Estadão

Cautela externa por risco bancário atinge Ibovespa, que cai mais de 2%

A aversão a risco externa após o principal acionista do Credit Suisse, o Saudi National Bank (SNB), descartar a hipótese de oferecer mais ajuda à instituição, que enfrenta sérias dificuldades desde 2022, contamina o Ibovespa.

O temor é de que o índice Bovespa desça ainda mais até o fim do pregão, após cair 0,18% (a quarta queda seguida), ontem, aos 102.932,38 pontos. Por ora, já cedeu cerca de 2.120 pontos, entre a abertura (102.929,70 pontos) e a mínima diária (100.854,43 pontos, com recuo de 2,02%). Vale lembrar que o giro financeiro pode ficar acima da média diária por conta do vencimento de opções sobre Ibovespa.

O nível de baixa visto até o momento foi registrado pela última vez em 27 de julho de 2022 (101.437,96 pontos, no fechamento). "Se romper os 100 mil pontos encerramento, como já ocorreu outras vezes no mesmo dia 27 a mínima foi aos 99.771,55 pontos), pode precificar novas perdas, indo a 93 mil, 94 mil pontos", estima Lucas Martins, especialista em renda variável da Blue3.

Apesar de o Credit Suisse não ter mais a relevância do passado, os problemas financeiros da instituição preocupam pois ainda não se sabe até onde essa crise pode se arrastar e há o risco de contágio, avalia José Faria Júnior, Planejador Financeiro CFP pela Planejar e diretor da Wagner Investimentos. "Isso colocam o Fed e o BCE em uma situação complicada dada a proximidade de reunião desses BCs, se vão subir os juros ou se nem farão isso", diz.

"E tudo isso em meio a uma tendência de baixa das commodities, e o Brasil, que está com PIB negativo e arrecadação fraca, é um player importante. Deixa os termos de troca do País piores e num momento de adoção de política anticíclica", afirma Faria Júnior.

No Ibovespa, os papéis de bancos têm recuo de até 2,50%, assim como os da Petrobras, enquanto Vale caía mais de 3% e CSN ON perdia 5,60%. Além disso, alguns resultados corporativos internos pesam, caso de CVC, cuja ação recuava mais de 8% há pouco.

"Hoje realmente é um dia de aversão a risco nos mercados. Essa narrativa da falência de bancos segue ganhando força, em meio a temores de um risco sistêmico", avalia Martins, da Blue3.

Segundo ele, a retomada da China, ainda aquém do esperado, preocupa neste ambiente de juros altos e de incertezas com o setor financeiro.

A notícia do Credit vem após a falência de dois bancos regionais dos Estados Unidos e provoca recuo generalizado dos mercados de ações do ocidente, de papéis do setor financeiro, na Europa, e do petróleo (cede perto de 4%), além de fortalecimento do dólar.

O temor é que os problemas dessas instituições gerem um risco sistêmico. Neste sentido, há cautela entre os investidores de que os principais bancos centrais mundiais parem de apertar os juros, sobretudo o Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos), que define suas taxas na semana que vem.

"É uma situação bastante preocupante, dado que pode começar a ter corrida por saques e quebra do banco", avalia o estrategista-chefe do Grupo Laatus, Jefferson Laatus, em comentário matinal a clientes e à imprensa. "Deixa todo o mercado em compasso de espera. A dúvida é se há só uma por segurança ou se existe uma preocupação maior com o setor e eventual desaceleração da economia o que pode gerar um movimento dos bancos centrais de pararem de subir juros", analisa Laatus.

Na Europa, as bolsas de Paris e de Londres perdiam mais de 3% perto de 11h40, com perdas de dois dígitos do Credit, que contamina as ações de outros bancos. Já as de Nova York cediam quase 1,80%, caso do Dow Jones. O minério de ferro em Dalian, na China, fechou estável, a US$ 134,32 a tonelada. Além disso, dados chineses de indústria mostrando uma recuperação mais fraca do que a esperada, tendem a reforçar a cautela entre os investidores.

Às 11h39, o Ibovespa caía 2,03%, aos 100.843,74 pontos.

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