A cautela externa após o rebaixamento do rating dos Estados Unidos instigou na manhã desta quarta-feira, 2, queda do Ibovespa, que ontem caiu 0,57%, aos 121.248,39 pontos. O recuo, contudo, é equilibrado pela iminência de um corte da Selic no início da noite. As estimativas divergem entre uma queda de 0,25 ponto e meio ponto porcentual. A agenda interna e externa é esvaziada.
Há pouco, o Ibovespa diminuiu moderadamente o ritmo de queda, apesar da renovação de mínimas das bolsas americanas, com destaque para recuo de quase 1,70% do Nasdaq. "O Brasil está reagindo até que bem a essa questão do rating do Estados Unidos. Parece olhar mais para commodities", avalia João Piccioni, analista da Empiricus Research.
Além disso, acrescenta, o Ibovespa parece mais focado ao que será a decisão do Copom no fim do dia. "Tem crescido a aposta de corte de meio ponto da Selic", observa Piccioni.
Lá fora, destaque apenas à pesquisa ADP, que mostrou a criação de 324 mil vagas de emprego no setor privado dos EUA em julho, ante previsão de 183 mil. O dado pode elevar as apostas de alta dos juros americanos e também a expectativa pelo payroll, o relatório oficial do mercado de trabalho no país que será divulgado na sexta. Contudo, é importante ressaltar que ultimamente a correlação entre a ADP e o payroll tem tido cada vez menos aderência.
"Esse dado da ADP seria importante sobre a expectativa em relação ao payrol. No entanto, no mês passado também veio forte e o payroll, nem tanto. O indicador de hoje tem reflexo sobre preços um pouco menor do que poderia se supor", diz a economista-chefe do TC, Marianna Costa.
O resultado vem na esteira da Fitch, que ontem cortou o rating dos EUA, de AAA para AA+, com perspectiva estável. A agência apontou que a situação fiscal da maior economia do mundo deverá piorar nos próximos três anos.
Para o economista e partner da WIT Invest, Rodrigo Antunes, a decisão da Fitch acende a luz amarela principalmente para o Fed, em meio ao debate se os juros americanos vão subir mais ou o BC do país dará uma pausa. "Ainda mais após a pesquisa forte da ADP, sugerindo juros altos por mais tempo", diz.
Conforme Antunes, após a decisão da Fitch, o impacto negativo no Ibovespa tende a ser pontual, dado que o cenário para Brasil segue favorável, em meio a iminência de corte da Selic hoje e ao avanço da agenda de reformas.
No início desta noite, o Copom deve reduzir a taxa Selic, que atualmente está em 13,75% ao ano. A dúvida é se será um recuo de 0,25 ponto ou de meio ponto porcentual.
A LCA Consultores, por exemplo, espera que o juro básico caia para 13,50%. "Mas é possível que a decisão seja dividida – com parcela minoritária do colegiado votando por cortar o juro básico em 50 pontos", estima em relatório.
Para Piccioni, da Empiricus, se o Banco Central promover um corte de 0,25 ponto não tende a incomodar o mercado. "Não deve chegar incômodo, pois deve indicar aceleração das quedas à frente, e o Roberto Campos Neto presidente do BC tem sido coerente com o que tem dito, no sentido de ser parcimonioso. Agora, se não cortar, ai, sim, estressará", completa.
"O grande destaque no Brasil é a tão esperada decisão do Copom. Os agentes seguem sem consenso em relação ao tamanho do corte. Uma queda de 0,25 ponto seria mais cauteloso, na linha das indicações do BC, e uma de 0,50 ponto não surpreenderia, em função da melhora da inflação e da percepção de melhora do risco Brasil", completa Marianna, do TC.
Às 11h41, o Ibovespa caía 0,74%, aos 120.348,63 pontos, na mínima.