O guia médico da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) para a volta gradual do futebol após a pandemia do novo coronavírus prevê uma série de atividades bem diferentes da realidade habitual da modalidade. O documento foi entregue ao Ministério da Saúde e agora aguarda aprovação. Se o texto original for mantido, os jogadores vão ter uma rotina bastante modificada com vestiários fechados, medição contínua da temperatura e até teste de olfato.
A CBF tem mantido o material sob sigilo, mas o <b>Estado</b> teve acesso ao intitulado "Guia Médico de sugestões protetivas para o retorno as atividades do futebol brasileiro". São 27 páginas. Fora o habitual cuidado de treinos em grupos separados, como já tem sido feito na Europa, o texto prevê uma bateria de testes para detectar a possível contaminação dos jogadores e observação dos sintomas.
Uma das passagens mais curiosas trata de um exame para verificar a possível perda de olfato, que é um dos impactos mais sentidos pelos infectados com a doença. O guia sugere que o jogador que relatar a falta de sensibilidade no cheiro, deve passar por um procedimento em que uma porção de café será colocada a cerca de 5 centímetros de distância do rosto dele. Se ainda assim o atleta dizer que não sente o cheiro, ele deverá ser encaminhado para um teste molecular mais detalhado.
Em outro trecho do guia, há a sugestão para o que os elencos sejam submetidos a testes imunológicos rápidos 48 horas antes do início das atividades. Quem apresentar resultado negativo, estará liberado para treinar, porém vai continuar sob vigilância. No caso de quem testar positivo, vai precisar permanecer distante dos demais colegas e só poderá voltar a treinar se permanecer sem sintomas durante três dias.
O guia teve a elaboração da Comissão Nacional de Médicos da CBF, juntamente com médicos de clubes e da própria seleção brasileira. O infectologista Sergio Wey, do Hospital Albert Einstein, de São Paulo, é um dos orientadores. A redação final foi de autoria de Roberto Nishimura, ortopedista da Ponte Preta. Também participou do trabalho o diretor médico do Avaí, Luis Fernando Funchal, que foi um dos responsáveis pelo guia de retorno do Campeonato Catarinense.
Alguns clubes têm acompanhado as discussões sobre o material e, inclusive, aplicado parte das recomendações. O Grêmio, por exemplo, higienizou o centro de treinamentos com produtos químicos antes da volta dos jogadores, procedimento recomendado pelo texto da CBF. O guia sugere que os jogadores já se apresentem aos treinos com o uniforme do clube e não tomem banho nas dependências do clube. Procurada, a entidade não comentou o assunto.
Para concluir o trabalho de estudo, a CBF entrou em contato na semana passada com uma sociedade médica científica com o objetivo de receber um aval sobre o guia. Os dirigentes pretendem pagar por esse serviço de consultoria para realizar possíveis alterações no texto final com base na indicação de livros e artigos científicos nacionais e internacionais.
TREINOS EM CASA – Enquanto o futebol aguarda um aval para ser retomado integralmente no Brasil, a maioria dos jogadores dos times da Série A têm feito treinos em casa. O atual campeão da Copa Libertadores, o Flamengo, passou ao elenco uma cartilha de atividades físicas para serem realizadas. A maior parte se trata de treinos funcionais, que dispensam o uso de equipamentos complexos.
O Palmeiras começou na última segunda-feira a ter uma atividades orientadas à distância. O técnico Vanderlei Luxemburgo e funcionários da comissão técnica aguardam os jogadores às 10 horas da manhã e passam instruções de trabalhos ao vivo, por vídeo. Os atletas precisam cumprir as séries e com uma câmera gravam os exercícios e devolvem ao clube para que o material seja analisado.
O atacante Dudu chegou a divulgar vídeos do trabalho feito dentro de casa. Na varanda do apartamento onde mora em São Paulo, ele colocou pequenos cones e aparelhos para realizar alguns exercícios. Para gravar os movimentos, ele posicionou o laptop em uma cadeira.