Mundo das Palavras

Chico Buarque quando encontrou Jacques Brel

Chico sempre apontou o belga Jacques Brel como o artista de sua preferência. Por isto, mal pôde acreditar quando, em 1967, viu-o a seu lado, no estúdio da RGE, no Rio de Janeiro, enquanto gravava “Carolina”. 
 
Chico tinha 23 anos de idade e Brel, aos 38, morava na França. Sua música “Ne me quiette pas”  alcançou êxito mundial. Mas, naquele ano, o artista deixou seus inúmeros admiradores perplexos, ao decidir não mais cantar em palcos.  
 
Chico, também começava a ter dias intensos.  Aos 15 anos tinha criado sua primeira composição, “Canção dos olhos”. E, aos 20, três anos antes do encontro com Brel, quando no Brasil ocorreu o Golpe Militar de 1964, ele inseriu preocupações sociais na letra da primeira música que conseguiu gravar, na voz de Maricene Costa, “Marcha para um dia de sol”. “Eu quero ver um dia, numa só canção, o pobre e rico, andando mão e mão. Que nada falte, que nada sobre. O pão do rico e o pão do pobre”. Estas preocupações levaram Chico a, naquele ano, também a aceitar o desafio de musicar o poema Morte e Vida Severina, de João Cabral de Melo Neto, cuja encenação em São Paulo atraiu enorme público, e, depois, foi aquinhoada com prêmios de críticos e público, em Nancy, cidade da terra onde Brel vivia. Mas deixaram Chico na mira do Serviço de Censura da Polícia Federal. Aos 21 anos, ele teve uma canção sua interditada, “Tamandaré”. E ela permaneceu sem liberação durante mais de um quarto de século. Motivo: a referência à imagem do almirante nas cédulas de um cruzeiro: “Meu marquês de papel, cadê teu troféu? Cadê teu valor?”. 
 
Naquele período, Chico enfrentou também obstáculo de ordem pessoal, um medo de parecer ridículo em público.  Que o atingiu quando Elis Regina – um ano mais jovem que ele – quis arrastá-lo no impulso dado à carreira dela pela vitória, como intérprete, no Festival de Música Popular Brasileira da TV Excelsior. Elis pretendeu incluir música de Chico nas suas novas gravações exigidas pelo mercado fonográfico. Porém, Chico se mostrou tão relutante no momento em que deveria cedê-la que ela desistiu de contar com ele.  
 
No ano seguinte, 1966, surgiu-lhe a compensão. Chico inscreveu “A banda” no festival de música da TV Record. E, a música, apresentada por Nara Leão, foi a vencedora, junto com “Disparada”, de Geraldo Vandré. 
 
No mesmo ano, Chico se casou com Marieta Severo. Iria viver com ela durante 33 anos e ter suas filhas Sílvia, Helena e Luísa.
 

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