O ex-ministro das Relações Exteriores Celso Amorim, que ocupou o cargo durante os dois mandatos de Luiz Inácio Lula da Silva, criticou nesta segunda-feira, 4, a posição do novo titular da pasta, José Serra, que tem defendido a flexibilização das relações do Brasil com o Mercosul, com o objetivo de buscar acordos comerciais com países que não fazem parte do bloco.
“Essas falsas palavras de flexibilização podem destruir aquilo que construímos”, disse o ex-ministro, em evento organizado pelo Instituto Lula em São Paulo. “O Mercosul não foi criado só para o livre-comércio, mas para fortalecer uma identidade sul-americana”, afirmou. “E, mesmo assim, desde que o Mercosul foi criado, o comércio mundial aumentou 5 vezes, enquanto o do Mercosul aumentou 12 vezes”, argumentou.
Sem citar o nome de Serra, ele disse que a abertura comercial proposta pelo novo governo deve trazer alívio econômico no curto prazo, mas será “desastrosa” no longo prazo. “Essa visão comercialista de curto prazo não nos serve”, disse. Para o ex-ministro, o Brasil não pode buscar se relacionar com outros países apenas de olho no custo/benefício, mas deve procurar se afirmar como uma nação relevante diante da comunidade internacional.
Como exemplo de acordos que podem ser prejudiciais ao desenvolvimento do País, ele citou o acordo da Parceria Transpacífico (TPP, na sigla em inglês). “Eles invadem questões que não são só comerciais, são também de meio ambiente, de educação, de regulação da vida dentro do país. Você não pode aceitar isso por causa de uma tarifazinha melhor. Alguém pode se beneficiar, mas o país não”, criticou.
Lula
Depois, Amorim elogiou o esforço de Lula como presidente de ter uma posição de maior altivez na comunidade internacional. “O Brasil passou a ser muito respeitado, passou a ser chamado para participar de grandes eventos de que antes não participava”, lembrou. “O Lula era um presidente que conseguia, ao mesmo tempo, ter uma boa relação com o Bush (George Bush, ex-presidente do EUA) e o Chávez (Hugo Chávez, ex-presidente da Venezuela)”, disse.
Impeachment
O ex-ministro também comentou o processo de impeachment da presidente afastada, Dilma Rousseff. Para ele, a diferença entre o processo de Dilma e o de Fernando Collor é que, enquanto o de Collor uniu o País, o de Dilma dividiu o País. “E o Itamar (Franco) teve muita inteligência e tolerância para conduzir a transição”, disse Amorim, que também foi ministro das Relações Exteriores no governo de Itamar Franco.