O torcedor do Atlético de Madrid que vai ao Wanda Metropolitano, localizado na periferia da capital espanhola, vê ao lado do estádio de sua equipe um edifício inacabado, com suas colunas e vigas expostas e as paredes pichadas. Ali funcionaria um centro aquático, mas suas obras, que tiveram um custo estimado de 100 milhões de euros, foram paralisadas ainda em 2010. O prédio é um dos tantos cadáveres olímpicos que ficaram como legado das sucessivas candidaturas fracassadas apresentadas pela cidade nas últimas duas décadas. Madri tentou sediar os Jogos Olímpicos de 2012, 2016 e 2020, edições que foram realizadas, respectivamente, em Londres, Rio e Tóquio – esta adiada de 2020 para 2021 em razão da pandemia da covid-19.
Apesar dos consecutivos insucessos, a administração municipal da cidade espanhola não descarta apresentar novas candidaturas. O plano olímpico, entretanto, tem passado por uma revisão de metas para que os espanhóis possam, enfim, assistir ao evento novamente em seu país, como aconteceu em 1992, em Barcelona. "Preciso confessar que sediar os Jogos Olímpicos está sempre em minha mente, sempre, mas precisamos de tempo e também trazer grandes eventos esportivos para a cidade", diz Sofía Miranda, vereadora e delegada de Esporte da Prefeitura de Madri.
"Eu estudei as três candidaturas anteriores. Não sei como ser politicamente correta, mas a últimas Olimpíada, em Tóquio, ainda bem que ficamos fora dessa. Se Madri quiser sediar os Jogos Olímpicos, é uma caminhada longa. Nos últimos oito ou dez anos, a cidade não sediou nenhum torneio internacional ou europeu. Então, primeiro, você precisa receber esses eventos. Por isso o nosso foco em trazê-los. Mas precisamos de tempo", afirma.
Miranda, que é vereadora-presidente do distrito de Barajas pelo partido Ciudadanos, atende a reportagem em um dos camarotes da Caja Mágica, complexo de tênis da cidade, minutos depois de o espanhol Carlos Alcaraz superar o sérvio Novak Djokovic na semifinal do Masters de Madri. Alcaraz venceria o torneio ao bater, na decisão, o alemão Alexander Zverev.
Em 2022, Madri recebeu o selo de "Capital Mundial do Esporte" pela ACES Europa (Associação das Capitais e Cidades Europeias do Esporte), uma associação sem fins lucrativos com sede em Bruxelas que designa, desde 2019, o título simbólico como forma de incentivar as políticas esportivas a serem desenvolvidas por cidades espalhadas pelo mundo. Antes de Madri, foram contempladas Abu Dhabi (2019) e Guadalajara (2020/2021).
O selo ajudará a promover o esforço que a capital espanhola quer mostrar para atrair grandes eventos esportivos. Neste ano, com um orçamento para o esporte 25% maior que o de 2021 (33 milhões de euros comparado com os 27 milhões do ano anterior), a cidade já recebeu o Campeonato Europeu de Badminton, disputado em abril, e sediará o World Athletics Indoor Tour e o Congresso Mundial do Esporte, além de outras competições locais.
Um dos caminhos que a administração esportiva de Madri pretende seguir é o de fomento aos esportes radicais. O skate, principalmente, foi um sucesso nos Jogos de Tóquio em sua estreia no programa olímpico e se transformou em um importante ativo para o COI no rejuvenescimento do público que assiste às Olimpíadas.
No início deste mês, a capital espanhola organizou o Madrid Urban Sports, evento que reuniu disputas de skate, BMX, basquete 3 x 3 e breakdance, que será novidade no programa dos Jogos de Paris, em 2024. "(O Urban Sports) É um evento muito importante. Por quê? Porque reforça a importância de apostar e investir nos mais jovens. Quando entramos na administração em 2019, percebemos que não havia nenhuma oferta esportiva a eles. E o futuro do esporte está com os mais jovens", diz Sofía Miranda.
Com a prioridade voltada ao recebimento de eventos internacionais e a consequente repercussão gerada por esses campeonatos, Madri precisará resolver o que fazer com seus esqueletos olímpicos, herança das candidaturas falhadas. A própria Caja Mágica, que celebrou o título de Carlos Alcaraz no Masters há algumas semanas, é considerada uma instalação subutilizada, que recebe basicamente o torneio de tênis e raros eventos não esportivos. O custo para colocá-la de pé, porém, foi alto: 294 milhões de euros.
Nos arredores do Wanda Metropolitano, o inacabado Centro Aquático é a única das obras previstas para aquela região que chegou a ser iniciada. Recentemente, a federação nacional de esportes aquáticos propôs a finalização parcial do complexo, com a inauguração da arena de polo aquático e uma piscina para uso público. Além do centro, o plano inicial para o local era a construção também da vila olímpica.
Outra obra destinada ao programa olímpico e que ficou pelo caminho foi o canal de águas bravas de La Gavia. Arquitetada pelo japonês Toyo Ito, vencedor do conceituado prêmio Pritzker de Arquitetura, a obra recebeu um orçamento de 18 milhões de euros e chegou a ser iniciada, mas nunca finalizada.