Rachaduras na parede, afundamento de piso, movimentação estrutural, ruptura na tubulação de gás, inundação, infiltração de água da chuva, derretimento dos fios de energia elétrica e interrupção no abastecimento de água são alguns dos problemas relatados por moradores do Condomínio Portal Flora, no Bonsucesso, durante reunião da Comissão Especial de Estudos (CEE), realizada na última sexta-feira (23), no Plenário da Câmara de Guarulhos. Os vereadores analisam o risco de desabamento dos apartamentos interditados em janeiro pela Defesa Civil, mas reocupados depois de 27 dias, após liberação da Secretaria de Desenvolvimento Urbano (SDU). O condomínio foi inaugurado há aproximadamente um ano.
“O sonho da casa própria parecia realizado quando fomos sorteados, mas o Minha Casa, Minha Vida virou minha casa, minha ruína”, lamentou Márcia de Souza Félix (50). A moradora relatou que houve um estouro durante a madrugada e apareceram grandes rachaduras na escada. O último degrau caiu e a escada ficou oca, dividida ao meio. “A laje da vizinha de baixo está solta há mais de dois meses e o chão do banheiro está cedendo.” Para ela, há problemas de drenagem, que provocam uma inundação generalizada nos apartamentos do piso térreo. “Quando chove a gente tem que descer a escada de canoa.” O prédio também apresenta problemas elétricos e há relatos de pequenos incêndios na caixa central de energia. “Ficamos mais de 15 dias sem água, foi um caos; depois descobriram que o problema não era do Saae; os fios elétricos de acionamento da bomba d’água derreteram e grudaram.”
A empresa Qualyfast, responsável pela execução da obra, mandou engenheiros e advogados para prestarem esclarecimentos aos parlamentares da CEE. Segundo o engenheiro Flávio Wilton Alves, criou-se uma junta de dilatação devido à movimentação da estrutura. Por isso, a empresa mantém um departamento de assistência técnica com 15 profissionais, entre pedreiros, gesseiros e engenheiros, que ficam permanentemente no local. Entretanto, quando questionado sobre o risco de morte para os moradores, o engenheiro limitou-se a dizer que a responsabilidade pela avaliação é da empresa Solofund Engenharia Estrutural, que fez o último laudo para liberar a reocupação.
A vereadora e presidente da CEE, Janete Rocha Pietá (PT) questionou se a SDU se sente segura com o laudo emitido pela Solofund, já que a empresa terceirizada foi indicada pela própria construtora Qualyfast. Para a SDU, a qualidade de execução da obra é diferente do problema estrutural, e o laudo assegura que não há riscos. No entanto, o secretário de Desenvolvimento Urbano, Jorge Taiar, manteve-se cauteloso e informou que será feita uma nova vistoria no residencial para verificar se há aumento das rachaduras.
DO RISCO AO RISCO
Segundo o advogado que representa os moradores, Charles Aparecido Correa de Andrade, mais de 400 famílias, depois de mudarem para apartamentos novos e deixarem para trás barracos construídos precariamente na margem de córregos ou em áreas de risco, agora, estão expostas a um risco ainda maior: o de desabamento. Andrade diz que é necessário evacuar o prédio e interditá-lo para reforçar toda a estrutura, antes que algo grave aconteça. “O risco de uma ruptura no bloco é grande”, declarou.
O advogado explicou que centenas de mães estão assustadas, pois cuidam de cadeirantes, crianças acamadas e idosos com dificuldades de locomoção e não conseguiriam correr em caso de uma catástrofe. “Existem rupturas graves nas fundações, embora a construtora afirme que corrigiu os problemas; a escada que serve como reforço estrutural no bloco três está se rompendo; os moradores estão com medo de cair porque a escada abriu ao meio.”
O PROBLEMA
“Não há drenagem no terreno”, garantiu Andrade. As informações são dos próprios funcionários da Qualyfast, que trabalharam na fundação do prédio. “No local existiam minas d’água, mas a construtora não fez o tratamento de drenagem adequado para escoar essa água, por isso ocorreu o afundamento do bloco três.” Andrade conta que o terreno tem vários poços de concreto para armazenar a água e ao remover a tampa é possível constatar que eles estão cheios de água, até o limite.
O LAUDO
Quanto ao laudo que liberou a reocupação, o advogado assegura que há erros claros e as declarações são contraditórias. “O laudo é pífio, continua havendo deslocamento de terra no condomínio, tanto que as rachaduras estão abrindo diariamente.” Os erros apontados por Andrade são os seguintes: numa folha do laudo a Solofund afirma que a estrutura do prédio precisa de 28.4 toneladas força, que no caso é o esforço empregado em cima de cada estaca para sustentação; na folha seguinte, ela reduz para 24.3; e logo em seguida ela descreve que a fundação exigiria aproximadamente 24 toneladas força por fundação. “O que ocorre é que além do desencontro dessas informações, a construtora subdimencionou as necessidades e reduziu as margens de segurança quando fez o estudo das fundações.”
A SOLUÇÃO
Dois engenheiros que avaliaram a obra ao lado de Andrade acreditam que a construtora precisa fazer o escoramento estrutural de todo o prédio, com a suspensão da fundação ou baldrame através de guindastes para que os operários façam o reforço em baixo. “Existe a necessidade de se fazer um reforço estrutural interno, mas isso demora, no mínimo, seis meses e não 27 dias”, explicou.
VISITA TÉCNICA
Vereadores e Engenheiros da Qualyfast, Secretaria de Desenvolvimento Urbano e Defesa Civil farão uma vistoria técnica na próxima sexta-feira, 30 de junho, às 10 horas, no Residencial Portal Flora, no Bonsucesso.