Economia

Cenário adverso no Brasil pressiona resultados de Casino, Santander e teles

Ações de companhias estrangeiras com operações relevantes no Brasil têm perdido valor nos últimos dias diante de uma combinação de notícias ruins. A recente depreciação do real, que deve pressionar receitas de companhias com operações fortes no mercado brasileiro, como o banco Santander, o varejista francês Casino e empresas de telecomunicações, soma-se à insegurança de investidores após rebaixamento do Brasil pela Standard & Poors e do ambiente de instabilidade política. O cenário macroeconômico, que afeta o consumo de bens e serviços, também contribui para reduzir a receita que vem do País.

O controlador do Grupo Pão de Açúcar (GPA), o francês Casino, viu suas ações em Paris caírem mais de 16% nos últimos 30 dias. O câmbio traz uma preocupação a mais para o varejista, que já enfrenta o cenário fraco de consumo no Brasil.

Segundo a equipe de análise especializada em varejo alimentar da Bernstein Research, sediada em Londres, as ações do grupo estão sofrendo com a possibilidade de um aprofundamento na desvalorização do real, o que afeta a alavancagem da empresa e pode levar à perda do grau de investimento pelas agências de classificação de risco, como a S&P.

Os analistas Bruno Monteyne, Richard J Clarke e Thomas Wharram, porém, lembram que uma reorganização dos ativos da América Latina representou entrada de caixa para a holding e reduziu o indicador de dívida líquida sobre Ebitda.

Para conter possíveis novos efeitos adversos de câmbio, o Casino poderia ainda fazer uma reorganização nos ativos da Ásia, alugar propriedades ou vender uma fatia do braço imobiliário do grupo, a Mercialys, que também é listado em bolsa.

A perda de valor de mercado do Casino é ainda consequência, em parte, da redução do valor das subsidiárias, em especial do próprio GPA no Brasil, cujas ações acumulam queda de 16,6% no período. A perspectiva ruim para as vendas no País e a desvalorização cambial levaram bancos a cortar previsões para os resultados do Casino.

O Citi, por exemplo, reduziu em 26% a estimativa de lucro por ação da companhia para 2015 e cortou o preço-alvo de € 80 para € 55.

O Santander já admite que a queda da moeda deve “puxar para baixo” o resultado do Santander Brasil, conforme declarou Ana Botín, presidente global do banco, durante encontro com investidores, em Londres. Isso tende a impactar os números globais, uma vez que a operação brasileira responde por um quinto do lucro do banco espanhol. O efeito deve ser compensado, em parte, segundo Ana, pelas plataformas localizadas em países desenvolvidos como Estados Unidos e Alemanha.

Depois de anos como responsável pelas melhores entregas de resultados do grupo, o Brasil perdeu o título no ano passado. A participação local que já chegou a ser de 28% encerrou 2014 em 19%, idêntica à fatia do Reino Unido.

A desvalorização do real também deve afetar a contribuição brasileira nas receitas da Telefônica e da Telecom Itália, que são as controladoras europeias da Telefônica e da TIM no Brasil. No primeiro semestre de 2015, as operações no País responderam por 25,5% da receita consolidada em euros da Telefônica espanhola, enquanto a fatia no faturamento chegou a 26,6% no caso da Telecom Itália.

Para Jonathan Dann, analista do RBC Capital Markets, a fatia da receita vinda do Brasil deve cair, especialmente na Telecom Itália. No caso da Telefônica, a incorporação da GVT no Brasil pode compensar, no curto prazo, a perda no faturamento por efeitos cambiais.

Telefonia

Os investimentos das companhias de telefonia, porém, tendem a ser mantidos, diz Dann. “O câmbio teve um efeito negativo na performance, mas acredito que o compromisso com o Brasil permanece. Por exemplo, ambas empresas têm dado sinais de aumento de participação no Brasil”, afirmou o executivo. “Mas, em geral, o efeito cambial negativo supera o lado positivo do investimento no curto prazo”, acrescentou.

As ações da Telefônica na Espanha também têm sofrido e acumulam queda de mais de 12% em um mês com revisões para baixo das expectativas de analistas diante da depreciação da moeda brasileira.

A companhia do setor de cosméticos Avon é outra que vem sofrendo com a desvalorização de moedas nos diferentes países em que atua, em especial no Brasil. A empresa disse que sua receita consolidada caiu 18 pontos porcentuais no primeiro semestre em razão do câmbio e a pressão de caixa fez com que a companhia passasse a avaliar a hipótese de venda de uma participação para fundos de private equity, conforme noticiou recentemente o The Wall Street Journal. As ações, que custam menos de US$ 4 na bolsa americana Nyse, perderam 21% nos últimos 30 dias depois que a notícia veio à tona. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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