Estadão

Cautela externa após BCE e commoditeis pesam no Ibovespa

A queda abrupta do petróleo por temores de redução da demanda pesa nas ações ligadas ao setor na B3 e consequentemente no Ibovespa na manhã desta quinta-feira, 21. Além disso, renovadas preocupações na Europa, após a renúncia do primeiro-ministro da Itália, Mario Draghi, reforçam o quadro cauteloso, o que se soma à decisão "hawkish" do Banco Central Europeu (BCE). A instituição elevou o juro básico em meio ponto porcentual, contrariando as expectativas de mercado, de aumento de 0,25 ponto.

"Uma alta de 0,50 ponto era o que o mercado queria, dada a inflação elevada", diz o estrategista-chefe do Grupo Laatus, Jefferson Laatus.

Após cair 1,11%, na mínima diária aos 97.198,31 pontos, o Ibovespa reduzia o ritmo de baixa, à medida em que as bolsas americanas reduziam perdas. No entanto, voltou a acelerar as perdas. Investidores avaliam balanços de empresas dos Estados Unidos e alta dos juros pelo BCE, bem como os sinais dados pela presidente da instituição, Christine Lagarde.

"BCE foi um pouco além do esperado, e essa deve ser a tônica do dia, embora os mercados já estavam adotando uma postura mais receosa", avalia João Negrão, assessor de investimentos da SVN.

Lagarde reforçou que a autoridade monetária não prevê uma recessão na zona do euro este ano ou no próximo em seu cenário-base, apesar da persistência da guerra na Ucrânia e o aperto nas condições para conter a inflação.

Como destaca Rafael Germano, especialista em renda variável da Blue3, apesar do aperto monetário forte, o momento exige tal postura. "Por mais que seja um remédio caro, a situação pede", afirma.

O índice Bovespa cede para o nível dos 97 mil pontos muito em função do reflexo da queda perto de 3% nas cotações do petróleo sobre as ações da Petrobras. Além disso, acrescenta Negrão, a espera pelos dados de produção e vendas trimestrais da estatal também gera cautela. Os números sairão após o fechamento da B3. "Acaba por deixar o setor mais especulativo, gerando volatilidade", afirma o assessor de investimentos da SVN.

Na semana que vem sairá a decisão de política monetária do Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos), para o qual estima-se aumento de 0,75 ponto, e não mais de um ponto, o que tem dado certo alívio às bolsas americanas. Hoje, no Japão e na Turquia os juros foram mantidos, apesar da atividade fraca e inflação alta. O Banco Central da África do Sul, pro sua vez, subiu sua taxa básica de juros em 0,75 ponto, para 5,50%.

O quadro cauteloso internacional impede o índice Bovespa de ganhar tração acima dos 98 mil pontos. Ontem, subiu apenas 0,04%, fechando aos 98.286,83 pontos, penalizado em boa medida pelos dados trimestrais fracos de vendas e de produção da Vale. Após a queda na véspera, os papéis da mineradora poderiam passar por alguma recuperação, mas há novos alertas da China sobre a covid-19 que impõem cuidado aos investidores. Por isso, as ações da Vale tem instabilidade. Às 11h15, subiam 0,19%. Porém, as demais mineradoras e siderúrgicas caem. Petrobras caía entre 3% (PN) e quase 4% (ON).

Às 11h16 desta quinta-feira, o Ibovespa caía 1,02%, aos 97.281,10 pontos.

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