Há exatos 22 anos, Veja, a revista de maior circulação em nosso país, iria provocar grande consternação entre seus leitores. Àquela altura, Cazuza enfrentava a contaminação da AIDS, sem os recursos que a Medicina só criaria nas décadas seguinte. O cantor estava devastado fisicamente e morreria quatorze meses depois. Já havia passado pelas fases de revolta e de depressão inevitáveis a quem fica ciente da impossibilidade de cura depois de ser atingido por uma doença letal, como foi a AIDS.
Uma das poucas esperanças que o cantor ainda podia alimentar era a de produzir um novo disco, embora o estado do seu organismo criasse para ele muitas dificuldades no cumprimento da rotina das gravações de músicas em estúdios. Cazuza se agarrava ansiosamente àquela esperança.
No livro que escreveu sobre o cantor, com a competente assessoria da jornalista Regina Echeverria, Lucinha Araújo, genitora dele, conta que naquele instante a doença já avançara a ponto de deixar deprimidos todos os técnicos do estúdio da Polygram ao verem o estado de Cazuza quando chegava para gravar.
O cantor, continua Lucinha, em “Cazuza. Só as mães são felizes”, “tinha tanta pressa que chegou a gravar deitado no sofá do estúdio, sob o efeito de 39 graus de febre”. Neste estado de “euforia criativa”, como o denomina Lucinha, ele foi alcançado por uma estratégia montada na redação de Veja. O objetivo da investida da publicação: penetrar na intimidade da vida particular de uma figura pública como Cazuza, para registrar as aflições que a AIDS geravam nele e na sua família.
Cazuza ficou excitadíssimo com o interesse da revista por ele porque achou que poderia realizar um antigo sonho, embora isto tivesse necessariamente de ocorrer de modo arriscado para um portador da sua doença, vista com muito preconceito naquele período. O sonho era o de aparecer na capa de uma publicação do porte da Veja. E foi alimentado com um recurso particular usado pela Veja para convencê-lo a concordar com a produção de uma reportagem sobre aquele período da sua vida e da sua carreira. A revista designou uma ex-colega da mãe do cantor, a jornalista Ângela Abreu, para as primeiras conversas com ele.