O Banco Central (BC) revelou que reduziu a chance de cumprir sua tarefa de colocar a inflação dentro dos parâmetros do Conselho Monetário Nacional (CMN) este ano. Por outro lado, essa possibilidade melhorou para 2017, segundo o Relatório Trimestral de Inflação (RTI), divulgado nesta terça-feira, 28.
De acordo com o documento, a chance de estouro do teto da meta em 2016 subiu de 55% para 69%. Já no caso de 2017, passou de 22% para 18%. Estes cálculos foram feitos com base no cenário de referência. No cenário de mercado, a chance de estouro do teto da meta em 2016 aumentou de 65% para 72%, enquanto a de 2017 foi alterada de 33% para 35%.
A meta de inflação deste e do próximo ano é de 4,5%. Para 2016, há uma banda de tolerância de 2 pontos porcentuais, enquanto a de 2017 é de 1,5 ponto porcentual.
No ano passado, ao entregar o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em 10,67%, o BC não cumpriu sua meta e o então presidente Alexandre Tombini teve de escrever uma carta aberta ao então ministro da Fazenda, Nelson Barbosa. Na quinta-feira, 30, o CMN definirá a meta de inflação de 2018 e referendará – ou não – a do ano que vem.
Ajustes
O Banco Central ajustou também suas projeções para a inflação deste e do próximo ano, além de ter apresentado a estimativa para o acumulado em 12 meses até junho de 2018. Segundo o RTI, o IPCA de 2016 ficará em 6,9%, e não mais em 6,6% como constava do documento de março pelo cenário de referência. Para o segundo trimestre deste ano, o IPCA deve ter alta de 8,8%, segundo o RTI. No terceiro, a taxa projetada pelo BC é de 8,2%.
Pelo cenário de mercado, a taxa projetada passou de 6,9% para 7,0%. A expectativa do BC é que o IPCA fique em 8,8% ao final do segundo trimestre e passe para 8,2% no terceiro, como no cenário de referência.
Por estas projeções, o BC não conseguirá levar a inflação para um patamar abaixo do teto de 6,50% estipulado pelo CMN para o ano. No último Relatório de Mercado Focus, a mediana das previsões para o IPCA de 2016 subiu de 7,25% para 7,29%.
Câmbio
A diretoria do Banco Central explicou que as estimativas apresentadas no RTI levaram em conta um câmbio de R$ 3,45 no cenário de referência. O documento teve como data de corte o dia 17 de junho deste ano. A cotação do câmbio é bem menor do que a de R$ 3,90 usada na edição anterior. Nesse dia de corte do RTI, o dólar encerrou os negócios a R$ 3,42.
A conversão também é menor do que a que consta na ata do último Comitê de Política Monetária (Copom) realizado em junho, de R$ 3,60. Nesse encontro, o colegiado voltou a decidir pela manutenção da taxa básica de juros em 14,25% ao ano. No Relatório de Mercado Focus de ontem, as projeções para o dólar ficaram em R$ 3,60 para 2016 e em R$ 3,80 para 2017.
O BC revisou no RTI as estimativas sobre as contas públicas, pra além do já apresentado na última ata. A instituição passou a considerar um déficit primário de 2,60% do Produto Interno Bruto (PIB) para 2016, ante 2,80% da ata. Para 2017, o relatório repetiu a previsão de déficit de 0,90% do PIB.
Preços administrados
Grandes vilões da inflação de 2015, os preços administrados continuarão a apresentar altas, ainda que em proporção bem menor, neste e no próximo ano, de acordo com o RTI. Pelo documento, a taxa para os preços administrados em 2016 mudou de 6,1% do RTI de março para 6,7%%. Na ata do Copom de junho, a estimativa era de 6,8%. Para 2017, a expectativa é de alta de 5,3% ante 5,0% do último RTI e da ata divulgada no início deste mês.
Ao realizar as revisões para os preços administrados deste ano, o BC levou em consideração um reajuste médio de 12,1% nas tarifas de ônibus urbano e a redução de 4,7% nos preços da energia elétrica. Na última ata do Copom, a previsão de queda nas tarifas de energia era de 3,5%.
Pelo Relatório de Mercado Focus de ontem, os preços administrados terão alta de 7,00% em 2016 e de 5,50% no ano que vem.
2018
Pela primeira vez desde março de 2012, o Banco Central projetou uma taxa de inflação abaixo do centro da meta de 4,5% fixada desde 2003. No RTI divulgado nesta terça, a autoridade monetária revisou a projeção para o IPCA acumulado de 12 meses até março de 2018, que passou de 4,5% para 4,4% no cenário de referência. Para o segundo trimestre daquele ano, a projeção é ainda menor, de 4,2%.
Já no cenário de mercado, a expectativa da instituição para o período até março de 2018 passou de 5,0% para 5,5%, mesma estimativa para o IPCA no acumulado de 12 meses até junho daquele ano.
A última vez que um modelo do BC rodou abaixo de 4,5% foi na ata 165 do Copom, que trouxe o detalhamento da reunião do colegiado de 7 de março de 2012. Naquela ocasião, a autoridade monetária informou que sua estimativa estava abaixo do valor central de 4,5% para a inflação de 2012.
Naquele ano, no entanto, o IPCA encerrou em 5,84%. No ano passado, a inflação ficou em 10,67%, estourando, portanto, o teto da meta de 6,50%. Em 2005, foi quando o IPCA encerrou o mais próximo da meta de 4,5%, em 4,46%.