O que mais chama atenção neste momento da
vida nacional é a dificuldade – às vezes apresentada como impossibilidade – de
se estabelecer uma interlocução entre quem detém o poder político e grande
parte do eleitorado capaz de dar legitimidade àquele poder.
Uma parcela expressiva do eleitorado está,
hoje, nas ruas de dezenas de cidades do país, para defender o atendimento de
suas reivindicações. Mas há um desencontro entre tais instâncias quando, numa
democracia, deveria naturalmente se estabelecer um diálogo com o objetivo de
atender àquelas reivindicações, pois a parcela da população que as apresenta se
tornou a mais esclarecida, através da Educação formal, como mostram pesquisas
recentes. Além disto, é uma parcela formada por pessoas que trabalham e pagam
impostos, os quais servem também para manter a atual estrutura social do país.
Tal desencontro gera uma impressão de vácuo
– ou espaço vazio – dentro da nossa estrutura
social, capaz de ameaçar sua estabilidade. É óbvio que alguma muitos
brasileiros não querem mais dentro de nossa organização social. E isto, parece
claro, se relaciona com a qualidade de nossos representantes nas Câmaras, Assembleias, no Congresso
Nacional e no Poder Executivo. Uma qualidade que foi deteriorada pelos vícios
que geraram no nosso processo eleitoral as interferências de grupos econômicos,
a exploração da ingenuidade de eleitores menos escolarizados, o fisiologismo e a
exploração inescrupulosa da fé religiosa.
Neste momento, nada que venha dos políticos
como reação positiva às manifestações de ruas parece convincente ou
aceitável. Pois, embora as
reivindicações dos manifestantes apontem para males instalados em variados
aspectos da vida nacional – como os da mobilidade urbana, da educação, da saúde
etc – subjacente a elas há um profundo enjoo – para não escrever nojo – de
todos os nossos representantes. Nestas circunstâncias não surpreende que a
única proposta da presidente Dilma capaz de interessar os manifestantes tenha
sido a de ampliação das penas impostas pela Justiça à corrupção política, com o
enquadramento dela nos casos de crimes hediondos.
Ninguém duvide, os brasileiros estão fartos
da tragédia que se abate diariamente sobre eles, a da “política de esgoto”, denominada
de “Siltarumpupolitiikka” na Finlândia, como
lembrou o jornalista Hélio Schwartsman, em outubro de 2011, quando
manifestações de ruas semelhantes começaram a surgir nos Estados Unidos, na
Grécia, na Espanha e na Inglaterra.