Estadão

Cautela mundial por juro e inflação altos pesa no Ibovespa

Onda de aversão a risco se espalha pelo globo e o Ibovespa não fica imune, depois de já ter fechado a primeira semana de maio com perdas de 2,54%. A avaliação de que os bancos centrais mundiais terão de continuar com políticas monetárias duras, de forma a manter os juros altos por mais tempo para conter a inflação, se junta a novos sinais de arrefecimento da China. Por isso, a agenda da semana será importante para ajudar os investidores a balizarem suas expectativas para os juros nos Estados Unidos e também no Brasil.

"Prossegue a precificação de um ajuste monetário vigoroso pelo Fed, o que se traduz na continuidade da alta dos yields dos treasuries", resume o economista Silvio Campos Neto, sócio da Tendências Consultoria, em análise matinal.

Segundo Bruno Takeo Komura, analista da Ouro Preto Investimentos, o desempenho é bastante condizente com o movimento de aversão a risco deste início de semana que domina por causa das preocupações com a China e também por conta da inflação e consequente aumento da taxa de juros pelo Fed.

"Apesar de os dados de exportação da China terem ficado acima do esperado, desaceleraram ante março, porque as fábricas estão produzindo menos e também por causa dos engarrafamentos, problemas logísticos nos portos por conta de lockdows para conter a covid", diz Takeo

De acordo Rachel de Sá, chefe de Economia da Rico Investimentos, a segunda-feira começa com "cara de ressaca", depois de uma semana de elevada volatilidade nos mercados internacionais e doméstico. Por trás do mau humor de investidores, explica, seguem preocupações com um cenário de economia robusta de um lado, e pressões inflacionárias e elevação de juros, do outro.

Há pouco, a piora das bolsas americanas faz o Ibovespa continuar renovando mínimas, chegando a indicar que poderia perder o nível dos 103 mil pontos. O temor é de que o indicador aprofunde mais a queda e vá para a tão temida marca psicológica dos 100 mil pontos. Além do exterior, chama a atenção do recuo expressivo nas ações da Petrobrás. Hoje a empresa subiu o preço do diesel. Agora, o próximo aumento tende a ser o da gasolina, dada a discrepância entre os preços internacionais.

"Acredito que essa piora nos papéis estatal seja mais por conta da pressão governamental, de uma possível interferência. Porém, não acredito que terá", avalia Álvaro Bandeira, economista e consultor de finanças. "O diesel era o que estava mais defasado mesmo. No caso da gasolina, tem os seus cerca de 15% diferença. Pode segurar um pouco. Se o petróleo continuar caindo, tende a retardar um aumento", completa. Às 10h53, o Ibovespa caía 1,62%, aos 103.431,73 pontos, após mínima diária a 103.163 pontos (-1,88%). Petrobras cedia 1,48% (PN) e 2,21% (ON).

Hoje o petróleo cai diante de temores com a demanda global, pesando nas ações da Petrobras. O minério de ferro também desabou em Dalian, em meio a indícios de desaceleração da economia chinesa, outro fator de baixa para o índice Bovespa. Vale ON cedia quase 3%.

Conforme a MCM Consultores, os fracos dados do comércio exterior da China em abril tornam ainda mais incerto o cenário econômico para este ano, e a continuidade da elevação dos juros dos títulos americanos mantém em queda os ativos de risco. "Fraca agenda doméstica. Ativos locais devem acompanhar o movimento externo de baixa", cita em nota.

O tema inflacionário também norteia os negócios no Brasil. Na quarta-feira, sai o IPCA de abril, que deve desacelerar ante março, mas com a taxa acumulada em 12 meses podendo superar os 12%, reforçando expectativa de uma inflação fechando em dois dígitos, como prevê o BNP Paribas. Antes, porém, o mercado quer ver se a ata do Copom, que sai amanhã, indica o ritmo de alta da Selic em junho.

Nem mesmo resultados robustos de empresas brasileiras livram o índice Bovespa de queda, após ceder 0,16%, aos 105.134,73 pontos, na sexta-feira.

Em linha com o esperado, o Itaú Unibanco registrou lucro líquido gerencial de R$ 7,361 bilhões no primeiro trimestre, uma alta de 15% em um ano. Já o BTG Pactual fechou o primeiro trimestre com lucro líquido ajustado de R$ 2,1 bilhões, um resultado recorde para um único trimestre, 72% superior ao mesmo período do ano passado e 15,7% acima do quarto trimestre de 2021.

Após prejuízo no primeiro trimestre de 2021, a Azul registrou lucro líquido de R$ 2,65 bilhões entre janeiro março deste ano.

Perto de 11 horas, apenas sete ações do Ibovespa subiam.

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