Estadão

Cautela externa, Vale e espera de desdobramentos da PEC jogam Ibovespa para baixo

A cautela externa, dados da Vale e temores com a PEC impedem alta do Ibovespa nesta quarta-feira, após subir 0,72% na terça-feira, aos 110.188,57 pontos, na esteira da aprovação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da transição na CCJ do Senado na véspera. Os investidores colocam o pé no freio , à medida em que há dúvidas se haverá ainda mais redução na proposta aprovada ontem na CCJ do Senado.

"A princípio, o primeiro impacto da aprovação da PEC na CCJ do Senado ontem foi positivo e a expectativa é que seja novamente desidratada, mas há dúvidas. Isso e o desaquecimento da China balança comercial com temor de recessão americana, além de Vale dados fracos pesam", avalia Nicolas Farto, head de renda variável da Renova Invest.

A aprovação da PEC na CCJ foi a primeira vitória do governo eleito contra a oposição bolsonarista. A proposta amplia o teto de gastos em R$ 145 bilhões em 2023 e 2024 para pagar o Auxílio Brasil (que voltará a se chamar Bolsa Família) turbinado a partir do ano que vem. A PEC segue agora para o plenário do Senado. Congressistas admitiram que o texto da PEC da Transição pode sofrer alterações durante a votação do plenário da Casa.

"Aqui, o Ibovespa está no meio do caminho de uma indefinição entre perder o suporte dos 107 mil pontos e superar a resistência dos 113 mil pontos, mas certamente a política vai dar o tom para os mercados", avalia em comentário matinal o economista Álvaro Bandeira.

Ao mesmo tempo, os mercados acompanharão o início do julgamento pelo Supremo Tribunal Federal (STF) da constitucionalidade do orçamento secreto, instrumento usado pelo governo para obter apoio político e montar uma base de sustentação no Congresso.

Os índices futuros de ações norte-americanos e as bolsas europeias têm quedas moderadas, enquanto as asiáticas fecharam com recuo maior. A retração é atribuída ao quadro de aversão a risco geral e ainda a números bem abaixo do previsto para o volume de exportações e importações da China em novembro. Após recuar mais de 1%, o petróleo tentava alta, enquanto o minério caiu, puxando para baixo as ações do segmento metálico. Destaque para o recuo de 2,67% dos papéis da Vale, após a empresa informar que a produção de minério de ferro da empresa em 2023 deve se manter em linha com os níveis atuais, entre 310 e 320 milhões de toneladas.

"O fato de estar se preparando para uma demanda menor é saudável, mas tende a diminuir a receita", afirma Farto, da Invest. Jas as ações da Petrobras subiam até 1%.

Além de dúvidas sobre se haverá nova desidratação na PEC da transição, os investidores estão preocupados principalmente com o nível de aperto monetário no exterior, especialmente do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano). Os dirigentes do BC americano se reúnem na semana que vem. As expectativas indicam aumento do juro em meio ponto porcentual.

Já no Brasil, o Comitê de Política Monetária (Copom) deve manter a Selic em 13,75% ao ano, com os investidores e especialistas do mercado financeiro atento ao comunicado, na busca por sinais sobre o fiscal. A maior expectativa em relação ao Comitê de Política Monetária (Copom) gira em torno do comunicado, sobretudo em relação às condições fiscais do País. A avaliação é do economista-chefe da Alphatree Capital, Raone Costa.

A aposta majoritária no mercado é de que o Copom mantenha a Selic em 13,75% ao ano nesta quarta-feira. Caso isto seja confirmado, não deve gerar tanto impacto nos mercados, que ficarão mais atentos a eventuais comentários do Banco Central (BC) sobre o que está acontecendo no fiscal e, em especial, na PEC de transição, diz Costa.

"Até agora, o BC não se pronunciou efetivamente sobre a PEC. O mercado começou a precificar um aumento do aperto monetário pelo BC não nesta reunião, mas nas próximas. Vamos ver se referendará isso", afirma o economista-chefe da Alphatree Capital, Raone Costa.

Costa considera difícil que o BC seja "fortemente assertivo" sobre as condições fiscais do País no comunicado do Copom. "Mas como a curva de juros mudou muito em meio ao debate fiscal, será instado a se pronunciar de alguma maneira e será isso que o mercado vai olhar", cita.

Às 11h26, o Ibovespa cedia 0,24%, aos 109.929,09 pontos, após abertura aos 110.188,05 pontos, mínima aos 109.244,27 pontos (-0,86%) e máxima aos 110.246,79 pontos (alta de 0,05%).

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