Mundo das Palavras

Cazuza e Veja

Cazuza não reagiu como seus pais ao modo como Alessandro Porro e Ângela Abreu, jornalistas da revista Veja, trataram a família deles, em abril de 1989.


Os jornalistas usaram suas ligações pessoais com João e Lucinha Araújo para invadirem a privacidade de Cazuza, num momento em que ele, já muito debilitado fisicamente pela AIDS, era protegido da curiosidade pública por seus parentes.


Quando o cantor concordou em recebê-los em seu apartamento, João e Lucinha pediram duas vezes que eles fossem cuidadosos a fim de que o estado de Cazuza não se agravasse com a publicação da reportagem na Veja.   Nas duas ocasiões, Porro prometeu que nada na reportagem deles iria aborrecê-los.


No entanto, desde seu título (“Cazuza, vítima de AIDS agoniza em praça pública) a reportagem de capa escrita por eles foi considerada arrasadora por Lucinha no livro “Cazuza, só as mães são felizes”. Nela, os jornalistas anunciaram a morte iminente do cantor atribuindo-a a uma rotina de promiscuidade sexual e consumo de drogas. Nem as músicas de Cazuza foram poupadas. Segundo eles, o valor e a perenidade delas eram incertos.


Lucinha revela no livro que a leitura da reportagem fez Cazuza chorar convulsivamente. A pressão arterial dele, em seguida, desabou até quase chegar a zero. Ele começou a passar mal e teve de ser reinternado às pressas numa clínica. Somente cerca de seis horas depois os médicos conseguiram reestabilizar a pressão arterial do cantor, revela Lucinha. “Temi por sua vida”, acrescenta ela, indignada, no livro.


Dias depois, menos enfraquecido, Cazuza mandou para os jornais e revistas do Rio de Janeiro sua resposta à Veja. O título de seu texto parodiava o da reportagem: “Veja, a agonia de uma revista”. Nele, Cazuza mirou no ponto mais vulnerável do trabalho dos jornalistas: a proximidade da morte dele fora anunciada, sem que Porro e Ângela tivessem ouvido os médicos que lhe davam assistência.


            João e Lucinha não se prenderam ao comportamento técnico-profissional dos jornalistas, com fez Cazuza. Reagiram apenas como pais inconformados pelo prejuízo imposto a um filho deles por supostos amigos seus. Ele se ocupou de Porro e ela, de Ângela, como a própria Lucinha conta em seu livro.

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