A queda das bolsas internacionais e do petróleo impede nesta quarta-feira o Ibovespa de subir, se ajustando à alta das bolsas de Nova York na terça-feira, quando a B3 ficou fechada. Há cautela em meio às tensões geopolíticas, após um míssil ser lançado em uma região da Polônia e ante dados de atividade dos Estados Unidos e falas de integrantes do Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) esperados para este dia 16.
Além disso, o mercado interno está à espera do anúncio da PEC da Transição, entre hoje e amanhã, e do pronunciamento do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (12h15), na COP-27.
"O mercado espera que pelo menos um nome seja anunciado no Egito. Se anunciar o Haddad Fernando, ex-ministro da Educação para o Ministério da Fazenda, o mercado vai estressar, dado que trata-se de uma Pasta muito importante e ele seria um nome político", avalia o estrategista-chefe do Grupo Laatus, Jefferson Laatus.
Para a PEC, já se fala em gastos extras de R$ 175 bilhões para bancar programas sociais em 2023, inclusive o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), teria sinalizado ao futuro governo de Luiz Inácio Lula da Silva que apoia a manutenção do Auxílio Brasil fora do teto de gastos por quatro anos.
"Noticiário local reforça os ruídos em torno da PEC de transição, que tomam hoje viés mais contraproducente", cita em nota a Terra Investimentos. Além disso, os investidores aguardam o anúncio de novos nomes da transição de governo, especialmente para a Fazenda.
Segundo Felipe Cima, operador de renda variável da Manchester Investimentos, apesar da indicação de um "cheque em branco" para o novo governo, se imaginava que a equipe econômica de transição seria responsável com o fiscal. Contudo, agora, diz, há elevadas incertezas de como ficarão as contas públicas. "Pode ser que tenhamos um descontrole da dívida em 2027 caso as coisas evoluam como o indicado. ", avalia Cima.
Nem mesmo atenua a queda do Ibovespa a alta de 2,16% do minério de ferro em Dalian, após o governo chinês manter os juros para linhas de crédito de um ano em 2,75%, na tentativa de estimular a economia. Porém, a maioria das bolsas asiáticas fechou em queda, em meio à escalada de tensões geopolíticas.
Na segunda-feira, o índice Bovespa fechou em alta de 0,81%, aos 113.161,28 pontos.
Depois da valorização da véspera, na esteira de indicadores considerados favoráveis, a maioria dos índices de ações cede no exterior, após sinais duros de membros do Fed. Mais cedo, a presidente da distrital de Kansas City do BC americano, Esther George, defendeu alta de juros, mas em ritmo menor.
Ao mesmo tempo, os investidores avaliam as palavras do presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, sobre a inflação, de que ainda é cedo para "cantar vitória." Segundo disse ontem em evento, o Brasil tinha corte da Selic precificado na curva de juros, mas que as incertezas envolvendo a PEC da Transição no Congresso fizeram que esse cenário no mercado se alterasse um pouco.
Conforme o operador da Manchester, "se imaginava queda dos juros em algum momento de 2023, mas o BC parece que vai precisar de algo que ancore a inflação para a meta, o que sugere alta de juros", avalia Cima.
Às 11h33, o Ibovespa cedia 1,01%, aos 112.021,36 pontos, ante mínima intradia dos 111.488,06 pontos, com recuo de 1,48%. Petrobras perdia 0,25% (PN) e cedia 0,16% (ON), enquanto Vale ON subia 0,43%.
Em meio a temores de descontrole de gastos públicos, Cima, da Manchester, ressalta que isso, além de ter impacto na inflação, teria no câmbio. Neste intervalo, diz, a Petrobras parece estar se financiando, ao deixar de subir os preços dos combustíveis.