Pouco depois da divulgação do resultado da eleição parlamentar na Venezuela, chanceleres das maiores potências do continente declararam não reconhecer o resultado do pleito realizado nesse domingo, 6, no país sul-americano. O processo eleitoral, que registrou 69% de abstenção após denúncias de fraude e boicote da oposição, apontou vitória do Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV), liderado pelo presidente Nicolás Maduro.
Entre as principais forças geopolíticas do continente, Brasil, Estados Unidos e Canadá afirmaram não reconhecer o resultado da eleição venezuelana horas após a divulgação do resultado final. Os chanceleres dos três países afirmaram que o pleito não garantiu condições livres e justas, com alguns deles reafirmando o discurso da oposição de que o processo foi fraudulento.
Na Europa, o governo do Reino Unido afirmou que não vai reconhecer a eleição "profundamente defeituosa". "Seguimos reconhecendo Juan Guaidó como presidente da Assembleia Nacional e como presidente constitucional interino da Venezuela", escreveu o ministro das Relações Exteriores, Dominic Raab.
O secretário de Estado americano, Mike Pompeo, foi um dos mais enfáticos ao tratar do tema. Em sua conta no Twitter, <a href="https://twitter.com/SecPompeo/status/1335672345894268938" target=_blank><u>Pompeo afirmou</u></a> que "a fraude eleitoral na Venezuela" já havia sido cometida.
"A fraude eleitoral da Venezuela já foi cometida. Os resultados anunciados pelo regime ilegítimo de Maduro não refletirão a vontade do povo venezuelano. O que está acontecendo hoje é uma fraude e uma farsa, não uma eleição", escreveu.
O tom crítico do responsável pela política externa do governo de Donald Trump foi seguido pelo ministro das Relações Exteriores do Brasil, Ernesto Araújo. O <a href="https://twitter.com/ernestofaraujo/status/1335782410554908673" target=_blank><u>chanceler afirmou</u></a> que o processo era uma tentativa de Maduro de se legitimar, o que só funcionaria "aos olhos daqueles que apreciam ou toleram a ditadura e o crime organizado". Araújo também destacou o baixo comparecimento dos eleitores e classificou o pleito como uma "farsa eleitoral".
Apesar de também não reconhecer o resultado das eleições, a abordagem do ministro das Relações Exteriores do Canadá, François-Philippe Champagne, foi mais sutil e evitou usar as palavras "fraude" ou "farsa". Em vez disso, o <a href="https://twitter.com/FP_Champagne/status/1335743321017290753" target=_blank><u>chanceler justificou</u></a> que a eleição não reuniu o mínimo de condições para um "livre e justo" exercício da democracia.
"O Canadá não reconhece os resultados do processo eleitoral de 6 de dezembro da Venezuela porque o processo não atendeu às condições mínimas para um exercício livre e justo da democracia. Eleições livres e justas só podem ocorrer quando as regras democráticas são totalmente respeitadas. Continuamos pedindo uma transição democrática pacífica e por eleições presidenciais livres e justas. O Canadá sempre estará ao lado do povo da Venezuela em sua luta para restaurar a democracia", diz um posicionamento compartilhado pelo próprio Champagne em seu Twitter.
De acordo com o boletim divulgado pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE), a aliança do Grande Polo Patriótico, apoiada pelo presidente Nicolás Maduro, obteve 67,7% dos 5,2 milhões de votos apurados., enquanto o setor de oposição que rompeu um boicote liderado por Juan Guaidó obteve 18%. Ainda não se especificou quantos dos 277 assentos correspondem a cada sigla.
<b>Oposição fala em fraude consumada</b>
Uma das razões para a alta abstenção na eleição parlamentar desse domingo foi o boicote promovido pela oposição, liderada por Juan Guaidó, que detinha maioria na Assembleia Nacional. As principais figuras contrárias ao presidente Nicolás Maduro e ao chavismo já vinham denunciando o processo como ilegítimo antes do dia de votação. Após o resultado, afirmaram se tratar de "uma fraude consumada".
Guaidó foi um dos se manifestar após o fechamento das urnas. Durante todo o domingo, o "presidente autoproclamado" da Venezuela ficou ativo nas redes sociais, comentando as irregularidades do pleito e republicando postagens críticas às eleições e a Maduro. Depois da votação concluída, o oposicionista se pronunciou por meio de um vídeo, no qual afirma, entre outras coisas, que o processo era uma nova fraude promovida pelo chavismo.
"A cada fraude que cometeram, só incrementaram a crise, a pressão e o isolamento internacional contra quem cometeu as fraudes hoje", disse. E completou: "Extorquem a um povo com fome, dizendo que quem não vota não come, porque sabem que jamais ganhariam uma eleição livre."
<a href="https://twitter.com/jguaido/status/1335743349672845313" target=_blank><u>Guaidó ainda convocou</u></a> o povo a sair às ruas no dia 12 de dezembro para "expressar a maioria e a vontade popular".
Outro opositor histórico do chavismo, Leopoldo López apontou o nível de abstenção nas urnas como um indicador da decadência do governo de Maduro. Ex-preso político do regime de Maduro, López também classificou o processo eleitoral como "uma armadilha, uma farsa".
"Ficou muito claro, nosso povo e a comunidade internacional sabem disso: hoje não é uma eleição, mas uma FRAUDE, uma armadilha, uma farsa. A solidão que estamos vendo nas ruas da Venezuela é o reflexo de uma ditadura decadente sem povo. Não pode ser uma eleição um processo que se dá com partidos políticos sequestrados, com líderes inabilitados, presos e exilados; sem um árbitro legítimo e nem observadores eleitorais confiáveis; e com uma ditadura que ameaça dizendo quem não vota, não come."
<a href="https://twitter.com/leopoldolopez/status/1335631894155845636" target=_blank><u>López concluiu</u></a>: "Ante essa realidade, nós venezuelanos não nos resignamos nem ficamos de braços cruzados. Estamos decididos a fazer o necessário para que nosso país possa superar a ditadura e alcançar a liberdade. Não há descanso nem pausa nesta luta."
Por fim, Henrique Capriles, que disputou a presidência do país em 2012 e 2013 – sendo derrotado por Hugo Chávez e Nicolás Maduro, respectivamente – afirmou que, no domingo, as filas para conseguir alimentos e gasolina eram maiores do que as filas nos colégios eleitorais.
"Hoje, nós, venezuelanos, e o mundo fomos testemunhas de um processo pelos interesses do PSUV e o rechaço do país foi evidente e contundente. Pouca ou nenhuma participação é o testemunho do nosso povo que não se submete à chantagem", <a href="https://twitter.com/hcapriles/status/1335713039232929792" target=_blank><u>escreveu Capriles</u></a>.
"Agora quem perde hoje? O país perde, que verá se agravar uma crise política, econômica e social que já é trágica para a maioria dos venezuelanos. O show de hoje não vai resolver a situação de milhões de crianças e avós que precisam de ajuda no país. Tampouco a resposta dos setores democráticos pode ser o monitoramento de um fracasso que sabíamos que ocorreria ou apelos à mobilização sem soluções tangíveis. No meio dessas posições está a grande maioria que aguarda atenção urgente para seus problemas".