Estadão

Cautela externa impede Ibovespa de subir e recuperar quedas recentes

No último pregão do mês, o Ibovespa opera em baixa nesta quarta-feira, 31, mas caminha para fechar maio com valorização perto de 4,00%, após subir 2,50% em abril. O recuo ocorre apesar de o indicador ter registrado dois fechamentos negativos seguidos. Na terça, terminou com desvalorização de 1,24% (108.967,03 pontos).

Em dia de agenda carregada, os investidores estão na expectativa da votação do acordo sobre o aumento do teto da dívida dos Estados Unidos no Congresso, enquanto avaliam os dados de atividade da China aquém do esperado.

O índice dos gerentes de compras (PMI, na sigla em inglês) chinês recuou a 48,8 em maio, após 49,2 pontos em abril, ficando menor do que previsto por analistas (49,7 pontos) e sugerindo arrefecimento da atividade. O resultado vem na esteira de relatos de novos casos de covid-19 na China e pode aumentar a pressão para que o governo chinês adote novas medidas de estímulo à economia.

"O PMI industrial da China em nível de retração preocupa. O país deveria ser o amortecedor da desaceleração da atividade mundial, mas não está funcionando como pressupúnhamos, o que eleva a percepção de recessão. Fica difícil o Ibovespa engajar alta quando ações ligados a commodities não ajudam; bancos também caem. São ações de peso na carteira", avalia Matheus Spiess, analista da Empiricus Research.

O minério fechou em leva baixa de 0,42% em Dalian, mas o petróleo cai acima de 1,00% em Londres e nos EUA, em meio a preocupações com a demanda. Às 11h23, Vale ON caía 0,11%, enquanto Gerdau PN recuava 1,19%, mas Usiminas PNA zerava a queda. Petrobras, por sua vez, tinha declínio de quase 0,60%.

Além do PMI industrial chinês ficar abaixo do limiar contracionista (50 é indicativo de expansão), há cautela nos mercados por conta da espera da votação do teto da divida dos EUA, ressalta Fabricio Silvestre, economista do TC. "O ambiente internacional segue contando com inflação resiliente, mercado de trabalho forte e desaceleração econômica na margem", cita.

Internamente, a desaceleração da taxa de desemprego para 8,5% no trimestre até abril, a um nível menor do que a mediana das expectativas de 8,7% na pesquisa do <b>Projeções Broadcast</b>, é bem vista, reforçando o debate de boas perspectivas em relação ao Brasil.

Um reflexo disso é o sinal de queda dos juros futuros e de alta de algumas ações ligadas ao ciclo econômico, em meio a perspectivas de recuo da Selic, que está em 13,75% ao ano. À tarde, sairá o Caged de abril.

Além disso, o setor público consolidado (Governo Central, Estados, municípios e estatais, com exceção de Petrobras e Eletrobras) registrou superávit primário de R$ 20,324 bilhões em abril, após resultado deficitário de R$ 14,182 bilhões de março, sendo o terceiro maior para o mês da série histórica do Banco Central.

"Os dados domésticos são bons e ajudam na queda da curva de juros, permite uma interpretação menos negativa da atividade e em relação ao fiscal", avalia Spiess, da Empiricus.

Apesar de sinais de um mercado de trabalho forte no Brasil, Fernando Bento, CEO e sócio da FMB Investimentos, afirma que mesmo assim, as expectativas de inicio de queda da Selic no segundo semestre devem continuar. "O que será determinante mesmo será a inflação corrente, as expectativas."

A expectativa é que a economia brasileira continue dando sinais positivos, elevando a espera pela divulgação do PIB do primeiro trimestre pelo IBGE, amanhã. "O PIB do primeiro trimestre dever vir mais positivo amanhã, por conta da Agricultura forte, por causa da safra, o que dará importante contribuição ao crescimento , diz Bento, da FMB Investimentos.

A Mirae Asset acredita que as condições para o início do ciclo de baixa da Selic estão postas. A dúvida, cita em relatório, é saber se será em agosto ou setembro.

Às 11h26, o Ibovespa caía 0,31%, aos 108.63439 pontos, após mínima aos 108.193,41 pontos (-0,71%) e máxima aos 108.984,61 pontos, em alta de 0,02%. As ações da BRF subiam 7,84%. A empresa comunicou que estuda alternativas para realização de uma oferta primária de ações, considerando a distribuição de 500 milhões de novos papéis a um preço de R$ 9,00 por ação. Marfrig avançava cerca de 4,96%.

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