Mundo das Palavras

Cazuza traído. Segunda parte

Cazuza agarrou imediatamente o exemplar da revista Veja, ao vê-la na mão de seu pai, João Araújo. Sua ansiedade era enorme, naquela última semana de abril do ano de 1989, quando poucas expectativas ele podia ter em relação a seu futuro. Contaminado por AIDS, num período em que a Medicina dispunha de parcos recursos para combater a doença, sua fragilidade física já chegara a ponto de obrigá-lo a descansar num sofá da gravadora Polygram, no meio das gravações daquele que seria o seu último disco.


Cazuza achava que aquele exemplar de Veja realizaria um antigo sonho dele: o de aparecer na capa de uma grande revista nacional. Para realizá-lo, ele tinha criado muitas preocupações a seus pais pois concordara em receber no apartamento onde vivia os jornalistas Alessandro Porro e Ângela Abreu sem se importar em exibir o corpo emagrecido e o equipamento hospitalar do qual ele dependia permanentemente. O cantor confiava na ligação que Angela tivera com sua mãe, Lucinha como ex-colega dela no Sacré Coeur de Marie, do Rio de Janeiro, assim como no fato de Alessandro já ter visitado a casa da família dele, em Angra dos Reis.


Cazuza leu tudo o que Alessandro e Ângela escreveram. O que ocorreu depois foi relatado por Lucinha, no livro “Cazuza, só as mães são felizes”: “Quando acabou, seus olhos estavam cheios de lágrimas: – Eu só não perdoo eles terem posto em dúvida a qualidade de meu trabalho!”


Lucinha prossegue: “Meu filho não aguentou. As lágrimas tristes se transformaram em choro convulsivo. A pressão baixou quase a zero. Não conseguimos controlar a crise em Petrópolis e decidimos levá-lo imediatamente para o Rio. Na estrada, com a enfermeira e Zélia, nossa caseira de Petrópolis, ao lado, Cazuza passou por momentos críticos. Meu desespero era tanto que temi por sua vida, imaginando que ele não resistisse às curvas da Rio-Petrópolis. Era uma hora da madrugada quando meu filho, já internado e medicado na Clínica São Vicente, saiu da crise e a pressão foi estabilizada”.


 


 

Posso ajudar?