As mudanças recentes do cenário externo são atualmente uma das maiores fontes de risco monitoradas pelo Banco Central, de acordo com o novo diretor de Assuntos Internacionais da casa, Tiago Berriel. O economista carioca, de 35 anos, que integra o núcleo de comando presidido por Ilan Goldfajn no BC, vê o quadro externo com tranquilidade, mas ressaltou estar atento para qualquer alteração “violenta” que possa afetar a economia doméstica.
A atividade dos Estados Unidos, ainda sem sinais claros de recuperação, tem postergado a alta dos juros pelo Federal Reserve (BC local). Da mesma forma, outras potências mundiais têm reduzido as suas taxas e, ao mesmo tempo, irrigado as economias locais com recursos extras. “A gente vê nuvens, mas não necessariamente vai chover. Temos de agir levando em consideração essas incertezas. Não podemos achar que isso vai continuar assim para sempre”, disse Berriel, em sua primeira entrevista como diretor do BC.
A saída do Reino Unido do bloco europeu (Brexit) foi outro ponto monitorado pela instituição, mas não chegou a ter impactos fora da região. Já a China tenta fazer uma transição suave de um país que avançava a um ritmo acima da média e reduziu a aceleração.
“Na China está tudo bem, mas acompanhamos como um fator de possíveis instabilidades futuras, com implicações diretas sobre o Brasil”, disse, enfatizando o grande fluxo de comércio com o país e possíveis reflexos sobre preços de commodities e a atividade doméstica.
O consenso de analistas locais e estrangeiros é que a fartura de recursos continue em todo o mundo por mais tempo. “A gente vê o cenário internacional como uma questão na nossa tomada de decisão. Não podemos achar que isso vai continuar assim para sempre. Devemos agir com muita cautela”, ponderou.
Destino
Países como o Brasil, com juros elevados (14,25% ao ano no caso brasileiro), seriam um dos principais destinos desse dinheiro. Isso implicaria em aumento da entrada de dólares, o que poderia fazer o real se fortalecer ainda mais. “Não temos meta para câmbio e tentamos evitar o excesso de volatilidade, sabendo que o nosso poder de atuação é limitado”, considerou o diretor. Ele enfatizou que o câmbio reflete fundamentos domésticos e externos e reforçou que o BC não possui uma meta para o dólar.
Apesar disso, a instituição tem atuado diretamente no mercado de câmbio todos os dias, por meio de leilões de swap cambial reverso, operações que equivalem à compra de dólares no mercado futuro. O montante da intervenção, que teve início em julho, varia de acordo com a avaliação da instituição sobre a necessidade da moeda americana pelos agentes financeiros.
Até agora, a enxurrada de recursos externos ainda não chegou por aqui. Um sinal de quando estiverem vindo – se realmente vierem – será uma queda ainda maior do dólar. “Os investidores podem tentar antecipar (esse aumento de fluxo por meio da cotação)”, explicou o diretor.
Para Berriel, o mundo enxerga o Brasil hoje com uma posição favorável. E cita que um dos elementos que formam essa avaliação se dá justamente pelo processo desinflacionário que o BC pretende traçar nos próximos anos. Em 2015, o IPCA foi de 10,67% e a previsão mais recente da instituição para este ano é de taxa de 6,75%. Para o ano que vem, o Banco mira em 4,50%.
“O que pode ser ruim para o Brasil, é uma situação de revisões muito violentas (dessas previsões de liquidez)”, previu. O diretor citou como possíveis consequências para o País mudanças nos preços de ativos (bolsa e dólar) e dificuldade de redução da inflação.