Crítico prestigiado – foi redator-chefe de Cahiers deu Cinéma -, o francês Charles Tesson ocupa hoje outra posição importante. É o delegado da Semana da Crítica do Festival de Cannes. Isso significa que é o curador de uma mostra paralela que, nos últimos anos, tem sido vitrine para a descoberta de novos talentos, inclusive do cinema brasileiro. Tesson participa como jurado do 3º BIFF, Brasília International Film Festival. Ele também teve um encontro – com estudantes e profissionais da área para responder a uma pergunta que muito jovem deve se fazer. Considerando-se que a seleção da Semana é voltada por novos diretores, o que se deve fazer para ser selecionado?
“O melhor que posso dizer é que os pretendentes evitem aquilo que, em geral, se considera a fórmula da Semana. Se o filme tem muito a cara da seção, a tendência é deixá-lo de fora. A melhor indicação para os novos diretores é: sejam originais.” Filmes autorais, quase sempre pequenos. “Há hoje uma tendência entre os jovens de reproduzir, criticamente, o cinema de gênero. Isso é atraente, mas não garante lugar na seleção para ninguém. Na verdade, não existem cotas na Semana. Não nos sentimos obrigados a exibir filmes de todos os continentes a cada ano. Num ano, podemos ter um ou dois filmes da América Latina, da Ásia e, no outro, não ter nenhum. No momento, há um interesse pelos novos talentos europeus, porque a crise econômica tem levado os autores, principalmente os mais jovens, a ter de reinventar tudo, até formas de produção.”
Colaboradores de Tesson visitam regularmente a Mostra de Tiradentes, que, principalmente por meio da Aurora, firmou-se como o grande centro de exibição e discussão do cinema de jovens autores. “Nunca fui a Tiradentes, mas ouço sempre que o clima da mostra é acolhedor e os jovens autores são muito articulados em defesa de suas propostas. Temos levado alguns desses novos para a Semana, e não apenas longas. Os curtas, também.” A Semana integra-se ao Festival de Cannes, mas não participa da seleção oficial, formada pela competição e pela mostra Un Certain Regard. Há grande expectativa pelo que deve ocorrer em Cannes, após a saída de Gilles Jacob. O deste ano foi seu último festival como presidente, já que, como ele diz, “não queria morrer no palco”. Isso pode colocar em perigo seu delfim, Thiérry Frémaux, que faz a seleção oficial.
“Pierre Lescure está assumindo com um discurso contemporizador. Um dos fundadores de Canal Plus, ele virou uma referência de produção na França e no mundo. É evidente que, com o tempo, vai imprimir sua marca e fará mudanças, como o próprio Gilles fez, mas não creio que isso vá ocorrer imediatamente. O festival tem uma estrutura muito operante e Thiérrry há tempos se distanciou da sombra de Gilles para alçar voo próprio. Ele tem estado sob fogo cruzado”, observa. “Muita gente critica a seleção oficial, mas Cannes é o maior festival do mundo e isso é normal. Algo terá de mudar, é certo, mas Pierre (Lescure) ainda não fez nenhum movimento para sinalizar o quê. Nós, da Semana, temos autonomia em relação a ele, embora estejamos interligados. E Gilles permanece num cargo honorífico e na presidência da Cinéfondation. Por sua natureza, destinada a desenvolver e estimular novos talentos, novas oportunidades, a Cinéfondation é próxima em espírito da Semana.”
Na visão de Charles Tesson, como foi o Festival de Cannes deste ano? Algum grande filme que o tenha encantado particularmente? “Gostei muito do novo David Cronenberg, Maps to the Stars, vendido como um filme sobre Hollywood, mas que é mais complexo. O próprio David o compara a O Lobo de Wall Street (de Martin Scorsese). É um filme sobre competição e dinheiro, sobre o culto do sucesso.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.