Renovados temores de estagflação global deixam os mercados na defensiva, com a maioria das bolsas do ocidente em queda. Este ambiente pesar no Ibovespa, que ainda tem pela frente mais um dia de debates em Brasília a respeito dos planos do governo para conter os preços dos combustíveis, assunto que tem elevado a preocupação com o fiscal.
Alexandre Brito, sócio da Finacap Investimentos, explica que além da questão do aperto monetário no Brasil, que eleva a atratividade para a renda fixa, o investidor tem exigido um prêmio de risco alto, dadas as sinalizações de adoção de medidas populistas em pleno ano eleitoral. "Não tem cenário catastrófico, pois a dívida está controlada. Temos ainda um cenário favorável de commodities", avalia.
Além disso, a alta do petróleo, cuja cotação do tipo Brent já tocou hoje US$ 122 o barril, pode reforçar a expectativa de desconforto do investidor local, à medida que eleva preocupações com a inflação e sobre os preços dos combustíveis.
Ainda assim, as ações da Petrobras tentam alta diante do entendimento de que, por ora, não há possibilidade de intervenção do governo na estatal, de alteração na política de preços, dado que para isso teria de mudar o estatuto da companhia, o que levaria tempo.
Na terça-feira, o índice Bovespa já sentira os impactos das dúvidas em torno do projeto do governo de conter o encarecimento dos combustíveis, ao fechar em baixa de 0,11%, aos 110.069,76 pontos. O efeito, contudo, foi mais notório dos juros futuros e no câmbio, que hoje voltam a subir.
Após testar moderada alta, depois de cair 0,93%, na mínima diária de 109.048,75 pontos, o Ibovespa passou a ficar instável. Ruídos políticos internos e expectativa para a decisão de política monetária do BCE amanhã e na semana que vem nos EUA e no Brasil geram cautela. "Tem de agradecer por não estar pior Bolsa", diz o estrategista-chefe do Grupo Laatus, Jefferson Laatus.
"No final do dia de ontem o presidente Jair Bolsonaro acirrou a crise com o STF e voltou a falar de possibilidade de adoção de estado de calamidade. Tudo isso deixa pulga atrás da orelha do investidor. Ninguém quer investir em um pais onde o governo tem atrito com o Supremo", afirma Laatus.
Governadores se reúnem hoje com o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), para falar sobre o projeto que fixa em 17% teto ao ICMS de combustíveis e energia. Estados e municípios falam em perda de até R$ 115 bilhões com cortes no ICMS. Para a XP, os custos para os cofres da União e dos Estados podem chegar a R$ 178 bilhões em 12 meses.
"A grande questão é que o investidor está com o pé atrás em relação às contas públicas nesse período eleitoral", acrescenta Brito da Finacap.
Novos sinais de fraqueza da economia mundial ficam no centro das atenções dos mercados um dia antes da decisão de política monetária do Banco Central Europeu (BCE). Ainda que o BCE opte por manter os juros como estão, espera-se que deixe de colocar estímulos na economia.
Depois do Banco Mundial, hoje a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) revisou para baixo sua projeção para crescimento econômico global em 2022, de 4,5% para 3,0%. Para o Brasil, a OCDE diminuiu a estimativa de expansão de 1,4% para 0,6% neste ano.
Ao mesmo tempo, a inflação doméstica deu sinal de desaquecimento, como mostra o IGP-DI de maio. O indicador ficou em 0,69%, ante alta de 0,41% em abril, abaixo da mediana (0,85%) das expectativas. No entanto, no acumulado em 12 meses a taxa segue em dois dígitos (10,56%), o que tende a reforçar a estimativa de que a Selic ficará elevada por mais tempo do que o esperado.
Neste sentido e em meio aos debates sobre os preços dos combustíveis, cresce a espera pelo Comitê de Política Monetária (Copom), na semana que vem.
Hoje é o último dia para fazer a reserva das ações da Eletrobras, que deve fechar amanhã a segunda maior oferta do mundo este ano, de acordo com ranking preparado pela Refinitiv.
Às 11h21, as ações da Eletrobras subiam 0,44% (PNB) e 0,48% (ON). O Ibovespa caía 0,55%, aos 109.516,76 pontos, após ceder 0,11%, aos 110.069,76 pontos, ontem.