Estadão

Cautela global, preocupação fiscal local e balanços pesam no Ibovespa

Depois da indefinição, o Ibovespa migrou para o terreno negativo e, há instantes, perdeu até mesmo os 105 mil pontos, com mínima diária indo a 104.425,02 pontos, com recuo de 1,21%, às 10h48. A piora é puxada pelo declínio das duas principais empresas listadas no índice – Vale e Petrobras. Investidores reagem negativamente aos balanços das companhias informados na quinta-feira à noite, enquanto avaliam as explicações dos executivos das empresas sobre os números.

Às 10h42, Vale ON cedia 2,20%, enquanto Petrobras recuava 3,76% (PN) e 4,19% (ON).

Em meio a ruídos sobre interferência política na estatal, Cláudio Rogério Linassi Mastella, o diretor executivo de Comercialização e Logística da estatal, disse no período da manhã desta sexta que a empresa segue com firmeza a política de preços, com base técnica e independente.

Disse não ver aumento relevante da demanda por combustíveis em novembro. Em Nova York, o recuo máximo era de 0,47% (Nasdaq).

Além disso, o minério de ferro caiu de novo na China. Em meio a este ambiente, as perdas em ambos os períodos tendem a ser elevadas. Atualmente, a queda semanal é de 1,77% e, no mês, recua 5,91%, o que deve confirmar a quarta retração mensal consecutiva.

Nem mesmo o desempenho financeiro da Petrobras melhor do que o calculado por especialistas alivia. O lucro da empresa atingiu R$ 31,14 bilhões no terceiro trimestre deste ano, revertendo prejuízo de igual período de 2020. O dado superou as expectativas. Além disso, a companhia anunciou R$ 31,8 bilhões em dividendos aos acionistas.

No mais, fica no radar a paralisação dos caminhoneiros prevista para segunda-feira no País, assim como as novas afirmações do presidente Jair Bolsonaro em relação à petrolífera. Bolsonaro afirmou ontem à noite que a estatal precisa reduzir sua margem de lucro. Porém, prometeu que não haverá quebras de contratos.

"São esses tipos de falas na parte política que interferem na busca por proteção, principalmente quando vemos o estrangeiros se protegendo em dólar e em juros futuros. Sugere que o governo está tentando interferir a ter um dedo na companhia", avalia Vitor Miziara, da Criteria Investimentos, em análise matinal a clientes e à imprensa.

Além disso, prosseguem no foco dos investidores os crescentes problemas fiscais. Agora, o governo fala na possibilidade de prorrogar o auxílio emergencial ou reeditar o estado de calamidade e usar crédito extraordinário para financiar o Auxílio Brasil de R$ 400 em 2022, tendo em vista as dificuldades para aprovação da PEC dos Precatórios. A votação na Câmara vem sendo adiada por falta de quórum e foi remarcada para quarta-feira (3).

Como observa o economista Silvio Campos Neto, sócio da Tendências Consultoria, rumores sobre um "Plano B", que envolveria um novo decreto de calamidade, causaram estragos nos mercados ontem. Assim, cita em nota, não há expectativa de mudança de ambiente por ora. "O Ibovespa tem que lidar com as quedas das bolsas globais e a possível reação negativa da Vale. A Petrobras poderia trazer um alento com os fortes números do balanço, mas críticas do presidente Bolsonaro à política de preços devem impedir a melhora", estima.

O lucro da Vale atingiu US$ 3,886 bilhões no terceiro trimestre de 2021, aumento de 34% em relação ao mesmo período de 2020. O Ebitda ajustado cresceu 14% em um ano. Contudo, os valores ficaram abaixo do esperado pelo mercado. Apesar disso, o BTG reiterou compra de ações da Vale após balanço, apesar de correção acentuada do minério.

No exterior, o sinal é negativo na maioria dos mercados de ações, assim como o petróleo recua e o minério de ferro fechou em baixa de 4,77%, a US$ 107,28 a tonelada, no porto chinês de Qingdao. O desempenho lá fora vem na esteira de balanços trimestrais decepcionantes da Amazon e da Apple, enquanto investidores ficam de olho na alta dos Treasuries e do dólar, diante de expectativas de que o Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) anuncie o início do chamado "tapering" na reunião do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês) da semana que vem.

"Volta o temor de que os mercados crescimento mundial não estão tão fortes e que a inflação é crescente, o que pressiona os bancos centrais a agirem, a aumentar juros e a retirarem estímulos para diminuir a liquidez. E isso tem um baque maior na recuperação do mundo todo", avalia Miziara.

Nesta manhã, saiu o índice de preços PCE dos EUA subiu 0,3% em setembro ante agosto.

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