Mundo das Palavras

Chico Buarque no escritório do pai

Sérgio Buarque de Holanda, pai de Chico, fora de sua casa, era aberto ao mundo. Pertencia ao reduzido grupo de “grandes intérpretes do Brasil”. Seus livros – Raízes do Brasil, Visão do Paraíso, Monções e Caminhos e Fronteiras – mereceram prêmios como Governador do Estado de São Paulo, Juca Pato, Jabuti. E, colocaram-no em cargos de prestígio: Professor Catedrático da USP. Diretor: do Instituto de Estudos Brasileiros, da Associação Brasileira de Escritores, da Biblioteca Nacional, do Instituto Nacional do Livro, do Museu Paulista. 
 
Estas obras, depois de traduzidas para idiomas estrangeiros, projetaram-no no Exterior. Na Alemanha, Sérgio colaborou com a revista "BrasilianischeRundschau". Na França, fez palestras na Université Paris-Sorbonne. No Chile, nos Estados Unidos e na Itália, foiprofessor-visitante de universidades. No Peru e na Costa Rica, serviu em missões culturais da UNESCO.
 
Mas, seus livros Sérgio tinha de produzir em casa. E, para isto, dentro dela, ficava fechado em seu escritório. Isolando-se, por muitas horas, de sua família, a esposa Maria Amélia de Carvalho Cesário Alvim e sete filhos: Sérgio, Álvaro, Maria do Carmo,Ana de Hollanda, Cristina Buarque, Heloísa Maria (Miúcha) e Chico Buarque. Todos crianças.A quem os adultos da casa ensinavam a respeitar a necessidade de retraimento de Sérgio. 
 
Chico só obteve autorização para penetrar no refúgio do pai aos 15 anos. Era 1959. Faltava um triênio para Sérgio se tornar sexagenário. Sobre sua conquista de acesso ao escritório do pai, Chico falou, dezesseis anos depois da morte de Sérgio, ocorrida em 1982. Quando, já cinquentenário, foi entrevistado por Caros Amigos. A seguir, trechos de sua entrevista.   
 
“Eu gostaria de ter o meu pai vivo. Sinto falta dele. Quando termino um livro, ele seria a primeira pessoa a quem eu mostraria. Mas só fui tomar conhecimento da sua importância intelectual já homem feito. Criança, não sabia exatamente o que meu pai tanto fazia naquele escritório. Porém, quando comecei a escrever literatura, era com meu pai que eu dialogava. Tive acesso àquele escritório através da senha da literatura. Levei os meus primeiros escritos. E ele, apesar de eu ser um garoto de quinze anos, me estimulou a escrever. Claro, criticando. Dizendo: "Você tem de ler mais", mas me levando a sério. O primeiro conto que publiquei no suplemento do Estado de S. Paulo foi ele quem encaminhou ao Décio de Almeida Prado. Na escrita dele existe um rigor formal que até hoje procuro não desmerecer quando faço literatura”. 
 
 

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