Rogério Ceni completa nesta quinta-feira um ano desde seu retorno ao comando técnico do São Paulo. O ex-goleiro e ídolo tricolor tem currículo invejável na história do clube do Morumbi. Como treinador, porém, os títulos ainda não chegaram e têm causado turbulência e elevado as expectativas sobre uma possível saída ou permanência para a temporada 2023.
Questionado pela reportagem do <b>Estadão</b> após a derrota para o Botafogo, por 1 a 0, pelo Campeonato Brasileiro, Rogério Ceni analisou sua trajetória nos últimos 365 dias no comando do São Paulo. O treinador fez um balanço, enumerando fatores que, para ele, fizeram o clube tricolor ter importantes melhorias dentro e fora de campo, principalmente no estímulo ao torcedor para comparecer ao Morumbi e empurrar a equipe para finais de campeonatos.
"Eu acho que o São Paulo se tornou um time bem competitivo ao longo do tempo que nós estamos aqui. Escapou do rebaixamento no ano passado, que era uma situação bem delicada. Nesse ano, criou-se uma expectativa por três vezes de chegar a finais e ser campeão. Acho que colocou esse sabor. Por isso, penso que a frustração de hoje vem muito pelo que nós fizemos até no final de semana passado, quando perdemos para o Independiente del Valle (a final da Copa Sul-Americana)", afirmou o treinador em referência ao desânimo dos torcedores após o vice no torneio continental.
ANTECESSOR VITORIOSO
Rogério Ceni entende que, desde o seu retorno, o São Paulo mudou de prateleira no futebol brasileiro. Porém, antes de sua chegada, o clube saiu da fila perturbadora de quase nove anos sem títulos relevantes ao ganhar, sob o comando do argentino Hernán Crespo, o Campeonato Paulista sobre o rival e favorito Palmeiras.
Crespo, porém, não conseguiu manter a intensidade da equipe no restante da temporada 2021. O time demorou a engatar no Campeonato Brasileiro. A luta contra o rebaixamento se tornou novamente realidade – fato recorrente nos últimos anos. Ceni assumiu o São Paulo na 26ª rodada, ocupando a 13ª posição, com 30 pontos, apenas três a mais que o Bahia, primeiro time da zona de rebaixamento à época.
Ceni não conseguiu levar o São Paulo à sonhada vaga na Copa Libertadores, terminando a edição de 2021 do Campeonato Brasileiro na mesma 13ª posição. Em 2022, a situação não é muito distinta. Apesar de trajetórias antagônicas. O São Paulo começou bem o Brasileirão, mas o foco nos torneios mata-mata deixaram o time na parte inferior da tabela. Somadas 30 partidas no torneio, a equipe tricolor tem 40 pontos. Nesta temporada, no entanto, o clube tem distância tranquila para a degola e ocupa o 12º lugar.
SUCESSO BATEU À PORTA
Sob o comando de Ceni, o São Paulo chegou a duas finais e uma semifinal. No Paulistão, foi à decisão com o Palmeiras, reeditando o confronto de 2021. O apito final, no entanto, deixou um gosto amargo que perdura na boca do são-paulino. Após construir o placar de 3 a 1 na partida de ida, no Morumbi, a equipe tricolor foi atropelada na volta, no Allianz Parque, ao ser goleada por 4 a 0 e ter de se contentar com o vice.
Na Copa Sul-Americana, foi feita uma campanha quase perfeita. Na fase de grupos, Ceni levou a campo os reservas. Mesmo assim, terminou na primeira colocação do Grupo D, com cinco vitórias e um empate, eliminando Everton (Chile), Ayacucho (Peru) e Jorge Wilstermann (Bolívia).
Nas oitavas de final, massacrou a Universidad Católica. Nas quartas de final e na semifinal precisou dos pênaltis para superar Ceará e Atlético Goianiense, respectivamente. A decisão, no último dia 1º de outubro, assombra a mente dos tricolores, com mais um vice, dessa vez para o Independiente del Valle, na cidade argentina de Córdoba, após revés por 2 a 0.
Na Copa do Brasil, o São Paulo foi até a semifinal. Eliminou Campinense, Manaus, Juventude, Palmeiras – de maneira polêmica por erro do VAR – e América-MG. Nas semifinais, caiu diante do Flamengo, com derrotas no Morumbi e no Maracanã.
"De positivo, o São Paulo passou a ser um time com expectativa de título. Isso é uma coisa importante: viver a sensação de ser campeão. Uma pena não conseguir entregar esse título (Sul-Americana), que tornaria o ano muito bom para o São Paulo. A gente está lutando, tentando sempre fortalecer a equipe, ser ter uma equipe coesa. Algumas características de jogadores seja o que mais falta para nós. Mas o clube está tentando investir em profissionais dentro do CT, equipamentos e colocar as contas em dia", analisou Ceni.
POLÊMICAS
Em seu retorno ao Morumbi, Ceni não teve papas na língua e se envolveu em certas polêmicas. No início do ano, negou que tivesse problemas de relacionamento com funcionários do CT da Barra Funda e alguns jogadores, mas apontou situações que lhe incomodavam.
O técnico contou que, quando chegou, a piscina estava vazia, com mesas e cadeiras no lugar onde deveria ter água. Ele também relatou sua preocupação com jogadores machucados que deixavam o CT muito cedo, sendo que, na visão de Ceni, deveriam permanecer nas dependências do clube para reforçar seus respectivos tratamentos. "Eu fazia recuperação de manhã, tarde e noite. E essa cobrança pode fazer pessoas não gostarem. Mas vejo como algo importante ao São Paulo", afirmou o treinador à época.
FUTURO
"Agora, falta bastante para o são Paulo. (As mudanças) Não vão acontecer comigo aqui ou sem mim. Posso garantir a você, não será uma coisa (mudança de nível) que vai acontecer (do dia para a noite). A não ser que apareça alguém com dinheiro para fazer. Se for caminhar só pelo padrão normal, com contrato, televisão, patrocinadores, cotas de campeonatos e jogos, isso vai demorar bastante tempo para voltar a ser um time que possa criar uma expectativa maior ainda de grandes conquistas", concluiu Rogério Ceni.
O ex-goleiro vive momento conturbado no comando técnico do São Paulo. Ele não afirma de maneira clara quais as suas pretensões. Ceni desconversa sobre um desejo de saída do clube. Repetidamente, o ídolo afirma que a decisão de tirá-lo do comando técnico também pode partir da diretoria, por mais que o comando do clube externe o desejo de continuidade. Um importante aporte financeiro para contratações poderá tornar a situação mais confortável.
Ídolo que é, Ceni não quer deixar qualquer rusga com o torcedor. Por isso, dificilmente o barco será abandonado por decisão exclusivamente dele. Se antes abriria mão da multa contratual em caso de derrota na final da Copa Sul-Americana, na mais recente coletiva, Ceni relembrou que há multa bilateral em seu contrato com o São Paulo. Uma decisão em comum acordo não está descartada para a próxima temporada.
NÚMEROS
Em um ano, Rogério Ceni comandou o São Paulo em 81 partidas, somando 36 vitórias, 22 empates e 23 derrotas, com 114 gols marcados e 86 gols sofridos. O aproveitamento é de 53,5%. A seca de títulos, para Ceni, é vista como um desgosto que pode encurtar sua nova passagem pelo Morumbi. O técnico tem contrato até dezembro de 2023, mas os resultados nos próximos compromissos podem antecipar uma decisão.
O São Paulo agora se prepara para enfrentar o rival Palmeiras no próximo domingo, às 16h, em clássico pela 32ª rodada do Campeonato Brasileiro. A partida será disputada no Allianz Parque.