar agora como os próximos dados de atividade evoluirão, principalmente do mercado de trabalho", avalia Takeo. "Porém, a inflação continua alta. Vamos ver ser responderá a este quadro da atividade, especialmente via mercado de trabalho", reforça o analista da Ouro Preto.

Ainda em andamento, no Fórum do Banco Central Europeu (BCE), em Sinta, Portugal, Powell, afirmou que a pandemia provocou transformações estruturais na economia global. Segundo ele, ainda há incertezas sobre se será possível retornar ao regime econômico anterior à covid-19, marcado por fatores estruturais que derrubaram a inflação nos países desenvolvidos.

"Começa a se discutir a questão da recessão e isso se define depois que começa e depois que acaba", diz Cozzolino. "boa parte dos preços das bolsas acabou descontando isso", acrescenta o sócio da Levante.

Agora, afirma Jennie Li, estrategista de ações da XP, o mercado aguardará a divulgação do índice de preços de gastos com consumo (PCE) relativo a maio, que sai amanhã, que é o mais esperado da semana. "Precisa de mais dados de inflação indicando desacelerando para que o Fed consiga adotar uma postura menos hawkish de menos alta dos juros e assim os riscos de recessão poderiam diminuir", afirma.

Às 11h19, o Ibovespa cedia 0,43%, aos 100.155,28 pontos, perto da mínima diária aos 100.111,33 pontos (-0,48%) e ante máxima aos 101.313,08 pontos (alta de 0,72%). Petrobras subia em meio à alta do petróleo no exterior, enquanto ações de mineradoras e siderúrgicas cedem na esteira do recuo do minério de ferro no porto chinês de Qingdao. Ontem, o Ibovespa fechou em baixa de 0,17% (100.591,41 pontos).

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